Tireoidite linfocítica - Repositório Aberto da Universidade do Porto
Tireoidite linfocítica - Repositório Aberto da Universidade do Porto
Tireoidite linfocítica - Repositório Aberto da Universidade do Porto
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ma-se <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> por Harland e colab (123), mas<br />
é inferior aos valores aponta<strong>do</strong>s por vários outros<br />
autores (137, 187, 194, 308).<br />
Deve-se notar que a divergência entre<br />
os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s por diferentes autores torna<br />
difícil a comparação <strong>da</strong>s respectivas séries. Na<br />
revisão efectua<strong>da</strong> por Thomas e colab (308), por<br />
exemplo, pode-se verificar que, em tireoidectomias<br />
por "bócio nodular", a tireoidite <strong>linfocítica</strong> é<br />
referi<strong>da</strong> em percentagens que vão desde 1 % a<br />
339á. E evidente que resulta<strong>do</strong>s tão diferentes<br />
derivam, pelo menos em parte, <strong>do</strong> interesse <strong>do</strong>s<br />
autores pela tireoidite linfocrtica e <strong>do</strong>s critérios<br />
utiliza<strong>do</strong>s no seu diagnóstico, e não são, portanto,<br />
susceptíveis de ser utiliza<strong>do</strong>s em comparações<br />
fiáveis.<br />
Do mesmo mo<strong>do</strong> que no material cirúr<br />
gico, a prevalência <strong>da</strong> tireoidite <strong>linfocítica</strong> que<br />
encontrámos em glândulas tireoideias de necrópsias<br />
(1,99á) é inferior à aponta<strong>da</strong> por outros autores<br />
(34, 126, 218, 312, 331). Cremos que a razão para<br />
este facto (menor prevalência <strong>da</strong> tireoidite linfocí<br />
tica nas peças cirúrgicas e em glândulas tireoideias<br />
de necrópsias) está nos critérios que utilizámos<br />
para o diagnóstico de tireoidite <strong>linfocítica</strong>. Efecti<br />
vamente, ao não considerarmos como tireoidite<br />
<strong>linfocítica</strong> as situações com infiltra<strong>do</strong> linfóide<br />
mínimo, teremos seguramente excluí<strong>do</strong> alguns<br />
casos. Pensamos, no entanto, que actuámos correc<br />
tamente já que, como demonstram os resulta<strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de Mitchell e colab (218), não há evidência<br />
de associação de anticorpos anti-tireoideus com<br />
infiltra<strong>do</strong> linfóide mínimo na glândula tireoideia.<br />
Os nossos resulta<strong>do</strong>s permitem ain<strong>da</strong><br />
concluir que a frequência <strong>da</strong> tireoidite <strong>linfocítica</strong><br />
nas peças de tireoidectomia não variou ao longo<br />
<strong>do</strong> tempo. Esta indicação, que concor<strong>da</strong> com a<br />
de Lindsay e colab (187), diverge contu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />
resulta<strong>do</strong>s de Macksood e colab (194). Persiste,<br />
pois, a dúvi<strong>da</strong> sobre este facto, quan<strong>do</strong> considera<strong>do</strong><br />
em termos globais, já que têm si<strong>do</strong> observa<strong>da</strong>s<br />
algumas variações temporais em áreas geográficas<br />
bem determina<strong>da</strong>s (100, 130).<br />
E inquestionável que a tireoidite linfocí<br />
tica é mais frequente no sexo feminino, embora<br />
os valores aponta<strong>do</strong>s para a razão entre os <strong>do</strong>is<br />
sexos variem não só com os autores, mas também<br />
consoante a natureza <strong>do</strong> material sobre que incidiram<br />
os estu<strong>do</strong>s. Verificou-se, contu<strong>do</strong>, de um mo<strong>do</strong><br />
constante, que as frequências mais eleva<strong>da</strong>s no<br />
sexo feminino são obti<strong>da</strong>s nas tireoidites <strong>linfocítica</strong>s<br />
diagnostica<strong>da</strong>s em peças de tireoidectomia. Nestas<br />
situações, os valores <strong>da</strong> razão F:M vão de 14:1<br />
a 99:1 (100, 187, 194, 333), enquanto nas observações<br />
em material necrópsico esses valores oscilam entre<br />
1,9:1 e 1,2:1 (28, 125, 218, 341).<br />
Os nossos resulta<strong>do</strong>s, estan<strong>do</strong> em acor<strong>do</strong><br />
com estas informações <strong>da</strong> literatura, realçam ain<strong>da</strong><br />
mais o pre<strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> tireoidite <strong>linfocítica</strong> no sexo<br />
feminino nos casos de material cirúrgico (F:M =<br />
148:1).<br />
A este propósito, é ain<strong>da</strong> conveniente<br />
realçar uma outra diferença entre a tireoidite<br />
<strong>linfocítica</strong> diagnostica<strong>da</strong> em peças cirúrgicas e<br />
a que se encontra em glândulas tireoideias de necró<br />
psias. Enquanto na primeira situação o quadro clínico<br />
(geralmente bócio difuso ou nodular) é exuberante<br />
e justifica a intervenção cirúrgica, a tireoidite<br />
<strong>linfocítica</strong> diagnostica<strong>da</strong> no exame necrópsico<br />
caracteriza-se normalmente por uma evolução<br />
subclínica*<br />
A maior susceptibili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> sexo femi<br />
nino para a tireoidite <strong>linfocítica</strong> não é ain<strong>da</strong> bem<br />
compreendi<strong>da</strong>. Sabe-se que a regulação <strong>do</strong> sitema<br />
imune está primordialmente dependente de genes<br />
<strong>do</strong> sistema "major" de histocompatibili<strong>da</strong>de (23, 25,<br />
61, 138, 207, 279, 323) localiza<strong>do</strong>s no braço curto<br />
<strong>do</strong> cromossoma 6 (279, 323). Outros genes, porém,<br />
poderão influenciar o sistema imune, sen<strong>do</strong> possível<br />
que alguns genes tenham relação com o cromossoma<br />
X (265). E possível que se associem a esta maior<br />
susceptibili<strong>da</strong>de genética <strong>do</strong> sexo feminino<br />
condicionantes hormonais, como baixos níveis de<br />
testosterona, tornan<strong>do</strong> o sistema imune mais<br />
"permissivo" (4, 227, 266).<br />
Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s epidemiológicos que atrás<br />
referimos mostram que nem to<strong>da</strong>s as pessoas predis<br />
postas para o desenvolvimento de tireoidite linfocí<br />
tica apresentam um quadro clínico suficientemente<br />
saliente para exigir adequa<strong>do</strong> tratamento médico<br />
ou cirúrgico. Porém, quan<strong>do</strong> este se desenvolve,<br />
é quase sempre no sexo feminino que isso acontece.<br />
Conforme já expusemos, na tireoidite<br />
<strong>linfocítica</strong> existem alterações, nomea<strong>da</strong>mente<br />
88