Tireoidite linfocítica - Repositório Aberto da Universidade do Porto
Tireoidite linfocítica - Repositório Aberto da Universidade do Porto
Tireoidite linfocítica - Repositório Aberto da Universidade do Porto
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Estas situações que acabámos de expor<br />
evidenciam que entre a tireoidite linfocftica e<br />
a <strong>do</strong>ença de Craves a fronteira não é tão nfti<strong>da</strong><br />
como habitualmente se supõe. Mas existem ain<strong>da</strong><br />
outras características que aproximam estas duas<br />
enti<strong>da</strong>des, para além <strong>da</strong>s referi<strong>da</strong>s manifestações<br />
clínicas.<br />
Os <strong>do</strong>entes com tireoidite linfocftica<br />
ou <strong>do</strong>ença de Graves apresentam, quase sempre,<br />
títulos altos de anticorpos anti-tireoideus comuns<br />
às duas situações, nomea<strong>da</strong>mente anticorpos contra<br />
a tireoglobulina e contra antigénios microssomais<br />
(36, 70, 77, 239, 240, 319). Na <strong>do</strong>ença de Graves<br />
o "LATS" apenas é demonstrável em cerca de<br />
6096 <strong>do</strong>s casos e não parece ter relação com o<br />
esta<strong>do</strong> funcional (164, 211), mas em 80-90% <strong>da</strong>s<br />
situações encontram-se outras imunoglobulinas<br />
estimulantes (84,211,222,232,296,301). Estas<br />
imunoglobulinas estimulantes não são, porém,<br />
exclusivas <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença <strong>da</strong> Graves, pois também<br />
se detectam em alguns casos de tireoidite linfocftica<br />
(37, 81, 84, 89, 234, 240, 322).<br />
A tireoidite linfocftica pode apresentar<br />
um padrão morfológico pre<strong>do</strong>minantemente hiper-<br />
plástico, assim como na <strong>do</strong>ença de Graves pode<br />
haver transformação oxifflica e infiltra<strong>do</strong> linfóide<br />
com centros germinativos. O infiltra<strong>do</strong> linfóide,<br />
no que se refere às suas características citoquímicas<br />
(presença de imunoglobulinas intracitoplasmáticas),<br />
é também idêntico na tireoidite linfocftica e na<br />
<strong>do</strong>ença de Graves. Esta sobreposição de caracterís<br />
ticas morfológicas está bem evidencia<strong>da</strong> no estu<strong>do</strong><br />
efectua<strong>do</strong> por Levitt (185), onde se mostrou<br />
que, em fases tardias de evolução <strong>do</strong> bócio tóxico,<br />
existem aspectos morfológicos sugestivos de<br />
tireoidite linfocftica.<br />
Algumas caracterfsticas ultrastruturais,<br />
nomea<strong>da</strong>mente na zona <strong>da</strong> interface epitélio-inters-<br />
tfcio, são também comuns à tireoidite linfocftica<br />
e à <strong>do</strong>ença de Graves, como o nosso estu<strong>do</strong> demons<br />
trou. Salientamos os "depósitos" de tipo imuno-<br />
-complexo, junto <strong>da</strong> lâmina basal <strong>da</strong>s células tireoi-<br />
deias, que na tireoidite linfocftica têm si<strong>do</strong> muito<br />
valoriza<strong>da</strong>s por poderem participar na patogénese<br />
<strong>da</strong> <strong>do</strong>ença (5, 203, 297), mas que na <strong>do</strong>ença de<br />
Graves são subestima<strong>do</strong>s.<br />
Os estu<strong>do</strong>s epidemiológicos apontam<br />
também para uma relação estreita entre a tireoidite<br />
linfocftica e a <strong>do</strong>ença de Graves. Efectivamente,<br />
em membros <strong>da</strong> famflia de <strong>do</strong>entes com tireoidite<br />
linfocftica surgem manifestações de <strong>do</strong>ença de<br />
Graves, e vice-versa (239), assim como em fami<br />
liares assintomáticos têm si<strong>do</strong> detecta<strong>do</strong>s anticorpos<br />
anti-tireoideus mais frequentemente que na popula<br />
ção em geral (19, 36).<br />
As questões que acabámos de expor<br />
permitem reconhecer várias situações que se afastam<br />
<strong>da</strong>s formas tfpicas de tireoidite linfocftica e de<br />
<strong>do</strong>ença de Graves. Sem entrar na controvérsia<br />
de saber se a exoftalmia é, ou não, uma <strong>do</strong>ença<br />
auto-imune que se pode individualizar <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença<br />
de Graves (12, 263, 288), pretendemos destacar<br />
as seguintes situações possíveis:<br />
— <strong>Tireoidite</strong> linfocftica com exoftalmia<br />
(36, 234, 239).<br />
— <strong>Tireoidite</strong> linfocftica com hipertireoidismo<br />
sem relação com estimulação por TSH<br />
(234).<br />
— Doença de Graves sem exoftalmia (211).<br />
— Doença de Graves com hipertireoidismo<br />
mas sem bócio (211).<br />
— Doença de Graves com eutireoidismo<br />
(12, 211, 263, 282, 288).<br />
— Doença de Graves com hipotireoidismo<br />
("55;.<br />
Para a interpretação destes quadros<br />
podem ser admiti<strong>da</strong>s fun<strong>da</strong>mentalmente duas<br />
hipóteses:<br />
1. Coexistência de duas enti<strong>da</strong>des<br />
tireoideias distintas, com acumulação ou anulação<br />
de alguns <strong>do</strong>s seus efeitos. Esta hipótese foi defen<br />
di<strong>da</strong> nomea<strong>da</strong>mente por Solomon e colab (288)<br />
para explicar o eutireoidismo em <strong>do</strong>entes com<br />
<strong>do</strong>ença de Graves: o esta<strong>do</strong> de hiperfunção depen<br />
dente <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença de Graves era compensa<strong>do</strong> pela<br />
tendência ao hipotireoidismo determina<strong>do</strong> pela<br />
tireoidite linfocftica.<br />
2. Existência de apenas uma <strong>do</strong>ença<br />
tireoideia, ten<strong>do</strong> subjacente uma resposta auto-<br />
-imune policlonal, responsável por diversos efeitos,<br />
alguns antagónicos, na glândula tireoideia (81).<br />
A análise destas duas hipóteses dirige-<br />
-nos, como é evidente, para o campo <strong>da</strong> patogénese<br />
<strong>da</strong>(s) <strong>do</strong>ença(s) auto-imune(s) <strong>da</strong> glândula tireoideia.<br />
92