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game of trohnes!

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194<br />

— Não — resmungou — nããããão. — Os seus calcanhares procuraram<br />

na palha quando tentou se empurrar para o canto, para dentro das paredes frias e<br />

úmidas de pedra.<br />

O som da tranca girando foi o mais terrível de todos. Quando a luz<br />

atingiu-o em cheio na cara, soltou um guincho. Teve de cobrir os olhos com as<br />

mãos. Podia tê-los arrancado com as unhas se se atrevesse, de tanto que a cabeça<br />

doía.<br />

— Leve-a daqui, faça no escuro, por favor, oh por favor.<br />

— Aquilo não é ele — disse uma voz de rapaz. — Olha para ele.<br />

Temos a cela errada.<br />

— Última cela da esquerda — respondeu outro rapaz. — Esta é a<br />

última cela da esquerda, não é?<br />

— Sim. — Uma pausa. — O que ele está dizendo?<br />

Acho que não gosta da luz.<br />

— E você gostaria, se tivesse aquele aspecto? — o rapaz puxou um<br />

escarro e cuspiu-o. — E o fedor que tem. Ainda sufoco.<br />

— Tem andado comendo ratazanas — disse o segundo rapaz. — Olha.<br />

O primeiro rapaz riu.<br />

— Pois é. É engraçado.<br />

Tinha que comê-las. As ratazanas o mordiam quando dormia, roendo<br />

seus dedos das mãos e dos pés, roendo mesmo a cara, por isso quando conseguira<br />

apanhar uma não hesitara. Comer ou ser comido, eram essas as únicas<br />

alternativas.<br />

— É verdade — resmungou — é verdade, é mesmo, comi, elas me<br />

fazem o mesmo, por favor...<br />

Os rapazes aproximaram-se mais, esmagando suavemente a palha sob<br />

os seus pés.<br />

— Fala comigo — disse um deles. Era o menor dos dois, um rapaz<br />

magro, mas esperto. — Se lembra de quem é?<br />

O medo se ergueu a borbulhar dentro dele, e gemeu.<br />

— Fala comigo. Diga-me o seu nome.<br />

O meu nome. Um grito se prendeu na garganta. Eles tinham-lhe<br />

ensinado o seu nome, tinham mesmo, tinham mesmo, mas foi a tanto tempo que<br />

se esquecera. Se o disser errado, ele vai tirar outro dedo, ou pior, vai... vai... Não<br />

queria pensar nisso, não podia pensar nisso. Havia agulhas no seu queixo, nos<br />

olhos. Tinha a cabeça latejando.<br />

— Por favor —-guinchou, com a voz fina e fraca. Soava como se<br />

tivesse cem anos. Talvez tivesse. Há quanto tempo estou eu aqui? — Vai —<br />

resmungou por entre dentes quebrados e dedos quebrados, com os olhos bem<br />

fechados contra a terrível luz brilhante — por favor, pode ficar com a ratazana,<br />

não me faça mal...

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