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FORMIGONI, Maria Lucia Oliveira de Souza. A intervenção ... - Unifesp

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como qualquer grupo terapêutico. Eram pessoas discutindo suas dificulda<strong>de</strong>s na vida<br />

procurando enten<strong>de</strong>r suas vidas mentais e mudar suas vidas no mundo. Este foi um<br />

momento rico e muito satisfatório, talvez também para o próprio terapeuta que se<br />

sentia com mais condições <strong>de</strong> contribuir.<br />

Inferimos <strong>de</strong>ssa experiência duas questões; primeiro que o fato dos<br />

grupos ter diminuído <strong>de</strong> tamanho tenha favorecido o trabalho <strong>de</strong>les e segundo, que<br />

tínhamos passado pela <strong>de</strong>sintoxicação e agora podíamos falar da angústia <strong>de</strong> viver.<br />

Como bem dissemos, estas são inferências nossas que quem sabe, em novas pesquisas<br />

possam ser testadas.<br />

Quando estávamos integrados e discutindo nossas dificulda<strong>de</strong>s já se<br />

aproximava à hora do encerramento do trabalho. Estávamos talvez na 28 a sessão e só<br />

tínhamos mais quatro para nos <strong>de</strong>spedirmos. Tanto os pacientes, como o terapeuta e<br />

os observadores sentiam que o tempo tinha sido curto e que muito ainda teríamos por<br />

fazer. Mas, havíamos assumido um compromisso, havíamos combinado um limite<br />

para o nosso trabalho e mesmo que avaliássemos que ele não havia sido completo nos<br />

colocávamos as seguintes questões:<br />

1) No existe nenhum trabalho psicoterapêutico que se possa dizer completo<br />

no sentido <strong>de</strong> esgotar todas as possibilida<strong>de</strong>s da mente humana. Sempre chegamos a<br />

um ponto que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> muito sucesso, mas a vida continua.<br />

2) É <strong>de</strong> extrema importância que o dito, o contratado, com esses pacientes<br />

seja cumprido. A vida <strong>de</strong>stes pacientes é, pelo relato <strong>de</strong>les próprios, uma seqüência <strong>de</strong><br />

mentiras e confusões. Então, o contrato <strong>de</strong>veria ser mantido no seu final como foi<br />

mantido em todas as suas cláusulas.<br />

Quem será que precisam mais <strong>de</strong> quem? O paciente precisa do<br />

terapeuta ou o terapeuta precisa do paciente? Portanto, sabíamos que esta era a hora<br />

<strong>de</strong> lidarmos com o nosso narcisismo <strong>de</strong> terapeutas. Po<strong>de</strong>mos estar achando que temos<br />

que permanecer com o paciente porque ele, só ele precisa <strong>de</strong> nós.<br />

Posso assegurar que a <strong>de</strong>spedida foi dolorosa para todos nós, mas<br />

que na minha avaliação técnica foi preciosa. Fizemos juntos uns trabalhos e nada<br />

impedia que essas pessoas continuassem isso pela sua vida afora. Mas, sabíamos que<br />

ali elas tinham tido uma experiência, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma instituição pública com a<br />

qualida<strong>de</strong> e o cuidado <strong>de</strong> qualquer consultório particular.<br />

Quem sabe, outras instituições públicas possam estar lendo este<br />

trabalho e tenham o cuidado <strong>de</strong>, não copiá-lo, mas sim <strong>de</strong> aproveitá-lo com<br />

a<strong>de</strong>quações para sua realida<strong>de</strong>. Mas, que todas as que leiam, copiem dois pontos: o<br />

tratamento é para o paciente e, portanto ele <strong>de</strong>ve ser respeitado e tratado; o terapeuta<br />

<strong>de</strong>ve ser terapeuta e, portanto tem que se preparar para isto.<br />

Encerradas as 32 sessões nos <strong>de</strong>spedimos e não precisamos fazer<br />

disso nenhuma festa e nenhuma distribuição <strong>de</strong> presentes. Tínhamos um contrato <strong>de</strong><br />

trabalho e cumprimos este trabalho, não tínhamos dívidas uns com os outros;<br />

tínhamos tristeza frente à separação, alegria frente ao que tínhamos conseguido, medo<br />

<strong>de</strong> ficarmos sem a terapia e certeza <strong>de</strong> que tínhamos contribuído com um trabalho<br />

maior - pensar em alternativas terapêuticas para essa patologia.<br />

Uma 33 a sessão foi feita com os observadores <strong>de</strong>ntro da sala e com a<br />

apresentação do trabalho feito por eles. Novas fantasias e novos sentimentos<br />

surgiram, mas encerrou-se aí o trabalho com a informação <strong>de</strong> que todos os pacientes<br />

seriam solicitados pela secretaria da instituição para fazerem o seguimento.<br />

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