microsociologia da sociabilidade na mobilidade urbana
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Maria <strong>da</strong>s Graças do Nascimento Prazeres<br />
Se pôde averiguar que havia um total descaso por parte do<br />
poder público com relação ao transporte, ou melhor, havia se firmado<br />
algumas conveniências que deixava aberto o espaço para aqueles<br />
que tivessem condições fi<strong>na</strong>nceiras. Assim, qualquer um que<br />
adquirisse alguns ônibus poderia os colocar em circulação sem<br />
nenhum impedimento, desde que não ferisse os interesses políticos<br />
<strong>da</strong> elite local.<br />
A equação <strong>da</strong> soma dos abusos dos proprietários de ônibus à<br />
omissão do poder público tinha um resultado trágico e esperado, a<br />
retira<strong>da</strong> dos bondes elétricos do transporte público <strong>da</strong> capital.<br />
Em meados do século XX, a noção de “moderno” já havia se<br />
modificado. Neste momento, o Brasil estava sob o governo de<br />
Juscelino Kubitschek, que tinha como sua principal política o<br />
desenvolvimento e a integração do país. JK, como ficou mais<br />
conhecido, lançou o Plano de Desenvolvimento Nacio<strong>na</strong>l também<br />
conhecido como Plano de Metas, que visava estimular o crescimento<br />
<strong>da</strong> economia por meio <strong>da</strong> energia, alimentação, indústria de base,<br />
educação e transporte. Este último ia ser modernizado,<br />
principalmente, através <strong>da</strong> difusão de máqui<strong>na</strong>s movi<strong>da</strong>s a óleo diesel<br />
–automobilismo 16 .<br />
Assim, a modernização prega<strong>da</strong> neste momento estava longe<br />
de combi<strong>na</strong>r com os trilhos que insistiam em permanecer em algumas<br />
ci<strong>da</strong>des brasileiras. Um transporte que não permitia a liber<strong>da</strong>de,<br />
pois estava preso a um roteiro. O homem moderno era agora,<br />
sobretudo, um amante <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de. Como ressalta Charles Wright,<br />
o bonde oferecia pouca flexibili<strong>da</strong>de por estar preso aos trilhos, além<br />
do que “a freqüência, ou seja, o número de parti<strong>da</strong> por hora, era<br />
baixo, e os veículos an<strong>da</strong>vam sempre cheios em certos horários”<br />
(Wright, 1988, p.23).<br />
16<br />
É neste momento que o automobilismo se tor<strong>na</strong> mais atraente, pois o automóvel<br />
chega como uma nova etapa do progresso técnico. Neste sentido, Giucci afirma<br />
que “A extraordinária vitali<strong>da</strong>de do automóvel está no fato de que ele, de modo<br />
relativamente rápido, passou a ser visto como uma exigência do mundo moderno –<br />
economia de tempo, utili<strong>da</strong>de, trabalho, liber<strong>da</strong>de, prestígio. Está ai sua dimensão<br />
popular, embora frequentemente fosse i<strong>na</strong>cessível ao grande público” (Giucci, 2004,<br />
p.19).