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microsociologia da sociabilidade na mobilidade urbana

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José O. Alcântara Jr.<br />

Como destacarei: há uma nova “luta de classes”, a qual é<br />

trava<strong>da</strong> entre o pedestre e o condutor. Tal batalha é marca<strong>da</strong> pelo<br />

desejo individual de prazer com a veloci<strong>da</strong>de, e o direito coletivo<br />

pela segurança e liber<strong>da</strong>de de poder an<strong>da</strong>r pelas ruas sem ser<br />

atropelado. Nessa luta, facilmente a potência do carro se sobrepõe<br />

à fragili<strong>da</strong>de do pedestre.<br />

“O aumento <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de reflete sintomas do estresse urbano. Isso afeta<br />

particularmente aqueles grupos cuja relação com a tecnologia provoca uma<br />

dependência crescente <strong>da</strong> máqui<strong>na</strong>. São poucas as evidências empíricas <strong>da</strong><br />

reação psicológica <strong>da</strong>s pessoas afeta<strong>da</strong>s diante de falhas mecânicas e<br />

acidentes, mas a relação máqui<strong>na</strong>-confiabili<strong>da</strong>de é um elemento importante<br />

<strong>na</strong> percepção do objeto mecânico. Reações psicológicas como impaciência e<br />

irritação, hoje tão comuns perante a “lentidão” dos computadores, podem<br />

ser vistas <strong>na</strong>s charges do anos 20. O trabalhador que corre, sua e se<br />

desespera para pegar o ônibus; o advogado que se impacienta no trânsito;<br />

o milionário que man<strong>da</strong> o chauffer acelerar em meio aos pedestres”. (GIUCCI,<br />

2004, pp. 63).<br />

Não só grosserias ficam impunes, mas quantos crimes são<br />

praticados no trânsito e o sentimento de impuni<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> persiste.<br />

Quando um homicídio acontece no trânsito, devido ao condutor dirige<br />

em alta veloci<strong>da</strong>de e/ou embriagado, ain<strong>da</strong>, era tipificado como<br />

culposo, quando deveria ser visto como doloso. O resultado de tudo<br />

isso, é que, constantemente, barbari<strong>da</strong>des no trânsito são cometi<strong>da</strong>s<br />

em nome do prazer(!) individual do condutor, matando pessoas<br />

inocentes, e ficando o condutor livre para matar mais pessoas<br />

novamente. É um si<strong>na</strong>l de que os conflitos desenvolvidos no trânsito<br />

são solucio<strong>na</strong>dos, ain<strong>da</strong> que fora do ambiente circular, em proveito<br />

do condutor.<br />

A sociabili<strong>da</strong>de conflituosa é, assim, acentua<strong>da</strong> pelos efeitos<br />

que o próprio automóvel produz no condutor <strong>na</strong> reali<strong>da</strong>de circulatória,<br />

ao ponto de alguns pensadores acreditarem que existe mesmo uma<br />

intenção de matar, quando nos postamos atrás do volante. Se<br />

a<strong>na</strong>lisarmos esta questão, tendo em vista que o homem busca a<br />

realização do prazer por meio <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de, o pedestre e demais<br />

condutores <strong>na</strong><strong>da</strong> mais são que empecilhos ao desenvolvimento <strong>da</strong><br />

potência máxima do automóvel.<br />

O automóvel foi aos poucos ocupando um grande espaço <strong>na</strong>s<br />

vias urba<strong>na</strong>s, devido à sua produção em massa e ao crescente desejo<br />

<strong>da</strong> população de adquirir um veículo que não precisasse de tração

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