microsociologia da sociabilidade na mobilidade urbana
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Na trilha <strong>da</strong> modernização 63<br />
A veloci<strong>da</strong>de estava ca<strong>da</strong> vez mais presente nos sonhos e no<br />
cotidiano dos brasileiros, e como enfatiza Giucci “a veloci<strong>da</strong>de se<br />
impõe como a base <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> moder<strong>na</strong>” (Giucci, 2004, p.48). Ain<strong>da</strong> de<br />
acordo com este autor, “a veloci<strong>da</strong>de surge associa<strong>da</strong> à renovação<br />
de vi<strong>da</strong>, mobili<strong>da</strong>de, anonimato, juventude e libertação. Ela premia<br />
a circulação e desvaloriza as antigas ligações com a terra e a família”<br />
(Giucci, 2004, p.56).<br />
Dessa forma, o mesmo bonde que havia sido implantado sob<br />
o desígnio do progresso e do moderno, era agora taxado de retrogrado<br />
e atrasado. Isto por que, como explica David Harvey “a moderni<strong>da</strong>de<br />
não pode respeitar sequer o seu próprio passado, para não falar de<br />
qualquer ordem social pré-moder<strong>na</strong>”. Ain<strong>da</strong> de acordo com este autor,<br />
a moderni<strong>da</strong>de sempre promove rupturas, uma vez que “não ape<strong>na</strong>s<br />
envolve uma implacável ruptura com to<strong>da</strong>s e quaisquer condições<br />
históricas precedentes, como é caracteriza<strong>da</strong> por um interminável<br />
processo de rupturas e fragmentações” (Harvey, 1998, p.22-23).<br />
Muitas foram as justificativas encontra<strong>da</strong>s por aqueles que<br />
tinham interesse em ver os bondes elétricos parados, e to<strong>da</strong>s se<br />
resumiam em uma só: o bonde trafegava <strong>na</strong> contramão do progresso.<br />
Contudo, nem todos viam a aposentadoria dos bondes com bons<br />
olhos. Alguns se sentiam até mesmo furiosos ao serem testemunhas<br />
de tamanho “delito” contra o transporte público. A população estava<br />
dividi<strong>da</strong>, e mesmo para aqueles que reconheciam que os bondes<br />
operavam sob condições precárias, era doloroso ver um artefato tão<br />
potente de sua memória ser posto de lado em nome de um progresso<br />
que bem poucos conheciam. Este sentimento pode ser notificado<br />
em uma <strong>da</strong>s notas do Diário <strong>da</strong> Manhã, em que se lê: “A nosso ver,<br />
só por um bonde trafegar de contramão, não é razão suficiente para<br />
retirá-lo” (Diário <strong>da</strong> Manhã, 09-05-1966).<br />
Quando a retira<strong>da</strong> dos bondes elétricos passou a ser<br />
conveniente àqueles que tinham o poder de decisão, to<strong>da</strong>s as falhas<br />
deste transporte público foram evidencia<strong>da</strong>s. Neste momento, os<br />
ônibus se tor<strong>na</strong>ram em um meio de transporte eficaz, propagado<br />
pelas autori<strong>da</strong>des políticas de São Luís. Ao comparar os ônibus aos<br />
bondes elétricos, o inspetor de trânsito Sr. Wilson Lopes Machado<br />
alegava que “nestas condições a população está muito mais bem<br />
servi<strong>da</strong> que os bondes, visto que como há mais rapidez e conforto,