15 relação do Eu com o Outro 7 na dimensão <strong>de</strong> sua t<strong>em</strong>poralida<strong>de</strong> e transcendência à imanência do ser, ou seja, é a saída do ser, ir para fora <strong>de</strong> si mesmo, escapando <strong>de</strong> sua imanência, <strong>em</strong> que o “eu se substitui ao mesmo e o outr<strong>em</strong> a <strong>outro</strong> 8 ”. O t<strong>em</strong>po é consi<strong>de</strong>rado não como a percepção <strong>de</strong> duração, mas como transcendência, que é a abertura a outr<strong>em</strong> e ao Outro. Não é o fato <strong>de</strong> um sujeito isolado e sozinho, mas é a relação do sujeito com outr<strong>em</strong>. Essa transcendência é tratada sob a perspectiva da diacronia 9 . O t<strong>em</strong>po é abordado num dinamismo levado para <strong>outro</strong> lado diferente das coisas possuídas, como se houvesse no t<strong>em</strong>po um movimento para além do que é igual aos seres humanos. Como relata o filosofo: O movimento do t<strong>em</strong>po entendido como transcendência ao Infinito do “completamente Outro” não se t<strong>em</strong>poraliza <strong>de</strong> maneira linear, não se ass<strong>em</strong>elha à retidão do raio intencional. Sua maneira <strong>de</strong> significar, marcada pelo mistério da morte faz um <strong>de</strong>svio ao entrar na aventura ética da relação com <strong>outro</strong> hom<strong>em</strong>”. (LEVINAS, 2006, p. 03) Para Levinas, a transcendência ao Outro se dá pela abertura à palavra do <strong>outro</strong> que <strong>em</strong>erge <strong>em</strong> meu mundo como um rosto 10 . O <strong>outro</strong> se revela <strong>outro</strong> <strong>em</strong> seu rosto, mas manifesta ser infinitamente Outro pela sua palavra. A linguag<strong>em</strong> torna-se, entretanto, apenas o espaço do encontro do Eu com o Outro: “a linguag<strong>em</strong> não é mera experiência, n<strong>em</strong> um meio <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong> outr<strong>em</strong>, mas o lugar do reencontro com o Outro, com o estranho e <strong>de</strong>sconhecido do Outro 11 ”. Para aprofundar tal concepção filosófica, selecionei o po<strong>em</strong>a “Releitura” e “DNA, CDA” para análise. Tal concepção mereceria uma reflexão cuidadosa para trazer a tona diversas questões: à luz <strong>de</strong> teorias cont<strong>em</strong>porâneas. Seria pertinente prosseguir priorizando o estudo do “t<strong>em</strong>po” <strong>em</strong> <strong>poesia</strong>? É possível uma aproximação entre a filosofia e a literatura? Como conceber, hoje, uma “poética” a ser t<strong>em</strong>poralizada num sentido diacrônico pela linguag<strong>em</strong>? 7 Essa palavra po<strong>de</strong> significar tanto a alterida<strong>de</strong> divina quanto o antropologicamente <strong>outro</strong> para além dos conceitos do eu. 8 A distinção entre outr<strong>em</strong> e Outro po<strong>de</strong>ria ser aventada, <strong>em</strong> certos contextos, tanto como a distinção entre o outr<strong>em</strong> antropológico e o Outro divino quanto à distinção, <strong>em</strong> <strong>outro</strong>s contextos, entre outr<strong>em</strong> enquanto conceito do mundo do mesmo e Outro como alterida<strong>de</strong> transcen<strong>de</strong>nte à consciência do eu. (LEVINAS, 2005, p.29) 9 Diacronia na perspectiva levinasiana “dia-cronia que se mostra na paciência da espera, que é a extensão mesma do t<strong>em</strong>po, que não se reduz à antecipação (que já seria uma maneira <strong>de</strong> tornar presente”), que não encerra uma representação do esperado ou do <strong>de</strong>sejado (esta representação seria pura “apresentação”). O esperado, o <strong>de</strong>sejado já seriam termos, a espera e a aspiração, finalida<strong>de</strong> e não relação ao infinito (N do autor). (LEVINAS, 2006, p.03). 10 O rosto na filosofia levinasiana “apresenta-se na sua nulida<strong>de</strong>: não é uma forma, ocultando – mas, por isso mesmo, indicando – um fundo; n<strong>em</strong> é um fenômeno escon<strong>de</strong>ndo – mas, por isso mesmo, traindo – uma coisa <strong>em</strong> si”. (LEVINAS, 1993, p. 61) 11 POIRIÉ, François, Levinas, 1987, p.21.
16 A fim <strong>de</strong> iniciar a discussão das questões, situando uma nova posição <strong>em</strong> relação à fenomenologia da Alterida<strong>de</strong>, como também à crítica literária, opto por uma revisão <strong>de</strong> conceito <strong>de</strong> <strong>poesia</strong> e t<strong>em</strong>po, abordando-os <strong>em</strong> sua relação com a literatura. No que concerne à <strong>poesia</strong> cont<strong>em</strong>porânea interessa-me focalizar o ponto <strong>de</strong> vista crítico, com <strong>de</strong>staque para os trabalhos <strong>de</strong> Marlene Correia, Silviano Santiago, Luiz Fernando Me<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Carvalho, João Camilo Penna, Viviana Bosi... O ponto <strong>de</strong> vista histórico: Fre<strong>de</strong>ric Jameson, Linda Hutcheon, Lyotard, Kristeva quanto ao t<strong>em</strong>po, privilegio um recorte com o filósofo Levinas, buscando cotejá-lo com o enfoque dado à questão colocada pelos críticos pós – mo<strong>de</strong>rnos e pela fortuna crítica <strong>de</strong> AFF.
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