o outro possÃvel: a poesia de armando freitas filho em ... - UninCor
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A utilização do po<strong>em</strong>a acima é somente para tentar clarear a noção <strong>de</strong><br />
interdiscursivida<strong>de</strong> proposta por Hutcheon, o entrelaçar das vozes do poeta retomado ao lado<br />
das vozes da i<strong>de</strong>ologia.<br />
É relevante trazer para a discussão os termos <strong>de</strong> paródia e pastiche, os quais,<br />
propõ<strong>em</strong> reflexões sobre os modos <strong>de</strong> relação com o passado na cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>.<br />
Para Hutcheon (1991) e alguns críticos com os quais dialoga, o pós-mo<strong>de</strong>rnismo é<br />
um diálogo irônico com o passado, nunca um retorno nostálgico. É o marco da luta para o<br />
surgimento <strong>de</strong> algo novo. Segundo a autora (1947, p.28), “a maioria dos textos pós-mo<strong>de</strong>rnos<br />
contraditórios são também paródicos, ligados à tradição e dotados <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> apelo à<br />
continuida<strong>de</strong>”. E o paradoxo da paródia é que ela não é <strong>de</strong>stituída <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>, t<strong>em</strong><br />
segundo a autora uma visão <strong>de</strong> interligação. Esta é uma forma <strong>de</strong> estabelecer vínculo entre a<br />
arte e aquilo que Said (1991) chama <strong>de</strong> “mundo”. A paródia estabelece uma relação dialógica<br />
entre a i<strong>de</strong>ntificação e a distância. É observado no texto poético <strong>em</strong> análise, quando o eu-lírico<br />
busca significantes da <strong>poesia</strong> <strong>de</strong> CDA, como “pedra”, “chave”, são i<strong>de</strong>ntificações com a<br />
escrita do <strong>outro</strong>, mas, ao mesmo t<strong>em</strong>po, são distanciados pela presença m<strong>em</strong>orialística.<br />
Também é caracterizada pela duplicida<strong>de</strong> paradoxal <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> e mudança, <strong>de</strong><br />
autorida<strong>de</strong> e transgressão. A retomada da <strong>poesia</strong>, po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-se uma forma <strong>de</strong><br />
continuida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sdobramento dos mesmos significantes, porém com apelo à mudança – a<br />
escrita <strong>de</strong> AFF é diferenciada da escrita <strong>de</strong> CDA; por ex<strong>em</strong>plo: a pedra para um é vista como<br />
um obstáculo, para <strong>outro</strong> é o próprio poeta-enigma.<br />
O termo paródico usado pela crítica se contrapõe ao termo paródico usado no<br />
mo<strong>de</strong>rnismo, o qual é caracterizado pela ruptura. Mesmo assim Jameson (1991) acha melhor<br />
não usar esse termo . Para o autor o pastiche, é algo que v<strong>em</strong> supl<strong>em</strong>entar. O pós-mo<strong>de</strong>rnismo<br />
ao se apropriar do passado o altera, num sentido <strong>de</strong> diferença. Quando Jameson analisa “Um<br />
par <strong>de</strong> botas <strong>de</strong> Vincent Van Gogh e Os Diamond dust shoes <strong>de</strong> Andy Warhol” conclui que a<br />
pintura <strong>de</strong> Van Gogh é um <strong>de</strong>svelamento do que o instrumento, o par <strong>de</strong> sapatos, <strong>em</strong> verda<strong>de</strong><br />
é. Para ele, esses sapatos recriam o mundo do objeto ausente, ao lado do pisar forte da mulher<br />
camponesa. Já a pintura <strong>de</strong> Andy Warhol, não fala com a mesma imediatida<strong>de</strong>, é claramente<br />
um fetiche, uma coleção aleatória <strong>de</strong> objetos s<strong>em</strong> vida anterior, os sapatos são centrados numa<br />
idéia <strong>de</strong> mercantilização; enfatizam o fetichismo das mercadorias na transição para o<br />
capitalismo tardio. O que o crítico quer realçar nessa comparação é que o pastiche é uma<br />
forma <strong>de</strong> convivência e não apenas uma crítica mo<strong>de</strong>rna. Está ao lado, perpassando num<br />
movimento <strong>de</strong> diálogo, <strong>de</strong> negociação. Hutcheon vê a diferença como sendo uma ironia e<br />
Jameson como uma forma <strong>de</strong> convivência. Ao buscar uma fala <strong>de</strong> Hutcheon <strong>de</strong> que “o diálogo