o outro possÃvel: a poesia de armando freitas filho em ... - UninCor
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terrorista avant la lettre que guarda<br />
na boca o gosto feroz, a água ar<strong>de</strong>nte<br />
mistura <strong>de</strong> mel e asfalto, na curva<br />
perigosa <strong>de</strong>sta dor, na escada, on<strong>de</strong><br />
nosso beijo e baba se incorporam<br />
no verso, que é câncer, da vida, <strong>de</strong>rivado.<br />
O poeta se vê doente, numa amnésia, contaminado por ter pegado o vírus poético<br />
<strong>de</strong> CDA. O jogo realizado entre doença / cura é construído no mundo da razão “na cabeça”<br />
<strong>em</strong> contraste com o mundo dos sentimentos “no coração”.<br />
Observa-se que na literatura cont<strong>em</strong>porânea, <strong>em</strong> especial na <strong>poesia</strong>, há uma<br />
gran<strong>de</strong> exploração da primeira função <strong>de</strong> intertextualida<strong>de</strong>. A literatura traz resquícios<br />
conseqüentes das vanguardas para o pós - mo<strong>de</strong>rnismo, e percebe alguns el<strong>em</strong>entos da<br />
tradição na cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>. O poeta busca <strong>em</strong> CDA realçar um prestígio, ou melhor, uma<br />
incompletu<strong>de</strong> “Dos c<strong>em</strong> prismas <strong>de</strong> uma jóia,quantos há que não presumo”. CDA apresentase<br />
<strong>em</strong> várias facetas.<br />
Uma parte significativa dos poetas atuais procuram abordar <strong>em</strong> suas obras t<strong>em</strong>as<br />
dos autores clássicos, provavelmente, tentam continuar uma tradição que lhes são anteriores e<br />
que estão quase perdidas. Nesse sentido, a intertextualida<strong>de</strong> para Jameson (1991, p. 47)<br />
assume uma importância primordial já que “como característica <strong>de</strong>liberadamente urdida do<br />
efeito estético e como um operador <strong>de</strong> uma nova conotação <strong>de</strong> anteriorida<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />
profundida<strong>de</strong> pseudo-histórica, na qual a história dos estilos estéticos <strong>de</strong>sloca a história real”.<br />
Parece que a intertextualida<strong>de</strong> pós – mo<strong>de</strong>rna ganha uma conotação referencializada, no caso<br />
a <strong>poesia</strong> <strong>em</strong> análise, <strong>em</strong> um poeta clássico mo<strong>de</strong>rno.<br />
O que antes era realizado por um gênio da escrita, que possuía a configuração <strong>de</strong><br />
originalida<strong>de</strong>, per<strong>de</strong> seu curso na pós – mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Com a busca incessante da novida<strong>de</strong>,<br />
chega-se a exaustão <strong>de</strong> t<strong>em</strong>as e formas, dissolve-se o conceito <strong>de</strong> novo, e o que resta aos<br />
poetas é a realização <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> recriação, nada mais que uma repetição das tendências<br />
do passado. Derrida (2002, p. 74) aborda “repetição, mas repetição <strong>em</strong> diferença”, pois o que<br />
é produzido através da repetição nunca po<strong>de</strong> ser idêntico a ele mesmo. AFF constrói as<br />
estrofes recheadas <strong>de</strong> citações “mistura <strong>de</strong> mel e asfalto, na curva /perigosa <strong>de</strong>sta dor, na<br />
escada, on<strong>de</strong> /nosso beijo e baba se incorporam /no verso, que é câncer, da vida, <strong>de</strong>rivado”.<br />
Uma forma intertextual usada pelos escritores pós – mo<strong>de</strong>rnos é a citação e /ou a<br />
referência. A citação é tida como um operador fundamental da intertextualida<strong>de</strong>. O texto<br />
<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser autônomo, fechado. Os textos pós – mo<strong>de</strong>rnos adquir<strong>em</strong> a forma <strong>de</strong> um<br />
palimpsesto.