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o outro possível: a poesia de armando freitas filho em ... - UninCor

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28<br />

O movimento natural da leitura impõe uma seqüência <strong>em</strong>bora aci<strong>de</strong>ntada que é, na<br />

verda<strong>de</strong>, fundamental enquanto progressão articulada <strong>de</strong> uma confidência complexa. O<br />

movimento aci<strong>de</strong>ntado virá do uso exclusivo da terceira pessoa gramatical, por meio da qual,<br />

ao utilizar o vocativo “Zenão”, <strong>de</strong>sloca-se, exteriorizando, o que antes era uma instância<br />

lírica: “Zenão, não me formule”. A ironia ao buscar o <strong>outro</strong>, parece um distanciamento ou<br />

uma omissão da responsabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> respon<strong>de</strong>r o que buscava interpretar. O sentido do<br />

<strong>de</strong>slocamento se faz tão intenso quando passa para o <strong>outro</strong>, como se não estivesse <strong>em</strong> si, à<br />

resposta a qual <strong>de</strong>sejava, mas é pelo espelho do <strong>outro</strong> que o sujeito se mostra, e a contradição<br />

não po<strong>de</strong>ria ser maior quando relata “n<strong>em</strong> pelo absurdo/ <strong>de</strong> me sentir liberto quando preso”, é<br />

nele mesmo que está a saída, a resposta.<br />

Costa Lima (1968, p.188) refletindo sobre o po<strong>em</strong>a “Áporo” <strong>de</strong> CDA (Um inseto<br />

cava/ cava s<strong>em</strong> alarme/ perfumando a terra/ s<strong>em</strong> achar escape) trabalha essa noção percebida<br />

acima como t<strong>em</strong>po-corrosão. “Entendida ao nível <strong>de</strong> inseto e <strong>de</strong> vegetal, a vida se realiza. O<br />

que lhe é interdito é a realização <strong>de</strong> escavar como elaboração <strong>de</strong> uma perspectiva, <strong>em</strong> que o<br />

t<strong>em</strong>po se <strong>de</strong>sata”. A noção <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po não está no sentido <strong>de</strong> um t<strong>em</strong>po vivido que se per<strong>de</strong><br />

com a velocida<strong>de</strong> das novas tecnologias, mas como uma ilusão, uma falta <strong>de</strong> perspectiva:<br />

A corrosão no caso não está <strong>em</strong> que algo se <strong>de</strong>strua, <strong>em</strong> que as coisas se percam.<br />

Isso é exigido pelo movimento e pela própria lei <strong>de</strong> economia do mundo. Ela sim<br />

está <strong>em</strong> que o hom<strong>em</strong> esteja <strong>de</strong>sligado do produto que suas mãos tenham moldado<br />

ou <strong>de</strong> que seus olhos não consigam penetrar além do nevoeiro presente. (Id, p. 189)<br />

Bischof (2005) <strong>em</strong> seu livro “Razão da recusa” <strong>de</strong>lineia a obra poética <strong>de</strong><br />

Drummond construída no impasse do po<strong>em</strong>a, ou seja, reflete sobre os obstáculos que o eu -<br />

lírico aponta na construção <strong>de</strong> sua poética; impasses, os quais, a vida mo<strong>de</strong>rna trouxe para o<br />

poeta CDA, como: o confronto com a metrópole e a questão do t<strong>em</strong>po.<br />

Para (Id, p. 13), há <strong>em</strong> “Áporo” um “movimento <strong>em</strong> direção à luz (o escape do<br />

labirinto subterrâneo)” e “o que se busca <strong>em</strong> Áporo, ao que parece, é o escape da negativida<strong>de</strong><br />

por meio da ação (<strong>de</strong> cavar) e da transformação (orquí<strong>de</strong>a), (Id, p.69)”.<br />

A abordag<strong>em</strong> feita pelos dois teóricos, nada mais é que uma metaforização do<br />

fazer poético que o eu - lírico da <strong>poesia</strong> <strong>de</strong> AFF busca através da estrofe: “Um inseto cava/<br />

cava s<strong>em</strong> alarme/ perfumando a terra/ s<strong>em</strong> achar escape”, para realçar a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrar<br />

na <strong>poesia</strong> drummondiana, mesmo com o impasse <strong>de</strong> ser impenetrável, traz a questão <strong>de</strong> ser<br />

abrigo, <strong>de</strong>smistificando o que antes havia relatado. O abrigo que a <strong>poesia</strong> proporciona parece<br />

ser generoso, mas não custa indagar: “Isto não terá um custo? Um preço? Uma

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