12.05.2015 Views

o outro possível: a poesia de armando freitas filho em ... - UninCor

o outro possível: a poesia de armando freitas filho em ... - UninCor

o outro possível: a poesia de armando freitas filho em ... - UninCor

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

81<br />

diferente.<br />

Observa-se mais <strong>de</strong>nsamente a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> misturar-se com o <strong>outro</strong>. Vai sendo<br />

<strong>de</strong>lineado, aos poucos, na <strong>poesia</strong> o <strong>outro</strong> eu – mesmo, ou o <strong>outro</strong> que chega <strong>de</strong> outra pessoa?<br />

Na busca pela alterida<strong>de</strong> encontra-se <strong>em</strong> jogo a questão da autenticida<strong>de</strong>. Há um<br />

jogo no po<strong>em</strong>a para que se estabeleça a marca <strong>de</strong> autenticida<strong>de</strong>. Isso se realiza também na<br />

relação que se t<strong>em</strong> com o <strong>outro</strong>, com os modos que se relaciona. Há um limite entre o eu e o<br />

<strong>outro</strong>, porém um completa o <strong>outro</strong> e vice-versa. Às vezes, não se sabe qu<strong>em</strong> é qu<strong>em</strong> 105 . Por<br />

isso usa-se <strong>de</strong> disfarces na construção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. O jogo que se estabelece entre o eu e si,<br />

o eu-mesmo até tornar-se eu - <strong>outro</strong> é permeado por s<strong>em</strong>elhanças e diferenças. Há um jogo<br />

entre o eu e si. Levinas chama <strong>de</strong> hipóstase o momento <strong>em</strong> que o eu (consciente) chama para<br />

si uma mudança que é possível pela presença do <strong>outro</strong>.<br />

No po<strong>em</strong>a “Carga”, o poeta<br />

transcreve claramente o jogo que se realiza na escrita, com os processos metamórficos pelo<br />

qual passa o eu-mesmo <strong>em</strong> direção a eu - <strong>outro</strong>.<br />

Carga 106<br />

(...)<br />

Qu<strong>em</strong> é que assina a sintaxe retorcida:<br />

o autor, <strong>outro</strong>, anagramático, ou este eu<br />

atentado, que não se explica e explo<strong>de</strong>?<br />

Ou:<br />

O autor, <strong>outro</strong>, anagramático, trocando<br />

<strong>de</strong> gênero, para melhor disfarce, ou este eu<br />

atentado, que não se explica e explo<strong>de</strong>?<br />

Com essas investigações chega-se ao Outro da <strong>poesia</strong> <strong>de</strong> AFF: o <strong>outro</strong> enrustido,<br />

trespassado pelos vestígios poéticos <strong>de</strong> CDA. Como no po<strong>em</strong>a “Espelho e cego” 107 <strong>em</strong> que o<br />

poeta se auto-opera, num processo <strong>de</strong> metamorfose, para chegar a ser <strong>outro</strong> precisa “rever/<br />

com a aparente outra mão” o que ficou <strong>em</strong> <strong>de</strong>safio.<br />

A cabeça não passa o corpo a limpo.<br />

Passa <strong>em</strong> revista, apalpando-se<br />

apalpando-me, pois revisão implica<br />

<strong>em</strong> revolver o sintoma, auto-operar-se<br />

s<strong>em</strong> a lâmina estética da anestesia.<br />

Em atacar, ao se reter, no espelho <strong>de</strong> repetição<br />

e se reler, por <strong>de</strong>ntro, a fundo _ rever<br />

com a aparente outra mão, os irr<strong>em</strong>ediáveis<br />

105 Para o filósofo, “a marca do escritor não é mais do que a singularida<strong>de</strong> da sua ausência; é lhe necessário<br />

representar o papel do morto no jogo da escrita”. (FOUCAULT. 1992, p. 36)<br />

106 Raro Mar. 2006, p. 51.<br />

107 Raro Mar. 2006, p. 20.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!