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o outro possível: a poesia de armando freitas filho em ... - UninCor

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22<br />

questão <strong>de</strong> prazer próprio <strong>de</strong> cada escritor. Em “Duas mesas 15 ” AFF comenta o trabalho do<br />

escritor, para ele, é árduo e cheio <strong>de</strong> constantes alterações. É incompletu<strong>de</strong> e busca.<br />

(...)<br />

A mesa-máquina <strong>de</strong> um não se completa.<br />

Sua carpintaria apesar <strong>de</strong> todos os planos<br />

<strong>de</strong> muita plaina, é errática,se acrescenta<br />

<strong>de</strong> novos talhes, apaga-se e recomeça<br />

o trabalho nas tábuas, móvel, arrastando<br />

no pensamento, que se reescreve, constante<br />

e on<strong>de</strong> o escritor é rascunho e resultado.<br />

(...)<br />

É preciso olhar a escrita <strong>de</strong> AFF como um <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>r-se das teclas automáticas, o<br />

poeta <strong>de</strong>svencilha-se da escrita superfície, <strong>de</strong>sejando aprofundar seu olhar, torná-lo mais<br />

reflexivo, e o olhar reflexivo, pensa a si mesmo. Sua escrita permanece não apenas no espaço<br />

do livro ou do papel, mas no t<strong>em</strong>po, no intervalo <strong>em</strong> que escreve e reescreve, <strong>em</strong> que marca a<br />

presença <strong>de</strong> sua <strong>poesia</strong>. AFF tenta <strong>de</strong>stituir o traço mecânico/digital <strong>em</strong> proveito <strong>de</strong> uma<br />

escrita capaz <strong>de</strong> explodir, uma escrita que se constrói, se perfaz não somente nas linhas do<br />

papel, mas, sobretudo e, exclusivamente, na entrelinha, nas lacunas. O poeta privilegia uma<br />

forma <strong>de</strong> escrita colada a página. Mesmo assim permeiam-se algumas questões <strong>de</strong>ssa<br />

comunicação “É possível na era digital promover uma experiência <strong>de</strong> escrita <strong>de</strong>-morada,<br />

colada ao lápis e papel?<br />

Em “Numeral/Nominal”, último dos livros que compõ<strong>em</strong> a edição <strong>de</strong> sua <strong>poesia</strong><br />

reunida, o poeta AFF <strong>em</strong> po<strong>em</strong>a <strong>de</strong>dicado a Mário Rosa, compara a escrita a um arriscar – que<br />

seja um perigo ou uma aventura.<br />

16<br />

Para Mário Rosa<br />

Escrever é arriscar tigres<br />

Ou algo que arranhe, ralando<br />

O peito na borda do limite<br />

Com a mão estendida<br />

Até a cerca impossível e farpada<br />

Até o erro – é rezar com raiva 16 .<br />

O poeta pensa a escrita selvag<strong>em</strong>, que mostra sua força, nos fazendo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong>la, subenten<strong>de</strong>-se que precisa ser domesticada pela mão que escreve e pelo pensamento que<br />

15 Raro Mar, 2006, p. 32.<br />

16 Numeral/ Nominal, 2003, p.42.

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