12.05.2015 Views

o outro possível: a poesia de armando freitas filho em ... - UninCor

o outro possível: a poesia de armando freitas filho em ... - UninCor

o outro possível: a poesia de armando freitas filho em ... - UninCor

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

26<br />

digitais possu<strong>em</strong> <strong>de</strong> síntese. O poeta parece inquietar-se para que o leitor tenha um olhar mais<br />

atento, para que não se <strong>de</strong>ixe ser dominado pela poética da velocida<strong>de</strong>. O poeta imagina uma<br />

escrita contaminante, como relata no po<strong>em</strong>a “Procedimento”:<br />

Escrever, apontando o lápis<br />

direto ao objeto imaginado.<br />

No começo, rombudo, cabeça<br />

<strong>de</strong> obus – pronto para<br />

a necessária explosão<br />

a rasura, o traço grosso<br />

do primeiro rascunho<br />

ou do que requer o assunto.<br />

Depois, ir aparando, aos poucos<br />

o que precisa <strong>de</strong> apuro, o risco<br />

fino que se corre ao afiar<br />

a ponta do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> dizer<br />

até o ponto mais próximo 20<br />

A escrita que se faz com a utilização do traço, tracejada, vai construindo as linhas<br />

do texto, vai apresentando com cuidado as palavras, o mundo poético, vai criando espaço nas<br />

bordas, vai lapidando-se, ultrapassando os limites e é assim, portanto, para o eu - lírico uma<br />

forma <strong>de</strong> escrita habitada/ <strong>de</strong>morada.<br />

O poeta alerta o leitor para uma escrita como experiência, ele <strong>de</strong>seja a abertura <strong>de</strong><br />

espaço por entre as palavras para que o po<strong>em</strong>a possa construir-se artisticamente, não<br />

aceitando a paralisação, a mecanização. Criar uma nova forma <strong>de</strong> habitar, conforme fala<br />

Hei<strong>de</strong>gger (2001) <strong>de</strong> que um habitar precisa ser <strong>de</strong>morado. Mas não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar que a<br />

<strong>de</strong>mora, impeça a natureza do <strong>de</strong>vir, das coisas que chegam à velocida<strong>de</strong> dinâmica que nos<br />

constituímos com o <strong>outro</strong>. Precisa-se <strong>de</strong> uma ponte que leve ao <strong>outro</strong>, mas que também <strong>de</strong>ixe<br />

rastros, marcas, vestígios da escrita. Contudo, é necessário retomar o final do po<strong>em</strong>a “Ar e<br />

terra”.<br />

O que sobra é o resto do sonho<br />

através do pincel, do gesto espalhado<br />

que assina com tinta preta na folha <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho<br />

não o nome Amílcar <strong>de</strong> Castro<br />

mas o gráfico <strong>de</strong> sua marca.<br />

20<br />

Fio Terra, 2003, p. 581.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!