o outro possÃvel: a poesia de armando freitas filho em ... - UninCor
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42<br />
(...)<br />
Doente imaginário<br />
O leitor s<strong>em</strong> perceber estará impregnado por uma impressão que não tinha<br />
percebido e que possui com tamanha força, que chega a marcar à unha:<br />
CDA marcava à unha<br />
no papel-bíblia, as linhas<br />
os versos que interessavam.<br />
(...)<br />
Mas marcava à unha, como sua <strong>poesia</strong><br />
que nos atravessa 43 .<br />
grifo:<br />
Compagnon (1996, p. 16) aborda as marcas <strong>de</strong> leitura, tendo como ex<strong>em</strong>plo o<br />
O grifo assinala uma etapa da leitura, é um gesto recorrente que marca, que<br />
sobrecarrega o texto com o meu próprio traço. Introduzo-me entre as linhas munido<br />
<strong>de</strong> uma cunha, <strong>de</strong> um pe <strong>de</strong> cabra ou <strong>de</strong> um estilite que produz rachaduras na pagina;<br />
dilacero as fibras do papel, mancho e <strong>de</strong>grado um objeto: faço-o meu. É por isso que<br />
na biblioteca toda essa gesticulação intima me é proibida.<br />
Enquanto o crítico dá seu ex<strong>em</strong>plo, uma característica <strong>de</strong> CDA passa a ser<br />
conhecida através do po<strong>em</strong>a armandiano. O poeta marcava à unha. A marca é um conector, é<br />
uma forma <strong>de</strong> pontuar o texto <strong>de</strong> outra maneira, e assim passa a ser um sinal especial para a<br />
escrita <strong>de</strong> AFF que mais tar<strong>de</strong> será recortado, ganhando um novo valor.<br />
Tamanha força é capaz <strong>de</strong> fazer atravessar uma barreira, um limite no meio do<br />
labirinto, encontrar a razão, ou melhor, o sentido que necessitava, que <strong>de</strong>sejava. E quando não<br />
consegue ultrapassar o labirinto, ou as cercas, os limites, camufla-se, metamorfoseia, “num<br />
movimento <strong>em</strong> direção à luz” 44 , nesse entrelugar AFF sente-se <strong>outro</strong>, um ser livre. Quando<br />
consegue ultrapassar a barreira dos poros e penetrar na escuridão s<strong>em</strong> ter a visão do fim (raiz<br />
/luz) é que consegue se sentir completo, divino, transformado. E no abrigo, na concentração<br />
que a <strong>poesia</strong> nasce.<br />
neste labirinto, s<strong>em</strong> vestígio<br />
<strong>de</strong> raiz ou flor provável<br />
<strong>de</strong> portal na terra, camuflado 45 .<br />
43 Raro Mar – Nominal. Impressão. 2006, p. 29.<br />
44 BISCHOF, 2005, p.13.<br />
45 Raro Mar – Nominal. Aporia. 2006, p. 35.