o outro possÃvel: a poesia de armando freitas filho em ... - UninCor
o outro possÃvel: a poesia de armando freitas filho em ... - UninCor
o outro possÃvel: a poesia de armando freitas filho em ... - UninCor
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
84<br />
texto um laboratório <strong>de</strong> mutações lingüísticas incessantes. Tais mudanças ameaçam<br />
as tradições locais que são responsáveis, <strong>em</strong> última instância, pela manutenção <strong>de</strong><br />
diferenças culturais. Por <strong>outro</strong> lado, se a “arcaica só se conserva graças à sua<br />
permanente renovação” trata-se <strong>de</strong> encontrar uma linguag<strong>em</strong> capaz <strong>de</strong> reciclar<br />
antigas histórias para que, aten<strong>de</strong>ndo às <strong>de</strong>mandas do leitor cont<strong>em</strong>porâneo, elas não<br />
<strong>de</strong>sapareçam. (PEREIRA, 1991, p. 70)<br />
O poeta constrói sua diferença como uma condição <strong>de</strong> existência, num processo<br />
conflituoso <strong>de</strong> aproximação e distanciamentos da <strong>poesia</strong> <strong>de</strong> CDA, <strong>em</strong> que a predileção por<br />
significantes ou fragmentos poéticos orientou a sua escrita.<br />
É imprescindível <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado o que o filósofo Levinas <strong>de</strong>duz da escrita<br />
intertextual supl<strong>em</strong>entada, para ele ela se constrói <strong>em</strong>basada na carícia:<br />
A carícia é um modo <strong>de</strong> ser do sujeito on<strong>de</strong> o sujeito, no contato com um <strong>outro</strong>, vai<br />
para além <strong>de</strong>ste contato. O contato enquanto sensação faz parte do mundo da luz.<br />
Mas o que é acariciado, falando francamente, não é tocado. Não é a velu<strong>de</strong>z ou a<br />
tepi<strong>de</strong>z <strong>de</strong>sta mão oferecida no contato que a carícia procura. Esta procura da carícia<br />
lhe constitui a essência pelo fato <strong>de</strong> que a carícia não sabe o que procura. Este “não<br />
saber”, esta <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m fundamental lhe é o essencial. Ela é como um jogo com<br />
alguma coisa que se dissimula e um jogo absolutamente s<strong>em</strong> projeto n<strong>em</strong> plano, não<br />
com o que po<strong>de</strong> vir a ser nosso e nos vir a ser, mas com alguma coisa do <strong>outro</strong>,<br />
s<strong>em</strong>pre <strong>outro</strong>, s<strong>em</strong>pre inacessível, s<strong>em</strong>pre a vir. A carícia é a espera <strong>de</strong>sse porvir<br />
puro, s<strong>em</strong> conteúdo. Ela é feita <strong>de</strong>ste acréscimo <strong>de</strong> fome, <strong>de</strong> promessas cada vez<br />
mais ricas, abrindo a perspectivas novas sobre o inapreensível. (LEVINAS, 2006,<br />
p.33)