o outro possÃvel: a poesia de armando freitas filho em ... - UninCor
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lúcido, a oferta gratuita e envolvente da escrita poética que o dominava.<br />
Em ambos os po<strong>em</strong>as, o eu – lírico se manifesta por um caminhar. Em “A<br />
máquina do mundo” segue “uma estrada <strong>de</strong> Minas, pedregosa” é clara a referência espacial.<br />
Em “Tercetos na máquina”, inicialmente, a estrada trilhada fica confusa <strong>em</strong> relação ao que<br />
seja e à sua localização, mas no <strong>de</strong>correr da análise percebe-se que a estrada é a escrita<br />
poética e a espacialização vai tornando-se clara, quando nos versos se relata<br />
na escrivaninha, (...)<br />
(...)<br />
com suas gavetas fechadas<br />
<strong>de</strong> chaves perdidas para s<strong>em</strong>pre<br />
O eu – lírico está “ensimesmada na estrada”, não saindo <strong>de</strong>la, tentando trilhá-la. A<br />
estrada é para ele “pedra bruta s<strong>em</strong> preparo”. A figura poética pedra refere-se ao ato <strong>de</strong><br />
escrever, absorvendo <strong>em</strong> si mesma a falta <strong>de</strong> interesse por aquilo que se encontra ao redor,<br />
pois a pedra é bruta “coisa <strong>em</strong> si”, precisa ser lapidada.<br />
De acordo com Correia (2002, p. 37) a metáfora “pedra” constante na <strong>poesia</strong> <strong>de</strong><br />
CDA “transforma-se <strong>em</strong> enigma plurívoco, motivador <strong>de</strong> interpretações diversas”.<br />
O diálogo entre “A máquina do mundo” e “Tercetos na Máquina” sintetiza o<br />
probl<strong>em</strong>a crucial que se propõe a obra do poeta, o caminhar na estrada <strong>de</strong> um po<strong>em</strong>a ao <strong>outro</strong><br />
é s<strong>em</strong>pre interceptado pela “pedra-<strong>de</strong>safio”: que nada mais é que a admiração, cont<strong>em</strong>plação e<br />
não recusa à <strong>poesia</strong> drummondiana.<br />
As formas <strong>em</strong> que o eu - lírico aborda a aparição, cont<strong>em</strong>plação e não recusa da<br />
máquina ass<strong>em</strong>elham-se a seqüência apresentada no po<strong>em</strong>a drummondiano “A máquina do<br />
Mundo”, analisada por Bischof (2005), porém um <strong>outro</strong> sentido, o que está <strong>em</strong> análise é o<br />
diálogo com CDA. O poeta caminhante tenta fazer coincidir novos enunciados e novas visões,<br />
encenando junto a uma dinâmica do olhar à m<strong>em</strong>ória crítica <strong>de</strong> suas leituras e <strong>de</strong> sua escrita.<br />
Dessa forma, proponho uma comparação à noção <strong>de</strong> máquina analisada, no po<strong>em</strong>a<br />
“26” e “Manual da máquina CDA”. O que se observa é um contraste quanto aos conceitos.<br />
Antes CDA era consi<strong>de</strong>rado uma máquina inatingível, que possuía todo ritmo e potência.<br />
Sendo necessário na vida do poeta a velocida<strong>de</strong> para acompanhá-lo. Não era visto como uma<br />
máquina que recusa e que t<strong>em</strong> algum tipo <strong>de</strong> insegurança. Já “A máquina do mundo” registra<br />
pela sua totalida<strong>de</strong> e não é aceita. Em “Tercetos na máquina” CDA é visto como uma<br />
totalida<strong>de</strong>, e é aceito. O po<strong>em</strong>a joga com aspectos negativos: a dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> acompanhar<br />
essa máquina, e aspectos positivos: o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>safiador <strong>de</strong> acompanhá-la. E fica uma reflexão: