12.05.2015 Views

o outro possível: a poesia de armando freitas filho em ... - UninCor

o outro possível: a poesia de armando freitas filho em ... - UninCor

o outro possível: a poesia de armando freitas filho em ... - UninCor

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

74<br />

a tecer um tapete, com cautela, com cuidado, no entanto, com todo a fabricação poética não<br />

<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> causar impressões <strong>em</strong> qu<strong>em</strong> o lê, e mais ainda, <strong>em</strong> qu<strong>em</strong> o relê “com a transformação<br />

que se imprime, impressentida”. A concentração dos prefixos está presente: ‘trans’ indica<br />

movimento para além <strong>de</strong> e ‘im’ movimento para <strong>de</strong>ntro; é uma transformação que acontece no<br />

interior para ir além do leitor. Isto se reforça no verso “alcança inesperado matiz na ponta do<br />

verso livre”, ou seja, a transformação acontece <strong>em</strong> liberda<strong>de</strong>.<br />

O que é importante ainda observar é que o olhar se transforma “vê por novo<br />

ângulo” e a <strong>poesia</strong> também “muda <strong>de</strong> posição”. A questão do olhar retoma a imag<strong>em</strong> do<br />

prisma, este da <strong>poesia</strong> drummondiana que aparece <strong>em</strong> “Habitação para a noite 89 ” também está<br />

na <strong>poesia</strong> <strong>de</strong> AFF “Doente imaginário”<br />

Vai-me a vista assim baixando<br />

Ou a terra per<strong>de</strong> o lume?<br />

Dos c<strong>em</strong> prismas <strong>de</strong> uma jóia,<br />

Quantos há que não presumo?<br />

(...)<br />

Aparece aqui proporcionando novas imagens, novas formas, novos olhares. O<br />

prisma que é um objeto comum na <strong>poesia</strong> drummondiana e quando o eu – lírico da <strong>poesia</strong><br />

armandiana o carrega <strong>em</strong> sua <strong>poesia</strong>, transmite a forma antitética e metafórica <strong>de</strong> lê-la, através<br />

das impressões que causam.<br />

Po<strong>de</strong> – se aceitar que é o prisma o significante da releitura, é a imag<strong>em</strong> que liga à<br />

transformação, o encontro ao <strong>outro</strong>, que se estabelece através do olhar, das passagens <strong>de</strong><br />

leitura, da transformação realizada <strong>em</strong> nós, mesmo que não sentida, pois a cada virada <strong>de</strong>sse<br />

objeto, que quer dizer, a cada nova releitura, o eu – lírico se sente <strong>outro</strong>, transforma-se, tira a<br />

forma fixa e muda o conteúdo, o interior, ganha nova dimensão.<br />

No verso “que inaugura”, o presente não se limita, ele é o “a partir <strong>de</strong> si”, parece<br />

que não carrega herança - não recebe nada do passado, surge. A <strong>poesia</strong> inaugura. Traz o novo,<br />

o que surpreen<strong>de</strong>, é abertura ao evento, ao que chega.<br />

No verso “iluminando <strong>de</strong> forma diferente”, o poeta entrega-se à luz que surge<br />

quando busca por algo.<br />

É no próprio ser que acontece a mudança. Ela é lenta, mas perpétua “alcançando<br />

inesperado matiz”. Acontece <strong>em</strong> liberda<strong>de</strong>. No entanto, como foi falado antes, essa liberda<strong>de</strong><br />

se transforma <strong>em</strong> responsabilida<strong>de</strong>. O encontro com o <strong>outro</strong>, o conduz para um movimento<br />

89 DRUMMOND, 1979, p. 310.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!