Ondalva Serrano – Reserva da Biosfera <strong>do</strong> Cinturão Ver<strong>de</strong> (RBCV)Como to<strong>do</strong>s os mamíferos, o ser humano possui um programa animal. Mas tambémsomos humanos, com um programa da nossa espécie, com a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar, sentir,querer, tomar <strong>de</strong>cisões, criar, transformar, <strong>de</strong> interferir no meio (ora consciente, orainconscientemente). E esse é um ser da natureza, foi cria<strong>do</strong> no planeta. A capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> serhumano <strong>de</strong> criar, adquirir consciência, po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> intervenção, é enorme porque ele apreen<strong>de</strong> asimpressões <strong>do</strong> meio com os seus senti<strong>do</strong>s e vai compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> esse meio. À medida queapreen<strong>de</strong> as impressões e compreen<strong>de</strong> o seu meio, <strong>de</strong>duzin<strong>do</strong> leis e mecanismos <strong>do</strong> como éregi<strong>do</strong>, ele passa a enten<strong>de</strong>r as leis da vida no universo. Apren<strong>de</strong>n<strong>do</strong> os mecanismos <strong>de</strong> comoo mun<strong>do</strong> funciona, ele <strong>de</strong>senvolve a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manipular esse ecossistema em seu própriobenefício. Como causa<strong>do</strong>r individual ou como empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r, como uma instituição, umaempresa, nós seres humanos somos os responsáveis com as nossas <strong>de</strong>cisões pelos impactosque causamos no meio. Então a causa primordial <strong>do</strong>s impactos antrópicos somos nós mesmos.Somos fontes <strong>do</strong>s problemas e po<strong>de</strong>mos ser a fonte da solução. Quan<strong>do</strong> olhamos para oto<strong>do</strong> somos insignificantes, a gente não é nem visualiza<strong>do</strong> no nosso cosmos porque somosuma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> corpos humanos que juntamente com a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> corpos materiais,vegetais e animais formamos o planetinha Terra, que é uma celulazinha <strong>do</strong> nosso sistemasolar, um pontinho na Via Láctea, que é uma entre bilhões <strong>de</strong> galáxias. Então nós somosrelativamente insignificantezinhos, mas essa pequenina espécie é um vírus dana<strong>do</strong> capaz <strong>de</strong>fazer coisas terríveis em termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição humana, social, ambiental, e <strong>de</strong> pôr em riscotodas as outras espécies e a sua própria.Dentro <strong>de</strong>sse cenário, também somos um vírus capaz <strong>de</strong> construir coisas lindas,maravilhosas, com tu<strong>do</strong> que já foi construí<strong>do</strong> pela espécie humana no campo da arte, dacultura, das religiões, no campo da política, da filosofia, das ciências, somos altamentecriativos. Por que então não usamos toda essa nossa potencialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> parasolucionar os problemas? O que nos impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> usarmos to<strong>do</strong> esse nosso rico potencial?Muitas vezes não acreditamos que somos capazes, porque o ser humano muitas vezes aonascer e crescer em ambientes sociais altamente urbaniza<strong>do</strong>s, industrializa<strong>do</strong>s (e agora 85%da população brasileira concentrada em cida<strong>de</strong>s, é um <strong>de</strong>sequilíbrio imenso, em poucasdécadas <strong>de</strong>spovoamos o interior <strong>do</strong> Brasil e nos concentramos em cida<strong>de</strong>s). Hoje nós temosuma <strong>de</strong>scentralização industrial, e estamos com gran<strong>de</strong>s bolsões <strong>de</strong> resíduos tóxicos nascida<strong>de</strong>s. E quem é que está ocupan<strong>do</strong> esses espaços altamente poluí<strong>do</strong>s? A população semterra,sem-teto, sem-emprego, sem alternativa, que está montan<strong>do</strong> suas favelas sobre essasáreas. Temos uma dinâmica altamente preocupante. E para agravar estamos num momento<strong>de</strong> globalização da economia, que gerou o agronegócio, com um cenário internacionalcomplica<strong>do</strong> <strong>de</strong> apropriação <strong>do</strong>s lucros e <strong>do</strong> setor primário para os <strong>de</strong>mais setores da economia,<strong>de</strong>ntro da linha <strong>do</strong> agronegócio. E como fica esse agricultor, essa pessoa <strong>do</strong> meio rural? É umproblema sério que temos que resolver, on<strong>de</strong> a educação é um <strong>do</strong>s elementos fundamentais,um <strong>do</strong>s pilares estratégicos. É preciso levar esse nível <strong>de</strong> consciência que já foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>até agora para essas populações rurais, levar para os empresários <strong>do</strong>s diferentes setores <strong>do</strong>próprio agronegócio para que entendam que, se nós continuarmos nesse mo<strong>de</strong>loinsustentável, vamos ter um risco gran<strong>de</strong> para a vida no planeta Terra.É no contexto <strong>de</strong>sta vida altamente urbanizada, industrializada, <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> consumoeleva<strong>do</strong> que surge o nosso gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio: como ajudar o ser humano a tomar consciência<strong>de</strong>stes riscos atuais para po<strong>de</strong>r mudar seus padrões. O primeiro problema sério: como vamosmudar nosso padrão <strong>de</strong> consumo? Já vimos as gran<strong>de</strong>s matérias publicadas em veículos <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> inteiro sobre a poluição, os produtos químicos sintéticos que estão impregna<strong>do</strong>s nanossa vida, nos nossos alimentos, nas embalagens <strong>do</strong>s nossos alimentos, nos equipamentoseletro<strong>do</strong>mésticos que utilizamos, em toda a nossa vida urbana. Temos altas concentrações <strong>de</strong>substâncias químicas sintéticas sen<strong>do</strong> assimiladas pelo nosso organismo. Temos outroelemento importante que são isômeros <strong>de</strong> estrogênio, hormônio feminino, que é conti<strong>do</strong> nos<strong>de</strong>tergentes, nos agrotóxicos da agricultura que estão em nossos alimentos, temos umaquantida<strong>de</strong> enorme disso sen<strong>do</strong> joga<strong>do</strong> no nosso ambiente, na nossa água, e isso estácomprometen<strong>do</strong> a fertilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s mares <strong>do</strong> nosso planeta, e <strong>do</strong>s homens. Mulheres, nãofiquem animadas! Não é só com o homem, como é que o ser humano vai se multiplicar se nãotemos machos férteis? Só estoque <strong>de</strong> sêmen não vai resolver.10
É importante que prestemos atenção no que esse mo<strong>de</strong>lo foca<strong>do</strong> nos ganhos imediatosestá provocan<strong>do</strong>. A sustentabilida<strong>de</strong> tem muitos aspectos, temos que ver <strong>do</strong> ponto econômico,cultural, social, ambiental, política, <strong>do</strong> gerencial... Não po<strong>de</strong>mos olhar a sustentabilida<strong>de</strong> porum único ângulo. No processo <strong>de</strong> educação ambiental, temos que começar conhecen<strong>do</strong> umpouco mais o que é este ser humano, animal e até arrisco a dizer divino, pela sua capacida<strong>de</strong>criativa <strong>de</strong> se sintonizar em diferentes instâncias <strong>de</strong>sta realida<strong>de</strong> tão complexa em quevivemos. Temos <strong>de</strong> perceber que nós, seres humanos, temos uma gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>, acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e conhecer o mun<strong>do</strong>, e isto in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> sexo, da cor da pele, daraça, <strong>do</strong> status, cada ser humano que surge no planeta tem esse programa <strong>de</strong> ser humano,tem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si um gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> ser realiza<strong>do</strong>r, <strong>de</strong> ser cientista, <strong>de</strong> ser um ser dafilosofia, um ser empresarial, tem inteligências múltiplas, tem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvertodas as múltiplas inteligências, não só a lógica, a matemática, mas também a lingüística, amusical, a intuitiva, a emocional, educativa, interpessoal, um gran<strong>de</strong> potencial.Só que o que falta para nós seres humanos é oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vivenciarmos e<strong>de</strong>senvolvermos esta potencialida<strong>de</strong>, e isto sim é conseqüência <strong>do</strong> nosso mo<strong>de</strong>lo econômico esocial, que cria mecanismos <strong>de</strong> apropriação <strong>do</strong> que é <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s para apenas alguns. Os recursosnaturais são <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os seres vivos <strong>do</strong> planeta. Na nossa organização social a gente permitiuque alguns se apropriassem mais <strong>de</strong>sses recursos e empreen<strong>de</strong>ssem usan<strong>do</strong> esses recursos.Então essas empresas, esses empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>res, usam os recursos que são <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s, sebeneficiam, mas acabam partilhan<strong>do</strong> os usos e os impactos <strong>do</strong> uso <strong>de</strong>sses recursos com to<strong>do</strong>mun<strong>do</strong>. Ai a importância <strong>do</strong> que se falou aqui, partilhar os benefícios e os custos e não fazercomo se faz. Temos que rever esse mo<strong>de</strong>lo, essa forma <strong>de</strong> a gente trabalhar.Outro valor fundamental: nós temos <strong>de</strong> reconhecer o valor que temos como ser potencial<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s realizações, que po<strong>de</strong> construir e <strong>de</strong>struir, a diferença da nossa ação estaráexatamente no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> níveis maiores <strong>de</strong> consciência, da consciência da gentecomo ser humano potencial, que pertence a uma espécie. Se não assumirmos essa ligaçãocom a nossa espécie e não nos sentirmos co-responsáveis por sua sobrevivência, não vamoster muita continuida<strong>de</strong> no planeta. Precisamos ter responsabilida<strong>de</strong> pelos recursos que são <strong>de</strong>to<strong>do</strong>s nós, temos <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a conhecer as leis e mecanismos que regem essa natureza,esses ecossistemas, não só no global, mas no local, precisamos saber on<strong>de</strong> intervir, como eem que momento. Então o conhecimento é fundamental. E só um <strong>de</strong>talhe, apren<strong>de</strong>r, terconhecimento é maravilhoso. E o que vemos nas nossas escolas? Professoras dão comocastigo para as crianças fazer lição. Minha filha chorava quan<strong>do</strong> era pequena: “mãe por quedão castigo pra gente para fazer uma coisa tão gostosa que é apren<strong>de</strong>r e estudar?” Nossosvalores estão inverti<strong>do</strong>s.Temos que fazer um balanço muito profun<strong>do</strong> <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> isso, resgatar nosso valor, nossacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r e realizar, conhecer os mecanismos <strong>de</strong>ssa nossa natureza pra quea gente possa com esses conhecimentos, <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, intervir <strong>de</strong> forma responsável ea<strong>de</strong>quada. Eu estou aqui em nome da Reserva da Biosfera <strong>do</strong> Cinturão Ver<strong>de</strong> da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> SãoPaulo, é uma das sete reservas <strong>do</strong> Brasil, uma pequena <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma maior que é a Reservada Biosfera da Mata Atlântica, envolve a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, mais 72 municípios <strong>do</strong> seuentorno. É a única que nós temos com essa complexida<strong>de</strong>, a gran<strong>de</strong> metrópole brasileira comseu cinturão ver<strong>de</strong>, que está sen<strong>do</strong> corroí<strong>do</strong> rapidamente. A responsabilida<strong>de</strong> que temos<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse complexo é muito gran<strong>de</strong>, porque a <strong>de</strong>struição que ocorre aqui é muito rápida, eo que conseguirmos fazer <strong>de</strong> transformações das ações antrópicas po<strong>de</strong> reverter eminformações <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valia para expandir para outras regiões.Dentro da Reserva <strong>do</strong> Cinturão Ver<strong>de</strong> temos um programa <strong>de</strong> jovens que trabalha asquestões da inclusão ou integração social e meio ambiente. A nossa preocupação em trabalharcom jovens das escolas públicas <strong>de</strong> nível médio <strong>de</strong>ssas regiões é exatamente como ajudar osjovens que ainda não foram corroí<strong>do</strong>s por uma série <strong>de</strong> condicionamentos <strong>do</strong>s adultos. Quan<strong>do</strong>você é adulto, maduro, responsável, você encontra com uma série <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong>condicionamento.O jovem que ainda não entrou no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho tem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perceberque po<strong>de</strong> construir em si um perfil eco-profissional, ou seja, um ser humano profissional comconsciência humana, social e ambiental, que se sente co-responsável. Ele vai construir esseperfil em cima <strong>do</strong>s seus <strong>do</strong>ns, vocações, habilida<strong>de</strong>s. Quer coisa mais gostosa <strong>do</strong> que trabalharnaquilo que dá prazer, que faz bem feito, naquilo que sai naturalmente? Você vai ganharsustentabilida<strong>de</strong> econômica para fazer aquilo que é você, aquilo que sabe fazer. O eco-11
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