o sistema sabe que quan<strong>do</strong> se fala em plano <strong>de</strong> bacia, já se fala <strong>de</strong> integração, está tu<strong>do</strong> maispróximo. Isso se dá por uma maior relação <strong>de</strong> confiança, pelo trânsito <strong>de</strong> atores, as pessoasconviviam muito e tinham relações pessoais e institucionais que favoreceram relações <strong>de</strong>confiança, que agregaram a esse processo.Outra coisa aju<strong>do</strong>u nisso: acabou a água. Quan<strong>do</strong> acabou a água, entre 2002 e 2003, aquestão não era mais quem vai mandar, mas uma questão concreta, não havia mais água.Tinha que fechar Jaguari, Santa Branca, Paraibuna, o rio precisaria <strong>de</strong> racionamento, to<strong>do</strong>mun<strong>do</strong> ia ter que sentar e resolver isso <strong>de</strong> uma vez. Não havia mais muito clima para dividir,havia um problema concreto, e os comitês foram obriga<strong>do</strong>s a criar instrumentos para isso. Foium gran<strong>de</strong> aprendiza<strong>do</strong>.Paulo Valladares Soares – Fundação <strong>Floresta</strong>lVamos fazer algumas consi<strong>de</strong>rações relacionadas ao comprometimento e aoposicionamento que está permea<strong>do</strong> n as questões urbanas. Cerca <strong>de</strong> 94% da população <strong>do</strong>Vale Paraibano ocupa a calha <strong>do</strong> Rio Paraíba <strong>do</strong> Sul. Precisamos compartilhar o olhar que aestrutura morfológica e pe<strong>do</strong>lógica <strong>de</strong>ssa região nos traz, para uma reflexão <strong>do</strong> que temos navárzea hoje. A estruturação <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> anos nos levou a esta situação. Negligenciamosessas questões e precisamos pon<strong>de</strong>rar sobre até que ponto <strong>de</strong>vemos fazer o gerenciamento damata ciliar se não pensarmos na saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> ecossistema. Não po<strong>de</strong>mos per<strong>de</strong>r a dimensão <strong>de</strong>on<strong>de</strong> a água infiltra, on<strong>de</strong> ela entra, on<strong>de</strong> ela é reservada e on<strong>de</strong> é disponibilizada para nossoconsumo, o que ocorre nas partes mais baixas <strong>do</strong> vale.Sou geólogo <strong>de</strong> formação e o que vou compartilhar é para ser discuti<strong>do</strong> na hora <strong>do</strong><strong>de</strong>bate. Há fatores sociológicos para a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> inovações e, quan<strong>do</strong> falo isso, refiro-me aopúblico <strong>de</strong> área rural. Os fatores sociológicos para a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> inovações têm pontos queprecisamos consi<strong>de</strong>rar quan<strong>do</strong> formulamos nossas estratégias e propostas, porque sãoconcebidas no ambiente urbano e esquecemos que nosso interlocutor não está disposto ou é<strong>de</strong>sinteressa<strong>do</strong> nesses temas. A falta <strong>de</strong> confiança no técnico que faz a interlocução, o risco e aincerteza da ativida<strong>de</strong> agrícola fazem com que ele pense menos ainda na ativida<strong>de</strong> florestal. Ese estamos pensan<strong>do</strong> numa ativida<strong>de</strong> agrícola <strong>de</strong> ciclo curto, <strong>de</strong>vemos levar em conta que aativida<strong>de</strong> florestal tem ciclos muito mais longos, para se pensar numa política agrícola clara e<strong>de</strong>finida.Os problemas se relacionam ao alto preço <strong>do</strong>s insumos, ao <strong>de</strong>sconhecimento dasvantagens <strong>do</strong>s princípios <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> solos, ao baixo nível <strong>de</strong> aspiração <strong>de</strong>sse público,ao tradicionalismo nas relações, às crenças e tabus. Para se começar um processo <strong>de</strong>modificação é preciso consi<strong>de</strong>rar aquela relação perpetuada e a diversificação <strong>de</strong> outrasativida<strong>de</strong>s mais generosas economicamente.Outra questão é o saber. O <strong>de</strong>sconhecimento das inovações nos leva a pensar na<strong>de</strong>ficiência e no mau uso <strong>do</strong>s meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa. Estamos, <strong>de</strong> um la<strong>do</strong>,preocupa<strong>do</strong>s em transmitir a mensagem da conservação, mas <strong>de</strong> outro não há a preocupação<strong>de</strong> quem é o interlocutor, com quem é que estou procuran<strong>do</strong> estabelecer uma relação <strong>de</strong>comprometimento com a questão ambiental, através <strong>do</strong> compartilhar. O baixo nível <strong>de</strong>escolarida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse público e a baixa relação entre o técnico e o produtor, on<strong>de</strong> inexiste umarelação <strong>de</strong> confiança, dificultam que se estabeleçam coisas <strong>de</strong> longo prazo.Temos que mostrar o caminho, a forma <strong>de</strong> fazer. Mas há um conhecimento insuficienteda inovação, pouca relação <strong>do</strong> técnico com o produtor e uma resistência ao associativismo.7Como é que se pensam essas três coisas? A aproximação entre a universida<strong>de</strong> comtécnicas <strong>de</strong> melhoramento e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agregar valor ao produtor ainda é feita <strong>de</strong>forma bastante precária, e ainda há a insegurança <strong>do</strong> próprio técnico lidan<strong>do</strong> com as questões.É fundamental nesse processo enten<strong>de</strong>r que em uma bacia hidrográfica, precisamossaber qual a melhor composição <strong>de</strong> cenário entre conservação <strong>de</strong> solos e florestas. Porque sepensarmos que uma bacia tem <strong>de</strong> ser inteiramente vegetada, <strong>de</strong>vemos também saber queessa floresta consome água. E aí eu lanço uma pergunta: se uma bacia que está <strong>de</strong>gradada,ou seja, vem <strong>de</strong>cain<strong>do</strong> a sua produção <strong>de</strong> água, será que num primeiro momento eu tenho quetrabalhar com conservação <strong>de</strong> solos, ou com florestas? Qual é o mix i<strong>de</strong>al para essa situação?50
(Não esquecen<strong>do</strong> nunca <strong>de</strong> que atrás <strong>de</strong>ssa pergunta existe uma pessoa). Há <strong>de</strong>ficiência norepasse da pesquisa sobre os produtos trabalha<strong>do</strong>s.Essa é a área on<strong>de</strong>, a meu ver, precisamos avançar; avançar bastante na aproximaçãoda universida<strong>de</strong> e das instituições <strong>de</strong> pesquisa com o produtor, nosso interlocutor e que vaifazer com que a gestão ambiental seja colocada em prática. Se pensarmos na produção <strong>de</strong>água, ela não é feita nos centros urbanos, mas no meio rural, e aí se <strong>de</strong>stacam principalmenteos riscos e as incertezas comerciais <strong>de</strong>ssas relações, pois existem questões das condiçõesintrínsecas da proprieda<strong>de</strong>, como: topografia, tipo <strong>de</strong> solo, recursos hídricos e coberturavegetal, que se juntam a um baixo po<strong>de</strong>r aquisitivo, difícil acesso ao crédito rural e um altopreço <strong>do</strong>s insumos. Essas questões compõem o pano <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> nosso interlocutor. Aquelesque me prece<strong>de</strong>ram já colocaram essa situação que pu<strong>de</strong> aprofundar: é preciso chegar maisperto <strong>de</strong> nosso parceiro em qualquer projeto <strong>de</strong> recuperação da bacia, que é o produtor rural.Assim, po<strong>de</strong>remos começar a falar da problemática ambiental, que ao nosso ver, precisaser compreendida a partir <strong>de</strong>ssas inter-relações da socieda<strong>de</strong>, que até hoje têm si<strong>do</strong>perversas, e com os seus aspectos próprios começam a <strong>de</strong>linear questões <strong>do</strong> meio físiconatural.O produtor rural só ara morro abaixo porque não foi passada para ele uma outra técnica.E não é só ir lá e falar para ele, ou dar a ele um trator; é preciso que haja essa interação paramodificação <strong>de</strong> paradigma. Temos que fazer essa modificação no micro, no pequeno. Mas issoé complica<strong>do</strong> porque <strong>de</strong>manda tempo, <strong>de</strong>mora; um trabalho <strong>de</strong> educação ambiental para queas pessoas comecem a fazer to<strong>do</strong> esse envolvimento leva cerca <strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos e meio. Quan<strong>do</strong>to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> começa a aparecer na fotografia: Sabesp, prefeitura, professor, aluno, vocêcomeça a ver que este processo <strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos e meio é precisa ser <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s nós.Nesse senti<strong>do</strong>, a problemática ambiental em sua complexida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> sercompreendida segun<strong>do</strong> a técnica <strong>de</strong> uma única ciência, ela convoca diversos campos <strong>do</strong> saber.Nós interagimos no limite das nossas áreas <strong>de</strong> conhecimento. Essas áreas <strong>de</strong> interface fazemcom que nós também repensemos as nossas relações institucionais e interdisciplinares <strong>de</strong> talforma que nenhuma área <strong>do</strong> conhecimento específico tem competência para <strong>de</strong>cidir sobre ela,embora muitos tenham o que dizer - e precisamos aprimorar esse “muitos têm o que dizer”.Vejo não só em relação à ciência, ao outro, precisamos melhorar esse mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> conhecerinterdisciplinar e <strong>de</strong> inter-relacionamento.Precisamos ter comprometimento com o ato pedagógico, um ato <strong>de</strong> construção <strong>de</strong>sseconhecimento, feito na dialética entre a teoria e a prática: fazer, experienciar, tornar a fazer,para que esse reconhecimento da realida<strong>de</strong> implique em assumir a complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r.Se nós não caminharmos para isso e para aquela questão mais pontual da pessoa, nãoconseguiremos avançar, porque aí nós jogaríamos o problema para as instituições públicas,que por sua vez retornam para o cidadão, e aí fica aquela discussão intensa e nada <strong>de</strong>concreto é feito. Nesse senti<strong>do</strong>, a gestão ambiental é um processo <strong>de</strong> mediação <strong>de</strong> interesses econflitos. Esse processo <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> e re<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> continuamente procura englobar com osdiferentes atores sociais medidas práticas e alteran<strong>do</strong> a qualida<strong>de</strong> ambiental num <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>momento e distribuin<strong>do</strong> na socieda<strong>de</strong> os custos e benefícios <strong>de</strong>correntes da ação daquelesagentes.Toda concepção meto<strong>do</strong>lógica que organiza o processo <strong>de</strong> ensino e aprendiza<strong>do</strong> nosprogramas <strong>de</strong> educação continuada <strong>do</strong>s profissionais <strong>de</strong> área ambiental <strong>de</strong>veria se basear noexercício das premissas acima. Se não fizermos isso, teremos uma lacuna muito gran<strong>de</strong> entreos projetos que estão se operacionalizan<strong>do</strong> e o conhecimento.Vou colocar para reflexão. Essa conformação geológica <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Paraíba sobre a qualeu falei no início nos faz pensar que os anos <strong>de</strong> ciclo <strong>de</strong> exploração predatória faz com que osolo não cumpra sua função hidrológica <strong>de</strong> reservar essa água para disponibilizá-la ao longo <strong>do</strong>tempo. Então, urge pensar que precisamos racionalizar, reutilizar os centros urbanos erepensar essas práticas nas nossas áreas <strong>de</strong> cabeceira. E há uma outra coisa: nós estamos emdéficit hídrico.Feitas essas consi<strong>de</strong>rações tanto na educação ambiental, quanto ligadas ao produtorrural, o sentimento <strong>de</strong> pertencimento <strong>do</strong>s atores em relação ao processo é condição essencial<strong>de</strong> capacitação que está voltada ao atendimento <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>mandas, com objetivo <strong>de</strong> levar aoempo<strong>de</strong>ramento que subsidiará a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão coletiva. É fato que os projetosambientais <strong>de</strong>vem estabelecer processos participativos; a participação tem o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong>51
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