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Anais Encontro Água & Floresta - SIGAM - Governo do Estado de ...

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hidrográfica, porque a evolução, a relação evolutiva entre uma coisa e outra é tão forte, quenão po<strong>de</strong>mos pensar em plantar mata ciliar <strong>de</strong> uma bacia para outra.Sobre as interações ecológicas <strong>de</strong> que falamos, quan<strong>do</strong> restauramos mata ciliar nãopo<strong>de</strong>mos pensar ‘um tronco caiu <strong>de</strong> repente, temos que tirar’, não, faz parte <strong>de</strong>ssa interação,<strong>de</strong>ssa complexida<strong>de</strong>. Uma <strong>de</strong>finição interessante para zonas ripárias é a <strong>de</strong> interface entre <strong>do</strong>isecossistemas, o terrestre e o aquático. Sabemos que essas áreas são caracterizadas por umaalta variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fatores ambientais e processos ecológicos, mais ou menos água,velocida<strong>de</strong>. Então alguém <strong>de</strong>fine também que a zona ripária pertence mais ao riacho <strong>do</strong> que àzona terrestre. Seria como um subsistema <strong>do</strong> próprio sistema aquático. Há <strong>de</strong>limitaçãoespacial, mas também uma dinâmica, uma <strong>de</strong>limitação temporal, varia ao longo <strong>do</strong> ano com asestações. Isso é totalmente <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>, <strong>de</strong>srespeita<strong>do</strong>, e a própria lei passa por cima disso.Por ser muito complexa, a vegetação ripária possui alta diversida<strong>de</strong> florística. E na escalada microbacia, essa mata ripária <strong>de</strong>sempenha papel fundamental no regime ambiental <strong>do</strong>ecossistema aquático. A composição florística <strong>de</strong>ssas áreas apresenta enorme variação, e essavariabilida<strong>de</strong> também é função <strong>de</strong> vários fatores, incluin<strong>do</strong> a hidrologia, que dá suporte geoecológicopara a ocorrência da mata ciliar. Através <strong>de</strong> adaptações morfo-geológicas, háespécies que conseguem sobreviver e viver em áreas encharcadas, adaptações reprodutivas <strong>de</strong>espécies que só jogam a semente, chamadas <strong>de</strong> hidrológicas, além daquelas espécies em queo florescimento é sintoniza<strong>do</strong> com o final da estação chuvosa, a fim <strong>de</strong> que haja oportunida<strong>de</strong><strong>de</strong> permanência. Então essas adaptações permitem i<strong>de</strong>ntificar o que é vegetação ripária emrelação a outro tipo <strong>de</strong> vegetação.Por outro la<strong>do</strong>, a vegetação ripária também influencia a hidrologia. Através <strong>de</strong> váriosprocessos, como a dinâmica hidráulica <strong>do</strong>s canais, a geração <strong>do</strong> escoamento direto (ou seja, aresposta <strong>de</strong> cada microbacia a um evento <strong>de</strong> chuva, se vai sair mais por escoamento artificialou por infiltração), tu<strong>do</strong> isso interfere na saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> ecossistema ripário, <strong>de</strong>posição e arrasto <strong>de</strong>sedimentos, aporte <strong>de</strong> tronco, fontes <strong>de</strong> alimentos para organismos aquáticos, controle datemperatura da água, da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água, <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> macro-invertebra<strong>do</strong>s.A mata ciliar protege as áreas hidrologicamente sensíveis das microbacias. Ao restauraras funções hidrológicas, precisamos ver se queremos contribuir para a busca <strong>do</strong> manejosustentável, ou <strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong> manejo que caminhe nessa direção, como por exemplo omanejo integra<strong>do</strong>, que é volta<strong>do</strong> para a produção, mas preocupa<strong>do</strong> com a manutenção daqualida<strong>de</strong> ambiental. Se queremos encontrar uma forma <strong>de</strong> restabelecer o ecossistema ripário,temos <strong>de</strong> primeiro <strong>de</strong>finir on<strong>de</strong> estão as áreas ripárias, levar em conta que têm uma<strong>de</strong>limitação espacial e são também dinâmicas. É a geomorfologia que dirá on<strong>de</strong> a paisagem émais ou menos sensível hidrologicamente. O Código <strong>Floresta</strong>l mu<strong>do</strong>u, agora fala que consi<strong>de</strong>ra<strong>de</strong> preservação permanente a ‘área’, não fala mais a ‘vegetação’.Esses serviços ambientais que a integrida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s ecossistemas ripários promove <strong>de</strong>corremunicamente <strong>do</strong> ‘tamponamento’ <strong>do</strong>s processos hidrológicos, a interceptação <strong>do</strong>s processos <strong>de</strong>escoamento direto. Quan<strong>do</strong> chove, a forma como a microbacia se encontra é que indica sevamos ter enxurrada ou água entran<strong>do</strong> no solo e reabastecen<strong>do</strong> o lençol freático, manten<strong>do</strong> avazão ecológica. Então é o papel <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong> pelos ecossistemas ripários no tamponamentoou na interceptação <strong>de</strong>sses processos hidrológicos na escala da microbacia que mantém essesserviços. E esse tamponamento varia <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com solo, profundida<strong>de</strong>, umida<strong>de</strong>, mas variaprincipalmente com as formas <strong>de</strong> manejo. Não dá pra ser <strong>de</strong>sintegra<strong>do</strong>, se eu só cuidar damata ripária e esquecer essas coisas, não tem jeito. Portanto, a manutenção da integrida<strong>de</strong><strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> práticas sadias <strong>de</strong> uso da terra em toda a microbacia.‘Resiliência ecológica’ po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alteração que oecossistema ripário po<strong>de</strong> absorver sem mudar seu esta<strong>do</strong>. O ecossistema ripário já estáconstantemente sujeito a pancadas naturais; <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da chuva, não há floresta quesegure, haverá enchente, transbordamento, ele tem que estar forte para agüentar essascoisas. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alterações que po<strong>de</strong> absorver <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da diversida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s gruposfuncionais que possui. Isso <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> ao se resgatar mata ciliar.No nosso país e em muitos outros, a causa principal da <strong>de</strong>gradação hidrológica foi aperda gradativa da resiliência das microbacias hidrográficas ou <strong>do</strong>s ecossistemas ripários. Nãoprecisa ir longe, não precisa nem sair da cida<strong>de</strong>, é só passar por qualquer riachinho para ver. Ecomo fazemos para mudar esse esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> coisas, como enxergaríamos o manejo <strong>do</strong>ecossistema ripário, não no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> cortar, mas <strong>de</strong> manter aquele funcionamento, comopo<strong>de</strong>mos agregar resiliência neste ecossistema <strong>de</strong>grada<strong>do</strong>?29

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