vegetação que está a 30 metros, 100 metros, mas a área que <strong>de</strong>ve ser preservada. E colocaaté um parêntese: (com ou sem vegetação), não importa, é a área porque é <strong>de</strong>la que resultamos serviços ambientais. Quan<strong>do</strong> i<strong>de</strong>ntificamos essas áreas na escala das microbacias e avegetação característica <strong>de</strong>ssas áreas, a ripária ou mata ciliar, começa a ocorrer o queecologicamente chamamos <strong>de</strong> interações ripárias. To<strong>do</strong> esse conjunto <strong>de</strong>fine o que chamamos<strong>de</strong> ecossistema ripário, o responsável pela água, que mantém o mais importante serviçoambiental liga<strong>do</strong> à proteção <strong>do</strong>s recursos hídricos.Se começarmos só a plantar floresta, na realida<strong>de</strong> estamos diminuin<strong>do</strong> a quantida<strong>de</strong>, adisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água superficial, pois a floresta consome bastante água, não só o eucalipto,mas a floresta em geral. Mas o ecossistema ripário na escala da microbacia mantém o que éimportante: a regularida<strong>de</strong> da vazão. Esse serviço ambiental, tanto <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong>regularida<strong>de</strong>, da qualida<strong>de</strong> e da quantida<strong>de</strong>, é fundamentalmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> quechamamos <strong>de</strong> ‘integrida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ecossistema ripário’, e aí a complexida<strong>de</strong> aumenta, mas é issoque temos <strong>de</strong> restaurar: a integrida<strong>de</strong>.Cada microbacia é diferente da outra, ou seja, respeita os processos evolucionáriosadapta<strong>do</strong>s às condições locais <strong>de</strong> clima, geologia, etc. Coletivamente, essas coisas nosfornecem aquilo que é a medida da vitalida<strong>de</strong>, da estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse ecossistema <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> pelamicrobacia. E po<strong>de</strong>mos monitorar essa vitalida<strong>de</strong> através da quantida<strong>de</strong> e da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>água, da composição da comunida<strong>de</strong> ripária que está protegen<strong>do</strong> as zonas ripárias, a fauna, oque passa também pela questão da diversida<strong>de</strong> genética. Portanto, quan<strong>do</strong> se pensa emrecuperar área <strong>de</strong>gradada, significa manter a água, <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> ou quantida<strong>de</strong>, e manejosustentável (o manejo sustentável foi feito para ser a vigilância permanente, é o conceitofundamental por trás da expressão <strong>de</strong>senvolvimento sustentável).Assim, a primeira coisa que precisamos saber <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista hidrológico é i<strong>de</strong>ntificar e<strong>de</strong>limitar espacialmente a extensão das zonas ripárias: são 30 metros, 100 metros? Nanatureza nada é linear ou simétrico como a lei tenta impor para a gente, mas já sabemoscomo são i<strong>de</strong>ntificadas as zonas ripárias na escala das microbacias hidrográficas, o que émuito importante.Outro aspecto seria procurar restaurar uma ‘faixinha’ <strong>de</strong> vegetação voltada àquelaintegrida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ecossistema ripário, que passa por proteger as áreas ripárias, <strong>de</strong>senvolver avegetação característica <strong>de</strong>ssas áreas e dar início ao processo das interações ecológicas quecomeçam a ser <strong>de</strong>senvolvidas, pois é isso que queremos resgatar.Não adianta ficarmos falan<strong>do</strong> <strong>de</strong> elementos isola<strong>do</strong>s, pensarmos ‘ao invés <strong>de</strong> plantar isso,vou plantar aquilo’, pois existe uma interação muito forte entre o ecossistema aquático e essavegetação: qualquer alteração nela, segun<strong>do</strong> o conceito <strong>de</strong> ecossistema ripário, vai afetar asrelações.A largura da mata ciliar, por exemplo, é outro elemento isola<strong>do</strong>, não há nenhumajustificativa para achar que tem que ser X metros ao longo <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o curso d’água. Outroelemento isola<strong>do</strong> é achar que só a mata ciliar vai resolver o problema. Tem <strong>de</strong> haver o manejointegra<strong>do</strong>, ou seja, a manutenção <strong>de</strong>sse elemento que foi restaura<strong>do</strong> ou forma<strong>do</strong> ao longo dasáreas ripárias vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>do</strong> manejo que se aplica em toda a área da bacia hidrográfica.Uma cerca isolan<strong>do</strong> a mata ciliar que foi restaurada não vai resolver o problema, é precisoolhar as outras coisas que estão acontecen<strong>do</strong> ao longo da bacia e po<strong>de</strong>m estar afetan<strong>do</strong> estaintegrida<strong>de</strong>.Enxergan<strong>do</strong> então uma microbacia, as cabeceiras <strong>de</strong> drenagem e os cursos d’água,po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar <strong>do</strong>is conjuntos <strong>de</strong> coisas que <strong>de</strong>finem a saú<strong>de</strong> da bacia: a água, ou o quechamamos <strong>de</strong> processos hidrológicos, qualida<strong>de</strong>, quantida<strong>de</strong>, processo <strong>de</strong> vazão (quan<strong>do</strong>enxergamos o riacho neste contexto vemos que não é apenas a água, mas também a vida, oecossistema aquático); e a questão da diversida<strong>de</strong> biológica, vista agora na escala damicrobacia, protegen<strong>do</strong> áreas que <strong>de</strong>vem ser protegidas, que são as zonas ripárias, cabeceiras<strong>de</strong> drenagem.Começamos a pensar então ‘o que é esse tal <strong>de</strong> ecossistema ripário’? Sabemos o que érestaurar?’. Temos que saber o que se busca com a recuperação e o que estamos per<strong>de</strong>n<strong>do</strong>com a <strong>de</strong>gradação. Sabemos que a questão é complexa e se <strong>de</strong>senvolve em função <strong>de</strong>diversos fatores ambientais: hidrologia, geomorfologia (solo, luz, temperatura...), entreoutros. A hidrologia é um <strong>do</strong>s elementos-chave <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> ecossistema ripário.Autores já falam que teremos <strong>de</strong> pensar em restaurar mata ciliar basea<strong>do</strong>s em cada bacia28
hidrográfica, porque a evolução, a relação evolutiva entre uma coisa e outra é tão forte, quenão po<strong>de</strong>mos pensar em plantar mata ciliar <strong>de</strong> uma bacia para outra.Sobre as interações ecológicas <strong>de</strong> que falamos, quan<strong>do</strong> restauramos mata ciliar nãopo<strong>de</strong>mos pensar ‘um tronco caiu <strong>de</strong> repente, temos que tirar’, não, faz parte <strong>de</strong>ssa interação,<strong>de</strong>ssa complexida<strong>de</strong>. Uma <strong>de</strong>finição interessante para zonas ripárias é a <strong>de</strong> interface entre <strong>do</strong>isecossistemas, o terrestre e o aquático. Sabemos que essas áreas são caracterizadas por umaalta variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fatores ambientais e processos ecológicos, mais ou menos água,velocida<strong>de</strong>. Então alguém <strong>de</strong>fine também que a zona ripária pertence mais ao riacho <strong>do</strong> que àzona terrestre. Seria como um subsistema <strong>do</strong> próprio sistema aquático. Há <strong>de</strong>limitaçãoespacial, mas também uma dinâmica, uma <strong>de</strong>limitação temporal, varia ao longo <strong>do</strong> ano com asestações. Isso é totalmente <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>, <strong>de</strong>srespeita<strong>do</strong>, e a própria lei passa por cima disso.Por ser muito complexa, a vegetação ripária possui alta diversida<strong>de</strong> florística. E na escalada microbacia, essa mata ripária <strong>de</strong>sempenha papel fundamental no regime ambiental <strong>do</strong>ecossistema aquático. A composição florística <strong>de</strong>ssas áreas apresenta enorme variação, e essavariabilida<strong>de</strong> também é função <strong>de</strong> vários fatores, incluin<strong>do</strong> a hidrologia, que dá suporte geoecológicopara a ocorrência da mata ciliar. Através <strong>de</strong> adaptações morfo-geológicas, háespécies que conseguem sobreviver e viver em áreas encharcadas, adaptações reprodutivas <strong>de</strong>espécies que só jogam a semente, chamadas <strong>de</strong> hidrológicas, além daquelas espécies em queo florescimento é sintoniza<strong>do</strong> com o final da estação chuvosa, a fim <strong>de</strong> que haja oportunida<strong>de</strong><strong>de</strong> permanência. Então essas adaptações permitem i<strong>de</strong>ntificar o que é vegetação ripária emrelação a outro tipo <strong>de</strong> vegetação.Por outro la<strong>do</strong>, a vegetação ripária também influencia a hidrologia. Através <strong>de</strong> váriosprocessos, como a dinâmica hidráulica <strong>do</strong>s canais, a geração <strong>do</strong> escoamento direto (ou seja, aresposta <strong>de</strong> cada microbacia a um evento <strong>de</strong> chuva, se vai sair mais por escoamento artificialou por infiltração), tu<strong>do</strong> isso interfere na saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> ecossistema ripário, <strong>de</strong>posição e arrasto <strong>de</strong>sedimentos, aporte <strong>de</strong> tronco, fontes <strong>de</strong> alimentos para organismos aquáticos, controle datemperatura da água, da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água, <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> macro-invertebra<strong>do</strong>s.A mata ciliar protege as áreas hidrologicamente sensíveis das microbacias. Ao restauraras funções hidrológicas, precisamos ver se queremos contribuir para a busca <strong>do</strong> manejosustentável, ou <strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong> manejo que caminhe nessa direção, como por exemplo omanejo integra<strong>do</strong>, que é volta<strong>do</strong> para a produção, mas preocupa<strong>do</strong> com a manutenção daqualida<strong>de</strong> ambiental. Se queremos encontrar uma forma <strong>de</strong> restabelecer o ecossistema ripário,temos <strong>de</strong> primeiro <strong>de</strong>finir on<strong>de</strong> estão as áreas ripárias, levar em conta que têm uma<strong>de</strong>limitação espacial e são também dinâmicas. É a geomorfologia que dirá on<strong>de</strong> a paisagem émais ou menos sensível hidrologicamente. O Código <strong>Floresta</strong>l mu<strong>do</strong>u, agora fala que consi<strong>de</strong>ra<strong>de</strong> preservação permanente a ‘área’, não fala mais a ‘vegetação’.Esses serviços ambientais que a integrida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s ecossistemas ripários promove <strong>de</strong>corremunicamente <strong>do</strong> ‘tamponamento’ <strong>do</strong>s processos hidrológicos, a interceptação <strong>do</strong>s processos <strong>de</strong>escoamento direto. Quan<strong>do</strong> chove, a forma como a microbacia se encontra é que indica sevamos ter enxurrada ou água entran<strong>do</strong> no solo e reabastecen<strong>do</strong> o lençol freático, manten<strong>do</strong> avazão ecológica. Então é o papel <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong> pelos ecossistemas ripários no tamponamentoou na interceptação <strong>de</strong>sses processos hidrológicos na escala da microbacia que mantém essesserviços. E esse tamponamento varia <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com solo, profundida<strong>de</strong>, umida<strong>de</strong>, mas variaprincipalmente com as formas <strong>de</strong> manejo. Não dá pra ser <strong>de</strong>sintegra<strong>do</strong>, se eu só cuidar damata ripária e esquecer essas coisas, não tem jeito. Portanto, a manutenção da integrida<strong>de</strong><strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> práticas sadias <strong>de</strong> uso da terra em toda a microbacia.‘Resiliência ecológica’ po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alteração que oecossistema ripário po<strong>de</strong> absorver sem mudar seu esta<strong>do</strong>. O ecossistema ripário já estáconstantemente sujeito a pancadas naturais; <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da chuva, não há floresta quesegure, haverá enchente, transbordamento, ele tem que estar forte para agüentar essascoisas. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alterações que po<strong>de</strong> absorver <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da diversida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s gruposfuncionais que possui. Isso <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> ao se resgatar mata ciliar.No nosso país e em muitos outros, a causa principal da <strong>de</strong>gradação hidrológica foi aperda gradativa da resiliência das microbacias hidrográficas ou <strong>do</strong>s ecossistemas ripários. Nãoprecisa ir longe, não precisa nem sair da cida<strong>de</strong>, é só passar por qualquer riachinho para ver. Ecomo fazemos para mudar esse esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> coisas, como enxergaríamos o manejo <strong>do</strong>ecossistema ripário, não no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> cortar, mas <strong>de</strong> manter aquele funcionamento, comopo<strong>de</strong>mos agregar resiliência neste ecossistema <strong>de</strong>grada<strong>do</strong>?29
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