Ao falar da questão da integração entre água, floresta e uso <strong>do</strong> solo, vale lembrar queestamos numa bacia em que precisamos conquistar corações e mentes para trabalhar <strong>de</strong> fatoessa integração. É uma área <strong>de</strong> 56 mil quilômetros quadra<strong>do</strong>s, com cerca <strong>de</strong> 13% <strong>de</strong> coberturaflorestal (nos três esta<strong>do</strong>s, São Paulo, Minas Gerais e Rio <strong>de</strong> Janeiro); uma bacia que viveeternamente o risco <strong>de</strong> sofrer com o problema <strong>de</strong> abastecimento público por conta <strong>do</strong>problema <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água. Sem dúvida nosso trabalho <strong>de</strong> educaçãoambiental e <strong>de</strong> integração entre água, floresta e uso <strong>do</strong> solo é muito importante, pois temosque conquistar diferentes setores e instituições.Para isso realizamos vários trabalhos no WWF. Através <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Água, contamoscom um componente <strong>de</strong> educação e integração entre água, floresta e uso <strong>do</strong> solo. No Paraíba<strong>do</strong> Sul, a partir <strong>de</strong> uma parceria com o próprio Ceivap em 2003, junto com o ConselhoNacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e a SOS Mata Atlântica, realizamos umtrabalho <strong>de</strong> águas e florestas: foram feitas três oficinas, uma em cada esta<strong>do</strong> da bacia e umworkshop final em Itatiaia. No ca<strong>de</strong>rno número 2 (no site www.rbma.org.br) estão to<strong>do</strong>s osresulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sse trabalho.Num primeiro momento, procuramos i<strong>de</strong>ntificar quais as instituições que trabalham comágua, floresta e uso <strong>do</strong> solo na bacia. Tentamos, mas não conseguimos i<strong>de</strong>ntificar todas.Vimos inclusive on<strong>de</strong> havia lacunas para trabalharmos a questão da integração entre água,floresta e uso <strong>do</strong> solo, e uma <strong>de</strong>las foi a questão da capacitação para a integração. Hoje essaparceria continua com a agência <strong>do</strong> Paraíba <strong>do</strong> Sul, a Agevap, e estamos trabalhan<strong>do</strong> paraselecionar áreas on<strong>de</strong> as empresas <strong>de</strong> abastecimento já estejam com problemas <strong>de</strong> captaçãoem função <strong>do</strong> assoreamento <strong>do</strong> rio. Visitamos algumas áreas on<strong>de</strong> o problema é bastantesério, em São Paulo, Minas Gerais e Rio <strong>de</strong> Janeiro, e é impressionante como as empresas jáparam seu sistema <strong>de</strong> captação por conta <strong>do</strong> assoreamento <strong>do</strong> rio. Lamentavelmente não setrabalha a questão da recuperação florestal associada a isso.Hoje, muitas vezes os recursos da cobrança vão para as Estações <strong>de</strong> Tratamento <strong>de</strong>Esgoto (ETEs). Claro que não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> trabalhar a importância da construção <strong>de</strong>ETEs, mas não se trata somente disso. Neste caso, o foco <strong>de</strong>ve estar na importância da água efloresta juntas, pois é lamentável que a empresa <strong>de</strong> abastecimento pare o sistema <strong>de</strong> captaçãopor dias e não tenha nenhum trabalho <strong>de</strong> recuperação florestal, nem mesmo no ponto <strong>de</strong>captação. Evi<strong>de</strong>ntemente há to<strong>do</strong> um trajeto a ser percorri<strong>do</strong>. Muitas vezes quan<strong>do</strong> falamos <strong>de</strong>educação ambiental, por exemplo, a dificulda<strong>de</strong> é <strong>de</strong> fazer isso chegar aos proprietários rurais.Quan<strong>do</strong> vamos nessas bacias, ficamos abisma<strong>do</strong>s. Recentemente estive na bacia <strong>do</strong> AltoTocantins, que é o berço das águas <strong>de</strong> muitas bacias importantes no Brasil, a <strong>do</strong> Paraguai, <strong>do</strong>Paraná, e já há ali o problema <strong>de</strong> turbi<strong>de</strong>z nas águas. Já são em torno <strong>de</strong> 2 mil ppm, o que éalto, e exatamente por conta <strong>do</strong> problema da integração <strong>de</strong> água e floresta.Um <strong>do</strong>s nossos trabalhos <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong>monstrativo on<strong>de</strong> a componente <strong>de</strong> educaçãoambiental é marcante acontece no rio São João (RJ) e no Miranda (MS) – o primeiro começoucom consórcios, um <strong>do</strong>s primeiros com câmara técnica <strong>de</strong> educação ambiental. No São João,por exemplo, está o primeiro comitê <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro que aplica a cobrança pelo uso da água.A legislação no Rio <strong>de</strong> Janeiro está sen<strong>do</strong> questionada, mas já há a cobrança, exatamente poresse trabalho da câmara técnica <strong>de</strong> educação ambiental que vinha <strong>do</strong> consórcio. Dentro <strong>do</strong>orçamento <strong>do</strong> recurso da cobrança, conseguiram aprovar 20% para programas <strong>de</strong> educaçãoambiental.No Miranda, conseguimos colaborar com a criação <strong>do</strong> primeiro comitê <strong>de</strong> bacia <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><strong>do</strong> Mato Grosso <strong>do</strong> Sul, com uma importância diferenciada. Se olharmos o mapa <strong>do</strong> Brasil, hácerca <strong>de</strong> 140 comitês <strong>de</strong> bacia, mas a gran<strong>de</strong> maioria está na faixa costeira, não em direção aointerior <strong>do</strong> país. Aí está o <strong>de</strong>safio da educação ambiental: mostrar a importância <strong>de</strong>trabalharmos preventivamente, antes <strong>de</strong> o programa chegar. Na bacia <strong>do</strong> Paraíba, porexemplo, a or<strong>de</strong>m estimada para recuperar toda a bacia está em torno <strong>de</strong> 3 bilhões <strong>de</strong> reais.Imagina <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vamos tirar esse recurso para recuperar. Em outras bacias como <strong>do</strong> Miranda,<strong>do</strong> Tocantins, os problemas não são os mesmos, ainda não estão nesse tamanho em termos <strong>de</strong>recuperação. Então a educação ambiental po<strong>de</strong> chegar e mobilizar as pessoas para que,preventivamente, não <strong>de</strong>ixemos chegar a esse ponto.To<strong>do</strong>s os programas no WWF têm o componente <strong>de</strong> educação ambiental e, hoje,especificamente temos no programa <strong>de</strong> água a exposição itinerante – um caminhão que estápercorren<strong>do</strong> o Brasil, basicamente com educação ambiental, e a visita das pessoas leva emtorno <strong>de</strong> 1h30. Já percorremos várias cida<strong>de</strong>s: Curitiba, Porto Alegre, São Paulo, Brasília, Rio4
<strong>de</strong> Janeiro. E esse trabalho tem levanta<strong>do</strong> e procura<strong>do</strong> em cada cida<strong>de</strong> treinar monitores locaispra receber os visitantes; sempre <strong>de</strong>ixamos uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> educa<strong>do</strong>res que trabalham aeducação ambiental em cada município. A idéia é exatamente essa: formar uma re<strong>de</strong> pra queesses monitores conversem, troquem experiências sobre as questões ambientais locais,regionais e <strong>do</strong> Brasil.Também <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> programa <strong>de</strong> água está o projeto ‘A<strong>do</strong>te uma Nascente’, que começouem Brasília, em 16 nascentes, e hoje já tem em torno <strong>de</strong> 60 nascentes a<strong>do</strong>tadas porproprietários rurais, exatamente na área <strong>do</strong> proprietário on<strong>de</strong> está essa nascente. Estamosmostran<strong>do</strong> a importância <strong>de</strong> ele a<strong>do</strong>tar a fonte <strong>de</strong> água e buscamos parceria com asinstituições locais - no caso <strong>de</strong> Brasília, com a empresa <strong>de</strong> saneamento da capital. Esse éinclusive um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio da educação ambiental, <strong>de</strong> trabalhar junto com as empresas <strong>de</strong>abastecimento para a<strong>do</strong>tarem a importância <strong>de</strong> trabalhar a integração <strong>de</strong> água, floresta e uso<strong>de</strong> solo.Há ainda a publicação ‘Água, cida<strong>de</strong>s e floresta’, resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma pesquisa feita em 105das maiores cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, e 30% <strong>de</strong>ssas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> áreas protegidas para seuabastecimento. Isso mostra que se trabalharmos a conservação, o custo para a qualida<strong>de</strong> equantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água será seis vezes menor, e isso vem <strong>de</strong> encontro ao que é o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio<strong>de</strong> quem trabalha com a questão ambiental: entrar no <strong>de</strong>bate da questão econômica. Orelatório <strong>de</strong>sta semana <strong>do</strong> governo britânico - que mostra que 20% <strong>do</strong> PIB <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> po<strong>de</strong>ráser per<strong>de</strong>r até 2050 em função da não-manutenção <strong>do</strong>s recursos naturais – revela que nós quetrabalhamos com a questão ambiental <strong>de</strong>vemos entrar nesse <strong>de</strong>bate, no <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> falar umalinguagem para to<strong>do</strong>s, não a que usamos para nós mesmos, pois nós já gostamos <strong>do</strong>ambiente. Agora temos que sensibilizar os outros, aqueles que ainda não estão participan<strong>do</strong>, enesse caso, possivelmente a linguagem que teremos que falar é a econômica, da mudança <strong>de</strong>mo<strong>de</strong>lo, para que ganhemos outros corações e mentes para esse trabalho educativo.Outra questão é a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se integrarem as políticas públicas na questão <strong>de</strong> água efloresta. Se vamos num seminário que trata <strong>do</strong> papel das Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação (UC), nemsempre o tema está associa<strong>do</strong> à importância das UCs para preservação <strong>de</strong> recursos hídricos, evice-versa,; num evento <strong>de</strong> recursos hídricos não se fala da floresta. Tem que haver apercepção <strong>de</strong> que vivemos no planeta Terra, não vivemos só em São Paulo, Barra Mansa, nabacia <strong>do</strong> Paraíba <strong>do</strong> Sul... É claro que não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> observar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> local, masprecisamos pensar <strong>de</strong> forma global <strong>de</strong> forma conjugada com as ações locais.A educação ambiental também <strong>de</strong>ve ser trabalhada para to<strong>do</strong>s, crianças, jovens eadultos. Não dá para falar apenas para criança, nós temos <strong>de</strong> falar com adultos também, nãopo<strong>de</strong>rmos repassar toda a responsabilida<strong>de</strong> da conservação para as crianças, daqui a poucoelas não vão ter nada para salvar.E há a questão da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social. Os números liga<strong>do</strong>s à água mostram essa relação,com a maioria <strong>do</strong>s leitos hospitalares ocupa<strong>do</strong>s por pessoas com <strong>do</strong>enças originadas na máqualida<strong>de</strong> da água, pessoas na faixa <strong>de</strong> pobreza moran<strong>do</strong> perto <strong>de</strong> valas negras. Se nãoenfrentarmos a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social, será difícil.Além disso, temos <strong>de</strong> conhecer os conflitos já existentes em cada região. Na questão <strong>de</strong>recursos hídricos, que envolve a <strong>de</strong>scentralização e a participação, com certeza a informação éum componente fundamental para que a gestão seja <strong>de</strong> fato <strong>de</strong>scentralizada e participativa.Sem informação, como as pessoas vão tomar <strong>de</strong>cisão? Não adianta um técnico falar <strong>de</strong>‘outorga’, ‘vazão’, para um público leigo. Pelo plano <strong>de</strong> bacia, por exemplo - componenteimportante da gestão <strong>de</strong> recursos hídricos e que obviamente será aprova<strong>do</strong> pelo comitê <strong>de</strong>bacia -, po<strong>de</strong>mos fazer um gran<strong>de</strong> pacto na bacia (não só entre os membros <strong>do</strong> comitê,<strong>de</strong>vem-se ouvir vários atores). Esse plano só será construí<strong>do</strong> <strong>de</strong> fato se a informação fordisponibilizada, e aí entra a educação ambiental.No Miranda (MS), o comitê vai elaborar o plano da bacia, mas primeiro temos <strong>de</strong> fazerum programa <strong>de</strong> educação ambiental volta<strong>do</strong> aos recursos hídricos, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que antes <strong>de</strong>discutir o plano a gente tenha oficinas educativas voltadas à gestão, para que se disseminemconceitos básicos, e as pessoas participem da discussão <strong>do</strong> plano <strong>de</strong> bacia. Se poucosdiscutirem o plano, po<strong>de</strong> ser bom, mas o pacto que <strong>de</strong>veria ser construí<strong>do</strong> na bacia será muitomais difícil. Precisamos trazer outros setores, atores e instituições para conversar, e aeducação ambiental é o elemento-chave; ela <strong>de</strong>veria ter si<strong>do</strong> lida como um instrumento <strong>de</strong>gestão <strong>de</strong> recursos hídricos, porque tem tu<strong>do</strong> a ver com a gestão <strong>de</strong>scentralizada eparticipativa.5
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