União. Esse foi o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio nos últimos 10, 15, 20 anos para tentar construir um sistemaque não é simples, não está pronto, que ainda está em construção.Vamos falar <strong>do</strong> conflito que se <strong>de</strong>u entre o mo<strong>de</strong>lo paulista e o fe<strong>de</strong>ral. Brinco quequan<strong>do</strong> via, em 1993, 1994, a discussão sobre o Paraíba <strong>do</strong> Sul, e alguém <strong>de</strong> São Paulo falava,dava a impressão que a bacia acabava na divisa; se passássemos para o la<strong>do</strong> <strong>de</strong> lá, o rio nãoexistia mais. De outro la<strong>do</strong>, se alguém <strong>do</strong> governo fe<strong>de</strong>ral falava sobre a bacia, São Paulo nãoexistia como um ator <strong>de</strong>ntro daquela gestão. Essa falta <strong>de</strong> conversa foi muito complicada.As perguntas que nos colocamos então foram: que instrumentos e arranjos po<strong>de</strong>mpermitir uma maior integração, sinalizan<strong>do</strong> o avanço da gestão integrada? E qual o futuroreserva<strong>do</strong> aos comitês neste trecho? Há e havia, pelo menos até hoje, uma certa tensão sobreo que aconteceria aos comitês <strong>de</strong>sse trecho, qual o futuro <strong>de</strong> um comitê <strong>de</strong> São Paulo frente aum comitê fe<strong>de</strong>ral: sumiria, seria engloba<strong>do</strong>, morreria por inanição e não por <strong>de</strong>creto, querdizer, per<strong>de</strong>ria seu espaço <strong>de</strong> interlocução? E quais as perspectivas <strong>de</strong>sejáveis <strong>de</strong> convivênciaarticulada entre as experiências <strong>de</strong> gestão?Na verda<strong>de</strong>, a questão não é quem vai sobreviver ou não, mas quais as estratégias queesses entes to<strong>do</strong>s, esta<strong>do</strong>, município, União, vão construir, é uma negociação política. Envolvecomo as pessoas fazem para cumprir seus acor<strong>do</strong>s, quais as regras <strong>do</strong> jogo para fazer a coisafuncionar, e qual o preço que vamos pagar para fazer as regras <strong>do</strong> jogo serem cumpridas.No caso da água, por exemplo, quem mora em prédio sabe que o hidrômetro é coletivo,to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> paga a água con<strong>do</strong>minial. Há um apartamento com três pessoas, outro com oitoque tomam banho o dia inteiro, e ao final <strong>do</strong> mês vão pagar a mesma conta <strong>de</strong> água daspessoas <strong>do</strong> prédio. É um dilema que a socieda<strong>de</strong> vive, <strong>de</strong> ter que criar regras <strong>de</strong> convivênciapara fazer a gestão <strong>de</strong> alguns recursos. E precisaremos criar novos sistemas para isso, talvezcolocar um hidrômetro individual em cada apartamento, quem gasta mais paga mais, ou criaruma relação <strong>de</strong> confiança entre os mora<strong>do</strong>res para terem um pacto, uma regra ‘olha gente,banho <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 15 minutos, não’, e ter instituições, regras <strong>de</strong> convivência <strong>do</strong> sistema <strong>de</strong>gestão até <strong>do</strong> próprio prédio.Instituições são vistas como um conjunto <strong>de</strong> normas e relações que analisamcomportamentos a fim <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r necessida<strong>de</strong>s humanas, ou como estratégias <strong>de</strong> superação<strong>de</strong> um dilema <strong>de</strong> ação coletiva. Isso porque o vizinho <strong>de</strong> cima com 10 filhos não vai querereconomizar água, a conta <strong>de</strong>le é ‘quanto mais eu gastar, mais estou economizan<strong>do</strong>’, ou seja‘aquela água <strong>de</strong> que estou me aproprian<strong>do</strong> individualmente é muito mais <strong>do</strong> que estougastan<strong>do</strong> con<strong>do</strong>minialmente, dividi<strong>do</strong> pelos apartamentos <strong>do</strong> prédio’, é negócio para ele gastarágua! Se to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> pensar assim, teremos algo chama<strong>do</strong> ‘tragédia <strong>do</strong>s comuns’ e essa águavai acabar. Temos que superar esse dilema, isso funciona com pastagens, com comunida<strong>de</strong>stradicionais, com sobrepesca, e outros exemplos. Para isso são cria<strong>do</strong>s normas, leis, regras eacor<strong>do</strong>s informais, que po<strong>de</strong>m ser convenções, códigos <strong>de</strong> postura, entre outros.Sobre a bacia especificamente, houve no Brasil um processo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> novas regras<strong>do</strong> jogo. Até então era algo menos complica<strong>do</strong>, a água aparentemente não era tão escassa,não estava com tantos problemas <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. Poucos atores tinham po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>liberação,era muito fácil, você tinha um processo menos <strong>de</strong>mocrático, o setor elétrico era hegemônicoao falar on<strong>de</strong> e quem vai usar água. Nos últimos anos, criou-se uma nova regra <strong>do</strong> jogo <strong>de</strong>consi<strong>de</strong>rar a bacia como unida<strong>de</strong>, a água tem valor econômico, tem função social, existemcomitês, são <strong>de</strong>scentraliza<strong>do</strong>, participativos. Bagunçou tu<strong>do</strong>, exigiu toda uma nova engenhariainstitucional <strong>de</strong> construção.Nesta confusão que é a bacia <strong>do</strong> Paraíba <strong>do</strong> Sul, muitos dizem que avançamos pouco nagestão, mas pensan<strong>do</strong> em como essa coisa é confusa, enten<strong>de</strong>mos que há muita genteenvolvida no processo. O trecho paulista, a região metropolitana <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, que não ébacia, mas um ator fundamental na bacia, um verda<strong>de</strong>iro mosaico institucional... Então nãoadianta pensarmos ‘vamos pensar a gestão <strong>do</strong> trecho paulista’, há um comitê paulista<strong>de</strong>liberan<strong>do</strong> que lá em Queluz entregamos água na qualida<strong>de</strong> e quantida<strong>de</strong> que queremos.Não, temos <strong>de</strong> pensar um sistema que vai integrar essa bagunça toda, e veremos que isso nãoestá sen<strong>do</strong> fácil.O trecho paulista está no meio <strong>do</strong> Paraíba <strong>do</strong> Sul como uma <strong>de</strong>ssas unida<strong>de</strong>s, e o comitêtem historicamente uma criação que prece<strong>de</strong>u o mo<strong>de</strong>lo nacional. São Paulo foi pioneiro epagou o preço <strong>de</strong>sse pioneirismo na montagem <strong>do</strong> sistema. A partir <strong>do</strong>s anos 80 e começo <strong>do</strong>s90 foi montan<strong>do</strong> um sistema, que esteve basea<strong>do</strong> no seguinte: a bacia hidrográfica é a48
unida<strong>de</strong>, a água tem uso múltiplo, a água tem valor econômico e social, e a gestão agora éparticipativa, <strong>de</strong>scentralizada e integrada. Não é mais o <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> obras contra a secaou o setor elétrico que vai falar on<strong>de</strong> vai ter água e on<strong>de</strong> não, a coisa complicou.Historicamente, há o Código das Águas <strong>de</strong> 1934, um mo<strong>de</strong>lo normativo centraliza<strong>do</strong>r. Ahistória <strong>de</strong> retificação no trecho paulista é muito interessante, trata <strong>de</strong> um processo que visavao <strong>de</strong>senvolvimento da bacia, um pouco inspira<strong>do</strong> no vale <strong>do</strong> Tennessee, um projeto<strong>de</strong>senvolvimentista. E aconteceu o seguinte: a água foi acaban<strong>do</strong>, pioran<strong>do</strong>, apareceu ummonte <strong>de</strong> gente para dar palpite, e a socieda<strong>de</strong> começou a falar ‘quero participar <strong>de</strong>ssa mesa<strong>de</strong> negociação’; um <strong>de</strong>bate transversal no qual a questão ambiental começou a aparecer.Duvi<strong>do</strong> que fosse possível falar em comitê <strong>de</strong> bacia em 1950, em 1968, porque esse arcabouçonão estava pronto, não havia espaço <strong>de</strong>mocrático para isso, a temática ambiental não estavacolocada <strong>de</strong>ssa forma. Felizmente a situação mu<strong>do</strong>u, com marcos legais como a Constituição<strong>de</strong> 1988 e a Constituição Paulista <strong>de</strong> 1989, com diversos artigos sobre água. Em 1991 ummarco para o Brasil é a Política <strong>de</strong> Recursos Hídricos <strong>de</strong> São Paulo. Em 1994 se dá a criação <strong>do</strong>comitê paulista, em 1996 a criação <strong>do</strong> Ceivap, e em 1997, a Lei 9.433, que vai dar o gran<strong>de</strong>marco legal da gestão das águas para o Brasil.Se houve uma lei criada em São Paulo, com o mo<strong>de</strong>lo paulista puxan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>bate, vamosenten<strong>de</strong>r um pouco os problemas que levaram São Paulo a criar seu mo<strong>de</strong>lo antes <strong>do</strong> fe<strong>de</strong>ral.Basicamente nesse caso, o conflito é <strong>de</strong> <strong>do</strong>minialida<strong>de</strong>, entre o que é <strong>de</strong> São Paulo e o que éda União. Se pego água <strong>do</strong> rio Jaguari e jogo no Paraíba, <strong>de</strong> quem é essa água, e se façocaptação subterrânea... Isso vai dar um certo problema, <strong>de</strong> conflito <strong>de</strong> aproximação entre omo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> São Paulo e o fe<strong>de</strong>ral.No trabalho, mapeamos cinco fases no processo <strong>de</strong> relação entre os <strong>do</strong>is sistemas emrelação à gestão das águas. No caso estuda<strong>do</strong>, há inicialmente um extremo antagonismo entreos <strong>do</strong>is mo<strong>de</strong>los, um conflito quase <strong>de</strong>clara<strong>do</strong> entre o mo<strong>de</strong>lo paulista e o fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong> saberqual <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is seria hegemônico na gestão das águas da bacia. Assim, cada um foi cuidar umpouco <strong>de</strong> si, tinha que se estruturar, fazer sua captação, seus instrumentos <strong>de</strong> gestão. E aseguir houve momentos <strong>de</strong> cooperação, em que o sistema começou a funcionar por umprocesso <strong>de</strong> aprendizagem social, <strong>de</strong> convivência, <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> confiança.Entre 1987 e 1993, ocorrem os momentos iniciais da montagem <strong>do</strong> sistema <strong>de</strong> gestão,tanto em São Paulo quanto no Brasil. Os <strong>do</strong>is sistemas estavam em construção e ninguémsabia o que eram. Havia propostas <strong>de</strong> atores <strong>de</strong> São Paulo que diziam ‘tu<strong>do</strong> bem, não somos<strong>do</strong>nos, a bacia é uma só’, mas uma linha dizia ‘São Paulo cuida das suas águas, Rio <strong>de</strong> Janeirodas suas, Minas Gerais das suas’, fazemos um pacto <strong>de</strong> padrão e respeitamos esse padrão,crian<strong>do</strong> um comitê <strong>de</strong> integração on<strong>de</strong> nos reunimos os três, chamamos a União, e fazemosuma outra coisa. Essa seria uma proposta. Havia uma outra linha que dizia ‘não, vamos fazerum sistema enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a bacia como uma coisa só, uma gestão única’, só que nisso haviaproblemas <strong>de</strong> relação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, alguém teria que ganhar e per<strong>de</strong>r po<strong>de</strong>r nesse sistema. Em1993, começa o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão no trecho paulista, quan<strong>do</strong> é cria<strong>do</strong> o comitê. Já havia umatensão <strong>de</strong>clarada, sabia-se que o sistema fe<strong>de</strong>ral estava se construin<strong>do</strong>, São Paulo fazia parte<strong>de</strong>sse movimento, mas ainda sem saber qual seria o mo<strong>de</strong>lo hegemônico.A partir daí, quan<strong>do</strong> é cria<strong>do</strong> o Ceivap, passa-se a colocar energia em sua organizaçãointerna, seu surgimento, sua estruturação, porque o comitê é <strong>de</strong> 1996, mas só começa afuncionar em 1997. E cada um vai para um canto um pouco estruturar seus planos <strong>de</strong> baciaespecíficos, seus financiamentos, seus instrumentos <strong>de</strong> gestão, quan<strong>do</strong> então os <strong>do</strong>is sistemasvivem uma relação conflituosa. É tão maluco isso, que cada um <strong>de</strong>sses entes sobrepostos namesma bacia estejam construin<strong>do</strong> seu plano <strong>de</strong> bacia, fazen<strong>do</strong> seu planejamento sem muitasvezes consi<strong>de</strong>rar o outro, o diálogo era muito precário.A partir <strong>de</strong> 2000 a 2003 é que se inicia uma tensão muito gran<strong>de</strong> entre os <strong>do</strong>is mo<strong>de</strong>los,uma série <strong>de</strong> questões mapeiam o porquê <strong>de</strong>ssas tensões, especulam se seria a questão <strong>do</strong>plano <strong>de</strong> bacia, a questão da aprovação da cobrança pelo uso da água a nível fe<strong>de</strong>ral queenfraqueceu o sistema paulista, essa agenda <strong>de</strong> São Paulo. Alguns atores fortes <strong>de</strong> São Paulocomeçaram a jogar na arena <strong>do</strong> Ceivap, na questão da gestão. A ANA começou a priorizarmuito o funcionamento <strong>do</strong>s instrumentos <strong>de</strong> gestão, cobrança, o plano <strong>de</strong> bacia, ocadastramento <strong>do</strong>s usuários, a cobrança tinha que começar e foi meio a fórceps, e assim secriaram algumas rusgas entre os <strong>do</strong>is mo<strong>de</strong>los naquele momento.Nesse processo, inicia-se uma distensão e uma nova forma <strong>de</strong> articulação entre os <strong>do</strong>ismo<strong>de</strong>los, <strong>de</strong> perspectivas comuns, o mo<strong>de</strong>lo que estamos vivencian<strong>do</strong>. Hoje, quem acompanha49
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