estauração, conservação <strong>do</strong>s ecossistemas e ética ambiental. Numa socieda<strong>de</strong> que não é éticasequer nas relações diárias entre as pessoas, como se espera a construção <strong>de</strong> uma éticaambiental? Uma ética entre nós, entre os po<strong>de</strong>res. O problema não é <strong>de</strong> ética ambiental, mas<strong>de</strong> ética, quem é educa<strong>do</strong>, é para tu<strong>do</strong>. Nas ciências naturais, há a área da biologia e seuscomponentes, evolução, genética, biogeografia, geologia. E nas áreas sociais, há aantropologia, sociologia, economia, política, legislação e filosofia. Problemas ambientais sãohumanos, são cria<strong>do</strong>s pelas ações humanas, não dá pra olhar só sob a ótica biológica, entãosem inserir o homem como parte <strong>do</strong> processo, não é possível avançar. Os cursos <strong>de</strong> biologiatratam a natureza sem o homem, ele não é inseri<strong>do</strong> como parte <strong>do</strong> processo, não é mais umaespécie e isso vai fazer diferença.Existem alguns princípios básicos na conservação: a questão da evolução, ou seja, omun<strong>do</strong> ecológico é dinâmico e não apresenta equilíbrio, modifican<strong>do</strong>-se naturalmente; temosum teatro ecológico e a presença humana precisa ser inserida nos planos <strong>de</strong> conservação. Nãodá para <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar a socieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> entorno, as pessoas diretamente afetadas, é necessáriodiscutir com essas pessoas, inseri-las no processo.Existem alguns argumentos éticos em que a maioria <strong>de</strong> vocês talvez não acredite. Toda aespécie tem o direito <strong>de</strong> existir. Vocês diriam e ‘aquela aranha, aquela barata’, sim to<strong>do</strong>s têmo direito <strong>de</strong> existir como espécie. Alguém já parou para pensar? Nós, seres humanos, semquase relação com a natureza, será que achamos isso mesmo? Todas as espécies sãointer<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, a espécie humana precisa viver com os mesmos limites que as outras.Somos uma espécie que <strong>de</strong>sperdiça recursos, se pararmos para pensar, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>tranqueira que não usamos em casa há anos é absurda. As pessoas precisam serresponsabilizadas por suas ações, têm responsabilida<strong>de</strong>s com as futuras gerações, e esta idéiaé até mais fácil para sensibilizar, fazer as pessoas pensarem a favor <strong>do</strong>s filhos, <strong>do</strong>s netos. Osrecursos não po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>sperdiça<strong>do</strong>s, a espécie humana <strong>de</strong>ve viver com os mesmos limitesdas outras.Ainda entre os argumentos éticos: o respeito pela vida e a diversida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong>ve sero mesmo para a diversida<strong>de</strong> biológica. Se nós não respeitamos a vida, a diversida<strong>de</strong> humana,a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> opiniões, <strong>de</strong> posições, que tipo <strong>de</strong> respeito esperamos em relação aos outrosorganismos, às coisas que são distantes <strong>de</strong> nós? A natureza tem valores estéticos e espirituaistambém que transcen<strong>de</strong>m o econômico. De fato, muitos <strong>de</strong> nós já caminhamos muito parachegar num lugar e observar uma paisagem, uma beleza cênica qualquer e o senti<strong>do</strong> dissomuitas vezes foi o <strong>de</strong> sentirmos quão pequenos somos diante da natureza.A diversida<strong>de</strong> biológica é necessária para <strong>de</strong>terminar a origem da vida, esse é um <strong>do</strong>sgran<strong>de</strong>s segre<strong>do</strong>s da vida, não sabemos <strong>de</strong> on<strong>de</strong> viemos, ainda não sabemos exatamente,então a manutenção <strong>de</strong> toda a biodiversida<strong>de</strong> ainda tem esse papel. Essa diversida<strong>de</strong> biológicapo<strong>de</strong> ser olhada sob diversas óticas: existe um processo <strong>de</strong> conservação da variabilida<strong>de</strong>genética, que é populacional; da diversida<strong>de</strong> alfa, que é da comunida<strong>de</strong>; da diversida<strong>de</strong> beta,que é a que trata <strong>de</strong> gradientes ambientais; da diversida<strong>de</strong> gama, que é a que trata <strong>de</strong>paisagens complexas; e da diversida<strong>de</strong> epsilon, que trata <strong>do</strong> nível bio-geográfico. Na América<strong>do</strong> Sul, por exemplo, somos um continente com uma diversida<strong>de</strong> biogeográficaexcepcionalmente elevada. São essas escalas que têm <strong>de</strong> ser olhadas para fins daconservação.Existem alguns valores nos bens da natureza também, que po<strong>de</strong>m ser diretos, <strong>de</strong>consumo, produtivos; ou po<strong>de</strong>m ser indiretos, como a produtivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ecossistema, aprodução da água, controle climático, o próprio controle <strong>de</strong> <strong>de</strong>jetos, o relacionamento entre asespécies, indica<strong>do</strong>res ambientais, recreação e turismo, existem valores educacionais ecientíficos. Além <strong>de</strong>sses valores não-consumistas, há valores <strong>de</strong> opção, a pessoa tem relaçãocom a floresta e <strong>de</strong>ixa ela <strong>de</strong> pé porque gosta, tem relação afetiva. E finalmente, uma relação<strong>de</strong> existência, ele acredita que as espécies têm o direito <strong>de</strong> existir, e portanto opta porconservar.Temos formas diferentes <strong>de</strong> olhar a natureza. O antropocentrismo tem um valorintrínseco que é o próprio ser humano, o ser humano é centro <strong>do</strong> universo, não só <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,é o ser mais próximo <strong>de</strong> Deus: po<strong>de</strong>mos tu<strong>do</strong>, é o que vimos fazen<strong>do</strong>, algumas religiõescolocam isso <strong>de</strong> forma clara, sobre como usar os recursos. Neste caso, o valor da natureza ésó instrumental, o ser humano senhor da natureza po<strong>de</strong> tu<strong>do</strong>. Outro pensamento, judaicocristão,coloca a questão da origem das espécies, o ser humano como parte da origem comum.É uma visão mais holística e o homem passa a ser o zela<strong>do</strong>r <strong>de</strong>sse processo. Existe também o24
iocentrismo, em que os organismos individualmente têm valor e o homem é apenas um entreos <strong>de</strong>mais. E o ecocentrismo, em que há um valor intrínseco, <strong>de</strong> espécies, ecossistemas e aprópria biosfera; é um valor holístico, e o homem é um membro comum, um cidadão, fazparte <strong>de</strong>sse processo, não se isola.As principais ameaças à biodiversida<strong>de</strong> hoje são as extinções causadas pela <strong>de</strong>struição,pela fragmentação, pela <strong>de</strong>gradação <strong>do</strong> ar, pela superexploração <strong>de</strong> espécies. E também pelaintrodução <strong>de</strong> exóticas, pelo aumento <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças, e pelas extinções em ilhas efragmentos – <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fragmentadas, as áreas per<strong>de</strong>m seu valor, não adianta cercar umaárea, por exemplo, e conservá-la como se não houvesse uma dinâmica no entorno tãodiferente da original que não levasse à probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> extinção da própria área.E isso tu<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve ser olha<strong>do</strong> sob uma ótica que é a da ecologia da paisagem, no mínimo ograu com que <strong>de</strong>ve ser avalia<strong>do</strong> é <strong>de</strong>ssa coisa mais integrada. E para conservação <strong>de</strong>comunida<strong>de</strong>s, as áreas protegidas <strong>de</strong>vem ter uma eficácia, o que não acontece hoje. Vi<strong>de</strong> oque acontece, por exemplo, nas áreas <strong>de</strong> Cerra<strong>do</strong> no interior <strong>de</strong> São Paulo invadidas pelabraquiária, uma espécie africana que conseguiu ocupar nosso território e invadiu as áreas <strong>de</strong>preservação. O componente herbáceo <strong>de</strong>ssas áreas <strong>de</strong> Cerra<strong>do</strong> em São Paulo estácompletamente prejudica<strong>do</strong>.As priorida<strong>de</strong>s para proteção po<strong>de</strong>m ser dadas na abordagem das próprias espécies, porisso são eleitas uma espécie-ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> que to<strong>do</strong>s gostam, têm afinida<strong>de</strong>; e a abordagempo<strong>de</strong> ser dada nas comunida<strong>de</strong>s e ecossistemas, que é a melhor, pois as espécies em si não seprotegem se não houver estrutura <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> que a sustente. E aí há uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>planejamento, não planejamos nosso dia, nosso cotidiano, somos uma socieda<strong>de</strong> que nãoplaneja. Quan<strong>do</strong> se fala em conservação biológica, não basta simplesmente cercar, énecessário fazer um plano <strong>de</strong> manejo, e é importante, nesse senti<strong>do</strong>, consi<strong>de</strong>rar o própriotamanho da reserva, a minimização <strong>do</strong>s efeitos <strong>de</strong> borda, a fragmentação, os corre<strong>do</strong>res <strong>de</strong>hábitat e a ecologia da paisagem. Tu<strong>do</strong> isso vale para a recuperação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong>gradadascomo um to<strong>do</strong>, não dá pra criar ilhas <strong>de</strong> vegetação e achar que têm um valor biológico gran<strong>de</strong>.Além disso, po<strong>de</strong>mos, no manejo <strong>de</strong> áreas protegidas, tratar das ameaças, comoinvasões biológicas e incêndios. O manejo é uma coisa importante, existe um princípio nasUnida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação que ninguém po<strong>de</strong> tocar. Se ela fosse <strong>de</strong> fato primitiva, se estivessenas condições que existia anteriormente, tu<strong>do</strong> bem, mas ela já não existe mais nessascondições, está fragmentada e sob pressões. Então manejar, manipular, fazer o manejo <strong>de</strong>lianas <strong>de</strong> borda, por exemplo, é fundamental, o que não significa tirar todas as lianas, significacontrolar as invasoras.Uma outra questão importante é tratar da ecologia da restauração. Restaurar significabrincar <strong>de</strong> Deus. Ao longo <strong>do</strong> tempo o homem <strong>de</strong>struiu a natureza e hoje tem dificulda<strong>de</strong>imensa <strong>de</strong> recuperar funções que a própria vegetação possuía, em suas funções originais; emcertos tipos <strong>de</strong> biomas, nem temos mais mo<strong>de</strong>los. A floresta estacional semi<strong>de</strong>cidual, <strong>do</strong>interior <strong>de</strong> São Paulo, não tem um único fragmento que seja capaz <strong>de</strong> representar essafloresta <strong>de</strong> forma preservada. O Parque <strong>do</strong> Morro <strong>do</strong> Diabo é imenso, mas não tem um trechoque seja totalmente preserva<strong>do</strong>. Qual é o mo<strong>de</strong>lo? Que tipo <strong>de</strong> floresta é essa? Nãoconhecemos no passa<strong>do</strong> e não temos mo<strong>de</strong>lo hoje para construir absolutamente nada. Entãobrincamos <strong>de</strong> Deus, e como seres imperfeitos, vamos criar mo<strong>de</strong>los imperfeitos, que é o quese espera.Na gestão da conservação, <strong>de</strong> novo precisamos pensar em termos econômicos, emtermos sociais e da biologia como um to<strong>do</strong>. Aqui ressalto algo que per<strong>de</strong>mos há algum tempo,to<strong>do</strong>s os cursos <strong>de</strong>veriam ter a filosofia, que é o que faz rever as coisas, faz as pessoaspensarem no seu lugar na natureza, se enten<strong>de</strong>rem na sua relação com a natureza e comoutras pessoas.Vejam o quão difícil é fazer alguma coisa, o que não quer dizer que não possamos tomaralgumas medidas, sempre trabalhan<strong>do</strong> com um grupo <strong>de</strong> pessoas o mais diverso possível,capaz <strong>de</strong> nos trazer as contribuições das mais diversas áreas <strong>de</strong> conhecimento, inclusive ossaberes tradicionais - tão explora<strong>do</strong>s por nós, que nos trazem experiências maravilhosas, enão voltamos a eles esse conhecimento que nos passaram.Várias áreas têm <strong>de</strong> estar associadas. Existe uma política ambiental, e parte <strong>de</strong>la é alegislação, parte são algumas ações, parte é o policiamento. Planejamento ambiental eavaliação <strong>de</strong> impacto ambiental também passam a ser importantes. A gestão ambiental é25
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