21.06.2016 Views

Os Custos da Corrupção para a Economia Moçambicana

CIP-Custos_da_Corrupcao

CIP-Custos_da_Corrupcao

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O presente estudo assume o desafio de medir a corrupção, usando Moçambique como estudo de caso.<br />

<strong>Os</strong> autores introduziram e aplicaram uma abor<strong>da</strong>gem <strong>para</strong> medir a corrupção e o seu efeito sobre a<br />

economia, através de estimativas quantitativas <strong>para</strong> um número considerável de casos de corrupção,<br />

quer revelados ou pesquisados. A abor<strong>da</strong>gem vem apresenta<strong>da</strong> em estudos recentes sobre a medição<br />

<strong>da</strong> corrupção (CMI, 2014; DFID, 2015). Assim, os autores tentaram estender o alcance <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem de<br />

medição <strong>da</strong>s percepções <strong>da</strong> corrupção através <strong>da</strong> produção de estimativas quantitativas <strong>da</strong> corrupção<br />

numa base de evidências suficientes e informa<strong>da</strong>s. O objectivo é sensibilizar os legisladores e o<br />

público acerca do elevado fardo que a corrupção produz sobre o desenvolvimento socioeconómico,<br />

um peso opressivo que os agregados familiares e os sectores público e privado têm de suportar. Com<br />

um entendimento mais claro acerca desse fardo e sobre os elementos que o compõem, as perspectivas<br />

sobre as vias e medi<strong>da</strong>s <strong>para</strong> reduzir ou eliminar parcialmente esse peso podem ficar mais claras.<br />

Um Breve Olhar Sobre a <strong>Economia</strong><br />

Uma vez que a corrupção está a <strong>da</strong>nificar a economia, primeiro os autores procuraram compreender o<br />

objecto desse <strong>da</strong>no, e as suas consequências, em relação aos aspectos estrutural e cíclico <strong>da</strong> economia<br />

<strong>Moçambicana</strong>.<br />

Do ponto de vista estrutural, a economia formal de Moçambique, conforme vem reflectido nas<br />

estatísticas e documentos internacionais, é caracteriza<strong>da</strong> por uma economia extractiva (no sentido mais<br />

lato) vira<strong>da</strong> <strong>para</strong> a exportação, na qual pouco capital é retido, acumulado e usado <strong>para</strong> o investimento<br />

doméstico e diversificação económica e industrialização. Este tipo de economia é considerado “poroso”<br />

(Castel-Branco, 2015), i.e., aberto e exposto à volatili<strong>da</strong>de dos mercados globais e aos interesses<br />

dos capitais financeiros internacionais. O capital de investimento geralmente é recompensado no<br />

estrangeiro e não dentro do país, p. ex, no sentido dos rendimentos, uma vez que a maior parte dos<br />

megaprojectos se têm vindo a beneficiar de incentivos fiscais e outros privilégios (CIP, 2013a; b). Com<br />

o seu elevado nível de abertura, a porosi<strong>da</strong>de e negligência <strong>da</strong> agricultura de pequena escala e a<br />

industrialização orienta<strong>da</strong> <strong>para</strong> o mercado doméstico, a economia se parece, na sua estrutura, com a<br />

do tempo colonial. Foram regista<strong>da</strong>s poucas transformações, em particular a favor dos interesses <strong>da</strong><br />

agricultura de pequena escala e <strong>da</strong> população rural que é de longe a grande maioria <strong>da</strong> população<br />

nacional (Mosca, 2011).<br />

Do ponto de vista de economia política, a economia <strong>Moçambicana</strong> pode ser caracteriza<strong>da</strong> como<br />

sendo uma economia em que um partido predominante, a Frelimo, estabeleceu o poder hegemónico<br />

sobre o estado, sobre a economia e sobre os recursos de que o país dispõe. A ordem social, política e<br />

económica estabeleci<strong>da</strong> é caracteriza<strong>da</strong> como sendo uma Ordem de Acesso Limitado (Levy, 2012), por<br />

exemplo, uma ordem na qual o acesso aos benefícios é limitado aos que pertencem à elite hegemónica<br />

estabeleci<strong>da</strong> e aos que os apoiam numa relação de clientelismo. Estas elites podem ser considera<strong>da</strong>s<br />

como sendo os principais auto-servidores ou patrões que consoli<strong>da</strong>m o poder organizando grupos<br />

de clientes através <strong>da</strong> oferta de benefícios financeiros, organizacionais, económicos, etc, e o acesso<br />

aos recursos em troca do seu apoio. A relação e a distribuição do poder, recursos e influência não<br />

tomam em conta a estrutura e a dinâmica <strong>da</strong>s instituições produtivas formais, por exemplo, o sistema<br />

económico e fiscal formal. Por esta razão, o comportamento económico oportunista e to<strong>da</strong>s as formas<br />

de ren<strong>da</strong> que procuram a pre<strong>da</strong>ção bem como a corrupção estão intrinsecamente liga<strong>da</strong>s à economia<br />

política clientelista (Khan, 2010).<br />

O panorama económico <strong>para</strong> 2016 é caracterizado por uma interacção de vários factores de<br />

constrangimento que produzem um número considerável de constrangimentos orçamentais e menos<br />

espaço de manobra em relação às despesas em sectores sociais prioritários, custos recorrentes<br />

(salários), investimento em infraestruturas e pagamento <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong>. Outros falam acerca de uma crise<br />

8 CENTRO DE INTEGRIDADE PÚBLICA(CIP), MOÇAMBIQUE

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!