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Os Custos da Corrupção para a Economia Moçambicana

CIP-Custos_da_Corrupcao

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O que preocupa mais do que a possibili<strong>da</strong>de de ocorrência de corrupção a nível <strong>da</strong> arquitectura <strong>da</strong> MC-<br />

NET/JUE é o facto de existir um sistema-sombra de desalfandegamento montado no país. O sistema<br />

MCNET é destinado a substituir o anterior (manual) Sistema de Gestão de Informações do Comércio<br />

(TIMS). Mesmo assim, o TIMS continua em operação e tem sido usado <strong>para</strong> vários fins. De acordo com<br />

as fontes entrevista<strong>da</strong>s, este envolve contrabando, importações à margem dos livros de registo, assim<br />

como importações assumi<strong>da</strong>s como de grandes projectos do Estado, como é o caso <strong>da</strong> circular de Maputo<br />

e muitos outros. Por exemplo, todos os medicamentos e combustíveis refinados são importados<br />

através do sistema TIMS. A estimativa total <strong>da</strong>s importações através do sistema TIMS ron<strong>da</strong> os 30% de<br />

to<strong>da</strong>s as importações. O sistema-sombra de desalfandegamento TIMS evita o pagamento de todos os<br />

direitos, tarifas e outras imposições e não presta contas a ninguém. Como tal, representa uma grande<br />

per<strong>da</strong>, em prejuízo do Estado, e constitui factor de corrupção e facilitação do tráfico ilegal.<br />

Importa reconhecer que mesmo assim a situação é de longe melhor do que antigamente. Em princípio,<br />

a lei estabelece que o TIMS deve continuar a operar até ao momento em que for introduzido o sistema<br />

JUE. Além disso, o facto de o governo estar a usar o sistema <strong>para</strong> alguns dos seus projectos especiais<br />

pode <strong>da</strong>r a entender que tal uso tenha alguma legitimi<strong>da</strong>de. Contudo, <strong>da</strong>do que o uso do MCNET é<br />

obrigatório <strong>para</strong> todos os importadores e estando este sistema operacional, o uso reiterado do sistemasombra<br />

TIMS pelo Governo e outros operadores só pode ser explicado pelas próprias autori<strong>da</strong>des.<br />

Pode ser que os argumentos sejam válidos <strong>para</strong> determinados projectos merecedores de isenção de<br />

impostos, mas isto tem de ser racionalizado exactamente dentro do sistema MCNET. A manutenção<br />

dum sistema <strong>para</strong>lelo de desalfandegamento, que não presta contas, levanta a possibili<strong>da</strong>de de ser<br />

ilegal pelo facto de alega<strong>da</strong>mente ser usado <strong>para</strong> muitas outras mercadorias (ilícitas ou não) fora<br />

<strong>da</strong>s destina<strong>da</strong>s aos projectos do governo, tornando-o altamente problemático e com possibili<strong>da</strong>de de<br />

onerar o Estado com a não aplicação <strong>da</strong>s tarifas e dos direitos de importação.<br />

Embora continuando neste clima de custos como consequência do uso do sistema <strong>para</strong>lelo TIMS,<br />

existem desenvolvimentos positivos no processo. Em Junho de 2015, houve um processo de pre<strong>para</strong>ção<br />

visando incluir um Gabinete só <strong>para</strong> li<strong>da</strong>r com as Zonas Económicas de Desenvolvimento Acelerado<br />

(GAZEDA) a nível do sistema JUE. O GAZEDA tem a tarefa de avaliar se a aplicação de uma taxa especial<br />

viola ou não outros benefícios fiscais e, se for assim, quais as mercadorias ou projectos afectados. Em<br />

todo o caso, <strong>para</strong> tudo isto e em tempo real, a última palavra cabe sempre ao agente <strong>da</strong>s alfândegas.<br />

Iniciou no dia 3 de Agosto de 2015 um estudo piloto. Atendendo a que o lado positivo pende a favor<br />

do outro sistema, então é necessário que urgentemente seja banido o uso do sistema TIMS.<br />

5.2. Impacto e <strong>Custos</strong> Indirectos<br />

Enquanto os custos directos <strong>da</strong> corrupção mutilam o desenvolvimento de Moçambique, os impactos<br />

dos custos indirectos também têm o seu peso e, conforme constata-se na presente secção, os seus<br />

<strong>da</strong>nos podem ser ain<strong>da</strong> melhores e de maior alcance do que os dos impactos directos. Esta secção<br />

analisa os impactos indirectos <strong>da</strong> corrupção na estrutura do sector privado, no custo e proveito dos<br />

serviços e produtos em todo o país, nas parcerias do sector privado, na reputação internacional e nas<br />

políticas domésticas.<br />

5.2.1. Impacto na Estrutura do Sector Privado<br />

Uma <strong>da</strong>s principais consequências <strong>da</strong> corrupção em larga escala no sector privado é o facto de esta<br />

alterar a disposição estrutural de todo o sector e com consequências negativas de longo alcance. Isto<br />

assenta no facto de vários empreendimentos possuírem meios distintos, capaci<strong>da</strong>des e estratégias<br />

próprias <strong>para</strong> responderem à corrupção. Esta secção ilustra o impacto <strong>da</strong> corrupção nas pequenas e<br />

médias empresas (PME), assim como nas empresas domésticas (incluindo as SOE) e internacionais e<br />

OS CUSTOS DA CORRUPÇÃO PARA A ECONOMIA MOÇAMBICANA<br />

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