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Quadro 2: EMATUM<br />
O caso <strong>da</strong> EMATUM veio pôr em evidência as práticas de corrupção que envolvem uma empresa<br />
“priva<strong>da</strong>” que representa ostensivamente o interesse público. Regista<strong>da</strong> como empresa priva<strong>da</strong><br />
dedica<strong>da</strong> à pesca do atum em 2013, é, no entanto, deti<strong>da</strong> por três empresas <strong>para</strong>-estatais: Gestão<br />
de Investimentos, Participações e Serviços (GIPS), o braço social do Serviço de Segurança do Estado<br />
moçambicano e Empresa <strong>Moçambicana</strong> de Pescas (EMOPESCA) – ca<strong>da</strong> uma detendo 33% <strong>da</strong>s acções;<br />
e Instituto de Gestão <strong>da</strong>s Participações do Estado (IGEPE) na posse de 34% <strong>da</strong>s participações.<br />
Embora existam alguns interesses minoritários privados na participação <strong>da</strong> GIPS, to<strong>da</strong> a proprie<strong>da</strong>de<br />
é através de empresas estatais. A partir desta perspectiva a alegação de que EMATUM é uma empresa<br />
priva<strong>da</strong> é duvidosa. Pelo contrário, é efectivamente uma empresa estatal, o que significa que o interesse<br />
público é fun<strong>da</strong>mental e mais forte do que seria de esperar noutras circunstâncias. O objectivo <strong>da</strong><br />
empresa é fornecer segurança marítima através de um mecanismo de autofinanciamento – operações<br />
<strong>da</strong> guar<strong>da</strong> costeira pagas por receitas de ven<strong>da</strong>s de atum.<br />
A EMATUM havia encomen<strong>da</strong>do uma frota de pequenas embarcações, velozes e modernas e embarcações<br />
militares de patrulha costeira com um crédito bancário de USD 850 milhões angariados no mercado<br />
Eurobond com uma (alta extraordinária) taxa de juros de LIBOR + 6.305% garantidos pelo governo,<br />
sem transparência nos procedimentos de aquisição, sem a inclusão do acordo no orçamento anual e<br />
sem aprovação do parlamento.<br />
Para além dos cerca de entre 300 e 350 milhões de Dólares Americanos desaparecidos que não foram<br />
explicados, a obrigação do serviço <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> do governo <strong>para</strong> o negócio coloca outra grande pressão<br />
sobre as finanças públicas do país já sobrecarregado pelas reduzi<strong>da</strong>s contribuições dos doadores e<br />
aumento <strong>da</strong> amortização <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> interna e externa.<br />
O acordo secreto e oneroso, portanto, implica fidúcia considerável, riscos económicos e de reputação<br />
e custos <strong>para</strong> Moçambique, <strong>para</strong> a economia e o bem-estar social. Ademais, a porção de pesca de atum<br />
<strong>da</strong> empresa não é economicamente viável, o que significa que o encargo económico do reembolso vai<br />
aumentar <strong>para</strong> o Estado. De acordo com uma fonte, “não existe simplesmente atum suficiente no canal<br />
de Moçambique <strong>para</strong> a EMATUM reembolsar o empréstimo até 2020”.<br />
Como resultado <strong>da</strong>s negociações entre o Ministro <strong>da</strong> <strong>Economia</strong> e Finanças, Adriano Maleiane, com os<br />
accionistas, em Março, as obrigações <strong>da</strong> EMATUM vão transformar-se em obrigações garanti<strong>da</strong>s até 9<br />
de Abril – se for aceite pelos accionistas, o que é provável. Embora isso reduza os reembolsos anuais de<br />
USD 200 milhões por ano <strong>para</strong> cerca de USD 60 mn, com a maior parte do reembolso devido em 2023<br />
(em vez de 2020), o novo acordo aumenta os custos <strong>para</strong> Moçambique a longo prazo. Para além do novo<br />
aumento <strong>da</strong> taxa de juros de 6,305% <strong>para</strong> 10,5% e ven<strong>da</strong> de novos títulos com um desconto de 20%,<br />
Moçambique tem sido ca<strong>da</strong> vais mais desqualificado por to<strong>da</strong>s as principais agências de rating como<br />
resultado directo <strong>da</strong>s renegociações. <strong>Os</strong> accionistas aceitam o novo acordo vinculativo <strong>da</strong> EMATUM em<br />
oferta mas o incumprimento selectivo é quase inevitável. A razão <strong>para</strong> as que<strong>da</strong>s e o incumprimento<br />
selectivo provável é que as agências de rating vêem o negócio como resultado de sobrendivi<strong>da</strong>mento.<br />
A deterioração do rating soberano de Moçambique vai resultar em encargos financeiros consideráveis<br />
a longo prazo e acima do valor real <strong>da</strong> EMATUM. O custo do financiamento <strong>para</strong> Moçambique vai<br />
aumentar nos próximos anos e, como resultado, isso vai afectar negativamente os investimentos e<br />
financiamento de projectos <strong>para</strong> empreendimentos que incluem actores moçambicanos, tais como<br />
empresas estatais como a ENH ou CFM, ou qualquer empreendimento que inclua uma garantia<br />
soberana. Como resultado, fazer negócios em Moçambique vai-se tornar mais caro, com um provável<br />
aumento nos projectos actuais e futuros, sendo que alguns serão adiados e/ou cancelados.<br />
38 CENTRO DE INTEGRIDADE PÚBLICA(CIP), MOÇAMBIQUE