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importante factor no crescimento e desenvolvimento <strong>da</strong> economia. A bibliografia sobre corrupção e o<br />
seu efeito nefasto no investimento (doméstico) tem sido unânime nos últimos 15 anos. Nos primórdios<br />
de 2001, Mo defendia que o investimento privado seria consumido pelo investimento público<br />
nos países ca<strong>da</strong> vez mais corruptos. Ele argumentava que isto se deve ao facto de a corrupção se<br />
tornar generaliza<strong>da</strong> e os investimentos não poderem reflectir uma óptima distribuição dos recursos.<br />
<strong>Os</strong> contratos e os negócios são realizados entre amigos ou entre indivíduos corruptos, o que torna o<br />
investimento público menos eficiente e maior do que o necessário. Tinha que haver um limite <strong>para</strong><br />
os inovadores e novos actores no acesso ao mercado de contratos, sem o que fica retar<strong>da</strong><strong>da</strong> a diversificação<br />
e o crescimento económico. Haque e Keller (2008) reforçam o argumento inicial de Mo por<br />
constatarem que à medi<strong>da</strong> em que a corrupção aumenta, também aumenta o investimento público.<br />
Contudo, o produto ganho por ca<strong>da</strong> dólar investido não tem o efeito que teria se não houvesse corrupção.<br />
Assim, o investimento público pode crescer em milhões de dólares mas não produz mais ou<br />
melhores serviços, retar<strong>da</strong>ndo, assim, o crescimento económico. Isto pode igualmente levar ao efeito<br />
de substituição argumentado por Mo (2001).<br />
Assim, a substituição do negócio privado pelo <strong>da</strong>s SOE, aliado à falta de acesso ao crédito<br />
economicamente razoável, mina a livre concorrência de to<strong>da</strong> a economia, ficando difícil operar qualquer<br />
negócio. Isto flagela ain<strong>da</strong> mais as empresas <strong>Moçambicana</strong>s já que possuem menos alternativas de<br />
acesso às fontes internacionais de financiamento alternativas, quando com<strong>para</strong><strong>da</strong>s com as empresas<br />
internacionais. Das empresas <strong>Moçambicana</strong>s afecta<strong>da</strong>s, as PME são as que estão em situação pior, já<br />
que geralmente não possuem o colateral de retorno <strong>para</strong> oferecer em função dos respectivos créditos.<br />
O problema torna-se ain<strong>da</strong> pior no sector de empresas informais. É que <strong>para</strong> estas, uma <strong>da</strong>s aveni<strong>da</strong>s<br />
de acesso às finanças é o sector informal que, <strong>da</strong><strong>da</strong> a sua natureza não regula<strong>da</strong>, é extremamente<br />
arriscado e oneroso.<br />
5.2.2. Custo e Proveito, Fazer Negócios e Investimento<br />
Como acima vimos, os custos <strong>da</strong> corrupção em Moçambique são elevadíssimos. Estando o sector<br />
privado directamente exposto a este mal, estes custos continuam, no entanto, a ser tramitados através<br />
dos negócios. Isto quer dizer que qualquer pessoa acaba sempre pagando o preço. Quer o sector<br />
público, quer o consumidor privado, quer ambos, ninguém escapa. Isto manifesta-se em forma de custo<br />
sem proveito e custos inflacionados de bens e serviços. As consequências indirectas variam entre os<br />
sectores e de projecto a projecto, mas tendem sempre a ser graves. Nalguns casos levam à desistência<br />
dos planos de realização de investimentos e, consequentemente, na fraca criação de empregos e na<br />
contínua fragili<strong>da</strong>de dos meios de subsistência. Para outros sectores, por exemplo, os <strong>da</strong> construção e<br />
infra-estruturas, a falta de quali<strong>da</strong>de e de longevi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s obras por causa <strong>da</strong> corrupção pode mesmo<br />
impor-se como uma questão de vi<strong>da</strong> e morte.<br />
A deterioração <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de como consequência <strong>da</strong> corrupção representa um grande problema e<br />
nalguns casos aumenta em grande o custo do orçamento. Em muitos concursos os concorrentes<br />
arrematam as obras por via <strong>da</strong> corrupção e, quando a quali<strong>da</strong>de do resultado final é péssima, chegase<br />
até a recorrer ao ‘concorrente que perdeu’ <strong>para</strong> fazer bem a obra do ‘concorrente vencedor’. Aqui o<br />
Estado paga três vezes: a) à empresa que no fim não executa a obra; b) aos funcionários corruptos<br />
que beneficiam <strong>da</strong> adjudicação do concurso; c) à empresa que de facto acabará executando a obra.<br />
Geralmente esses casos de ter que contratar outro que execute bem a obra só ocorrem sob deman<strong>da</strong> e<br />
exigência de empresas internacionais – principalmente no sector de infra-estruturas, tais como portos<br />
e caminhos-de-ferro, etc. No pior dos casos, o trabalho mal feito é simplesmente aceite como ‘coisas<br />
<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>’ (ex., obras de estra<strong>da</strong>s mal feitas) na perspectiva de que, havendo problemas, nascerão novas<br />
oportuni<strong>da</strong>des de corrupção graças a uma obra de má quali<strong>da</strong>de que vai precisar de ser substituí<strong>da</strong><br />
(a exemplo de uma estra<strong>da</strong> mal feita que será varri<strong>da</strong> pelas próximas chuvas).<br />
72 CENTRO DE INTEGRIDADE PÚBLICA(CIP), MOÇAMBIQUE