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Os Custos da Corrupção para a Economia Moçambicana

CIP-Custos_da_Corrupcao

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4.4. <strong>Custos</strong> Indirectos e Impacto<br />

4.4.1. Sobre a Pobreza<br />

<strong>Os</strong> <strong>da</strong>dos produzidos no presente estudo só permitem conclusões gerais sobre a natureza exacta do<br />

impacto <strong>da</strong> corrupção sobre a pobreza. A análise <strong>da</strong> relação específica entre a pobreza e a corrupção<br />

não é possível, uma vez que o quadro não foi especificamente projectado <strong>para</strong> enquadrar tal análise.<br />

Por exemplo, <strong>para</strong> avaliar o impacto <strong>da</strong> corrupção aumentando o custo de vi<strong>da</strong> (mercadorias e<br />

combustível) seria necessária uma tabela analítica semelhante à utiliza<strong>da</strong> por Arndt et al (2015).<br />

Isto teria permitido identificar e analisar o impacto desses factores que impulsionam a pobreza e a<br />

desigual<strong>da</strong>de, tal como aferido por diferentes abor<strong>da</strong>gens e bases de <strong>da</strong>dos.<br />

No entanto, pode-se argumentar, em geral, que a corrupção relaciona<strong>da</strong> a receitas e capaci<strong>da</strong>de de<br />

despesa reduzi<strong>da</strong> afectará negativamente, de uma forma ou de outra, a implementação de políticas<br />

de redução <strong>da</strong> pobreza do governo. Existe certamente alguma ver<strong>da</strong>de nesse argumento. A premissa,<br />

no entanto, de que existem priori<strong>da</strong>des claras e eficazes de despesas públicas, políticas e práticas em<br />

vigor, por exemplo, que favorecem o investimento na agricultura de pequena escala, no desenvolvimento<br />

rural, no abastecimento de água, etc., juntamente com uma alocação e distribuição (horizontal<br />

e vertical) proporcionais do orçamento é susceptível de estar erra<strong>da</strong>. A recente avaliação <strong>da</strong>s despesas<br />

do Banco Mundial (BM) mostra que os critérios de alocação dos recursos públicos não priorizam<br />

necessariamente esses sectores e áreas geográficas onde os investimentos destinados à redução<br />

<strong>da</strong> pobreza com maior urgência são necessários (WB, 2015). Em vez disso, tem havido umas grandes<br />

tendências de gastos a favor do desenvolvimento de infra-estruturas urbanas, não rurais, por exemplo,<br />

na área <strong>da</strong> Grande Maputo (estra<strong>da</strong> circular, infra-estrutura de telecomunicações, ponte Maputo-<br />

-Catembe, etc.). Isto significa que as áreas e os sectores acima referidos (agricultura, desenvolvimento<br />

rural etc.) podem ter sido negligenciados de qualquer modo, com ou sem corrupção. Tendo em conta<br />

estas priori<strong>da</strong>des, a corrupção relaciona<strong>da</strong> com a reduzi<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de orçamental é mais provável<br />

que não tenha afectado os moradores urbanos relativamente ricos, mas sim os pobres (<strong>da</strong> zona rural)<br />

com menos ou nenhuma voz e poder de negociação.<br />

Existe um consenso generalizado na literatura académica segundo o qual a corrupção provoca mais<br />

desigual<strong>da</strong>de económica e desencoraja a luta contra a pobreza (Gupta et.al, 2002; Blackburn &<br />

Forgues-Puccio, 2011), retar<strong>da</strong>ndo, desse modo, o crescimento económico ou, no caso de crescimento,<br />

distribuindo os efeitos deste de forma desigual. A partir dessa lógica, a corrupção funciona como um<br />

imposto regressivo contra os mais pobres na socie<strong>da</strong>de, criando limites que os pobres não podem<br />

superar. Isto funciona como um ciclo negativo de auto-fortalecimento <strong>da</strong> pobreza (Razafindrakoto &<br />

Roubaud, 2007). No entanto, pode-se supor que, em caso de um grande sector informal <strong>da</strong> economia ou<br />

<strong>da</strong> economia não observa<strong>da</strong> um país, como no caso de Moçambique, as políticas anti-corrupção podem<br />

aumentar a desigual<strong>da</strong>de. <strong>Os</strong> pobres geralmente são os mais dependentes dos sectores informais. O<br />

maior controlo do sector informal e o aumento dos esforços com vista à tributação do sector informal<br />

com os seus efeitos regressivos podem afectar as cama<strong>da</strong>s <strong>da</strong> população mais pobres de forma mais<br />

severa. Esta conclusão é basea<strong>da</strong> num estudo dos países Latino-Americanos (Dobson & Ramlogan-<br />

Dobson, 2010) e em numerosas outras evidências (DFID, 2015). No caso de Moçambique, um estudo<br />

recente demonstra que as cama<strong>da</strong>s <strong>da</strong> população mais pobres são as mais severamente afecta<strong>da</strong>s pela<br />

corrupção, quer nas escolas, quer no licenciamento, tratamento hospitalar, etc., o que faz concluir que<br />

um ‘imposto extra’ que, em combinação com os efeitos regressivos do imposto autárquico (poll tax) e a<br />

recolha muitas vezes coerciva de taxas em muitas activi<strong>da</strong>des de subsistência (como uso de bicicleta,<br />

produção de lenha, ven<strong>da</strong> no mercado, etc.) aumentam a carga fiscal nas cama<strong>da</strong>s <strong>da</strong> população mais<br />

pobres a tal ponto que quase não têm a oportuni<strong>da</strong>de de sair <strong>da</strong> armadilha <strong>da</strong> pobreza. Mais uma vez,<br />

o foco <strong>da</strong> acção colectiva poderia aju<strong>da</strong>r-nos a entender melhor os desafios <strong>da</strong> redução <strong>da</strong> pobreza:<br />

não só tem a ver com o combate à corrupção, por exemplo, no sector <strong>da</strong> Saúde, mas com a necessi<strong>da</strong>de<br />

de se reavaliar as escolhas <strong>da</strong>s políticas públicas e a forma como as instituições são concebi<strong>da</strong>s e se<br />

relacionam com os agentes e os clientes. Assim, o relacionamento entre o combate à corrupção e a<br />

informali<strong>da</strong>de económica nem sempre pode ser tão simples quanto, em princípio, parece.<br />

48 CENTRO DE INTEGRIDADE PÚBLICA(CIP), MOÇAMBIQUE

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