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Volume 7 - Realismo Fantasmagórico

Realismo Fantasmagórico

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global. Tudo isto se tornou bastante visível nos anos 1990, quando o uso dos<br />

combustíveis chegou ao limite e a economia esfriou, deixando uma massa de<br />

áreas urbanas que não eram tão distintas umas das outras, como há algumas<br />

décadas. Identidade é uma função de distinção e continuidade; sem estas um<br />

fenômeno é somente uma quimera, uma miragem. No entanto, as cidades asiáticas,<br />

pelo menos como representadas pelos filmes mais contundentes que<br />

assumem as condições depois de, digamos, 1980, não aparentam ser nem distintas<br />

nem contínuas. Já não ouvimos dizer que a imagem fílmica da “Cidade<br />

Genérica” (termo de Rem Koolhaas) migrou de Hong Kong para Seul, sem<br />

ninguém estar realmente ciente disto? A renovação urbana pode também significar<br />

“a condição urbana”, a condição que Edward Yang desde The Terrorizer<br />

(1986) até As coisas simples da vida (2000) sabia como colocar diante dos<br />

nossos olhos e ouvidos, ainda que em tons diferentes. Quanto à persistência,<br />

as cidades asiáticas, na realidade, diferem-se significativamente de suas contrapartidas<br />

do leste europeu em um aspecto: elas dispensam pouca estima aos<br />

seus passados. Desastres naturais (o terremoto de Kanto em 1923) e atentados<br />

humanos (o bombardeio de Tóquio em 1945) nivelaram algumas cidades; mais<br />

corrosivo para a continuidade foi a remodelação do espaço habitável em cada<br />

megalópole que teve que lidar com a imigração massiva das últimas décadas.<br />

O êxodo da zona rural, juntamente com as oportunidades da manufatura assalariada<br />

que migraram do Japão para Hong Kong, para a Coreia e então para a<br />

Tailândia e para as Filipinas, significaram que bandos de pessoas com necessidades<br />

de moradia e emprego literalmente devastaram um passado arquitetônico,<br />

eliminando muito do que distinguia certas cidades umas das outras. Ainda<br />

que câmaras de comércio preocupadas com a imagem da cidade tenham conseguido<br />

erguer prédios-símbolo, a vida nas cidades, como os filmes nos mostram,<br />

tornou-se homogênea e rasa: as cidades, como os aeroportos, são lugares de<br />

passagens anônimas e conexões convenientes. Olhe novamente a capa deste<br />

livro 3 e relembre da caracterização profética de Jameson de 1989 do Terrorizer<br />

de Edward Yang como representação da simultaneidade aleatória da existência<br />

urbana, na qual a casualidade rege a trama e o terror substitui o suspense.<br />

Ninguém está no controle, certamente não as autoridades cujas “unidades de<br />

resposta rápida” meramente reagem a ocorrências que não podem prever, nem<br />

3 Andrew se refere aqui à capa do livro Cinema at the City’s Edge: Film and Urban<br />

Networks in East Asia, organizado por Yomi Braester e James Tweedie (Hong<br />

Kong: Hong Kong University Press, 2010), no qual esse texto foi publicado<br />

originalmente. [N.E.]<br />

114 REALISMO FANTASMAGÓRICO

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