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Volume 7 - Realismo Fantasmagórico

Realismo Fantasmagórico

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elacionais normativas, como “o oposto natural dos muros de separação, medo,<br />

e distância que se destinam a criar uma comunidade dentro de seus limites”. 33<br />

As possibilidades produtivas que persistem nas conexões ainda em formação<br />

entre os cruisers e os que os buscam exigem uma análise mais crítica,<br />

levando em conta a inclinação de muitos comentadores a assumir superficialmente<br />

a representação, por Tsai, de desejos não realizados, interpretando o<br />

fracasso da união e da conexão em termos irrefletidamente negativos. Essa<br />

inclinação resulta em uma certa “confusão moralista”, como Martin expressa,<br />

cobrindo o universo cinematográfico de Tsai com atributos de tédio, descontentamento,<br />

anomia e isolamento. 34 Embora essas descrições não sejam totalmente<br />

desprovidas de validade, dado o dom inegável de Tsai de capturar<br />

as sutilezas da alienação dos dias atuais, elas também tendem a cair em uma<br />

posição nostálgica vis-à-vis as relações tradicionais e os valores considerados<br />

ausentes ou inoperantes em seus filmes. Assim, a “família chinesa confuciana”,<br />

cuja desintegração Tsai supostamente documenta, é invocada com um tom<br />

de lamentação ao invés de comemoração, a separação confundida com o empobrecimento<br />

social, a alienação situada em continuidade com o desvio e a<br />

distopia - termos que revelam o viés normativo que frequentemente sustenta<br />

esta hiperbolização moral. Ao reduzir os filmes de Tsai a discursos sociológicos<br />

sobre a angústia urbana e a uma realidade decaída, essas leituras negligenciam<br />

as maneiras pelas quais esses filmes ativamente criticam a realidade através<br />

da construção de um universo alternativo, cujos habitantes, nas palavras de<br />

Rey Chow, “perdem suas antigas identidades e se relacionam entre si como<br />

camaradas, companheiros e participantes de um novo tipo de contrato social,<br />

devidamente equipados com sua própria linguagem e suas próprias regras de<br />

compartilhamento comunal”. 35 Ela argumenta: “Enquanto que, nas mãos de<br />

outros diretores, a destituição óbvia e a estranheza de seus personagens... provavelmente<br />

se fixariam em retratos severos de angústia existencial”, aqui se<br />

“tornam elementos de uma sensorialidade e uma sociabilidade diferente, em<br />

33 BETSKY, Aaron. Queer Space: Architecture and Same-Sex Desire. Nova York:<br />

William Morrow, 1997. p. 149.<br />

34 MARTIN, Adrian. Tsai-Fi. Tren de Sombras. n. 7. 2007.<br />

35 CHOW, Rey. Sentimental Fabulations, Contemporary Chinese Films: Attachment in<br />

the Age of Global Visibility. Nova York: Columbia University Press, 2007. p. 191.<br />

168 REALISMO FANTASMAGÓRICO

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