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Volume 7 - Realismo Fantasmagórico

Realismo Fantasmagórico

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em termos espectatoriais, a interação com a narrativa é dissipada em favor da<br />

contemplação pura e da experiência sensória. Nós, como espectadores, somos<br />

convidados a adotar o ponto de vista da câmera e demoradamente estudar as<br />

imagens que aparecem na tela em toda sua literalidade. Isto frontalmente contradiz<br />

as regras bazinianas, uma vez que o prolongamento temporal do plano<br />

ultrapassa em muito as demandas da história, deixando o espectador desorientado<br />

sobre como ler uma determinada sequência hermeneuticamente.<br />

Considere, por exemplo, Gerry (2002) de Van Sant, inspirado pelo trabalho<br />

de Tarr. Seguimos duas personagens, interpretadas por Matt Damon e Casey Affleck,<br />

que rapidamente percebem que estão perdidos num deserto (na realidade,<br />

este filme foi gravado em três desertos diferentes). Praticamente nenhuma<br />

informação é fornecida ao espectador. Não sabemos quem são as personagens,<br />

sua relação ou o que as levou a estes cenários, nem somos elucidados durante o<br />

vagaroso desenrolar do filme. Pelo contrário, ao espectador são oferecidos planos<br />

extremamente longos de paisagens monumentais pelas quais as personagens<br />

vagam sem objetivo, quase nunca trocando uma palavra entre elas (Figura<br />

4). Considere também toda a segunda metade de Eternamente sua (Sud Sanaeha,<br />

2002) de Apichatpong Weerasethakul, que simplesmente mostra, em planos demorados,<br />

suas personagens comendo, descansando, fazendo sexo (real) e desfrutando<br />

momentos de contemplação às margens de um rio na selva tailandesa.<br />

Ou considere Japão (2002) de Carlos Reygadas, filmado inteiramente numa<br />

pequena vila rural no México, e que devota a maioria do seu tempo a seguir um<br />

homem cujo nome não sabemos e que perambula por paisagens rurais áridas e<br />

pensa em cometer suicídio por razões inexplicáveis. As cenas de seus passeios<br />

solitários freiam o andamento da narrativa, convidando o espectador a<br />

Figura 4 – Paisagem majestosa, homens minúsculos: Gerry de Van Sant.<br />

REALISMO DOS SENTIDOS 75

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