06.02.2017 Views

Volume 7 - Realismo Fantasmagórico

Realismo Fantasmagórico

Realismo Fantasmagórico

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

conformidade com os princípios da imagem-tempo, como uma estética do cinema<br />

que nasce do ímpeto de<br />

derivar imagens de qualquer coisa que a câmera observou, antes mesmo de qualquer<br />

aspiração narrativa de ordem e organização. Com o declínio da ação, um<br />

espaço cinematográfico vazio preenche a lacuna, registrando as imagens vazias<br />

de paisagens rurais e urbanas (...) Este cinema do registro, observação e atraso<br />

tende a trabalhar com planos prolongados, permitindo que a presença do tempo<br />

apareça na tela. 45<br />

Assim como a autonomia do tempo, este cinema desdramatizado é capaz<br />

de transmitir uma presença material pura e sensível que se traduz, pelo menos<br />

em princípio, num modo de espectatorialidade sensório.<br />

Presença Pura<br />

Em diálogo com o ensaio de Roland Barthes “O Terceiro Sentido”, Kristin<br />

Thompson examinou o conflito advindo da “materialidade de um filme e suas<br />

estruturas unificantes” 46 ; ou seja, aqueles momentos em que a dimensão material<br />

da imagem escapa e excede à motivação da narrativa e aos modelos estruturais,<br />

chamando a atenção para seu próprio tecido perceptual como tal.<br />

Apesar de não mencionar o plano-sequência, Thompson conclui que o excesso<br />

material é particularmente propenso a irromper quando um dispositivo permanece<br />

na tela por tempo demais, ao ponto de esgotar seu objetivo funcional<br />

na narrativa:<br />

A motivação é insuficiente para determinar por quanto tempo um dispositivo precisa<br />

estar na tela para servir ao seu propósito (...) Podemos perceber um dispositivo<br />

imediatamente e compreender sua função, mas este então continuará a ser<br />

visível ou audível por algum tempo após este reconhecimento. Neste caso, podemos<br />

estar inclinados a estudá-lo ou contemplá-lo para além de sua narrativa ou<br />

45 MULVEY, Laura. Death 24x a Second: Stillness and the Moving Image. Londres:<br />

Reaktion, 2006. p. 129.<br />

46 THOMPSON, Kristin. “The Concept of Cinematic Excess”. In: ROSEN, Philip<br />

(Org.). Narrative, Apparatus, Ideology: a Film Theory Reader. Nova York:<br />

Columbia University Press, 1986. p. 132.<br />

REALISMO DOS SENTIDOS 81

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!