06.02.2017 Views

Volume 7 - Realismo Fantasmagórico

Realismo Fantasmagórico

Realismo Fantasmagórico

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

“Ontologia” e “indexicalidade” (a tradução semiótica de Peter Wollen para<br />

o conceito baziniano) recentemente voltaram ao debate no campo da teoria do<br />

cinema, já que parecem ameaçadas de desaparecimento no âmbito da imagem<br />

cinematográfica. A razão é a introdução da tecnologia digital, capaz de gerar<br />

imagens sem qualquer referente no mundo exterior 14 . Isso reanimou a discussão<br />

acerca de elementos centrais às teorias realistas, como a mimese, a representação<br />

e, particularmente, a “indexicalidade” de Wollen ou “ontologia” de<br />

Bazin. Uma “nostalgia pelo índice” foi percebida por Doane 15 , que descreveu o<br />

declínio da cinefilia na era virtual como decorrente de um “índice minguante”.<br />

Identificar traços do índice em práticas fílmicas contemporâneas se tornou<br />

o objeto de estudos como o de Margulies 16 , centrado em torno das noções de<br />

cinema corpóreo e reencenação. Abordagens psicanalíticas se reinventaram<br />

com base no conceito de Real de Lacan 17 aplicado ao cinema 18 . Novos questionamentos<br />

sobre o realismo no cinema deram origem também à fundamental<br />

reconfiguração teórica proposta por Lúcia Nagib em seu livro World Cinema<br />

and the Ethics of Realism 19 , no qual a autora explora noções inovadoras e provocadoras<br />

como o realismo do meio, o realismo corpóreo, a produção do real no<br />

cinema e o dispositivo erotizado sob a luz de Badiou e Rancière, e revisita e reformula<br />

toda uma gama de conceitos fundamentais para os estudos de cinema.<br />

Aliada à reabilitação do realismo no debate teórico, é possível observar<br />

uma tendência de “retorno ao real” na produção audiovisual mundial, inaugurada,<br />

a partir de meados dos anos 1990, por movimentos como o Dogma 95 na<br />

Dinamarca, o cinema iraniano e o cinema em língua chinesa de, entre outros,<br />

14 HANSEN, Miriam Bratu. “Introduction”. In: KRACAUER, Siegfried. Theory of<br />

Film: The Redemption of Physical Reality. Princeton: Princeton University Press,<br />

1997.<br />

15 DOANE, Mary Ann. “The Object of Theory”. In: MARGULIES, Ivone (Org.). Rites<br />

of Realism: essays on corporeal cinema. Durham e Londres: Duke University<br />

Press, 2003. p. 80-89<br />

16 MARGULIES, Ivone (Org.). Rites of Realism: essays on corporeal cinema.<br />

Durham e Londres: Duke University Press, 2003.<br />

17 ZUPANCIC, Alenka. Ethics of the Real: Kant, Lacan. Londres: Verso, 2000.<br />

18 MCGOWAN, Todd. The Real Gaze: Film Theory after Lacan. New York: State<br />

University of New York Press, 2007; ŽIŽEK, Slavoj. Welcome to the Desert of the<br />

Real. Londres: Verso, 2002.<br />

19 NAGIB, Lúcia. World Cinema and The Ethics of Realism. Nova York e Londres:<br />

Continuum, 2011.<br />

18 REALISMO FANTASMAGÓRICO

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!