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Volume 7 - Realismo Fantasmagórico

Realismo Fantasmagórico

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ação obstinada comum. A intensidade da crença somente parcialmente coincide<br />

com a força da convicção. O que importa aqui é como um valor é introduzido<br />

no mundo ou, em outras palavras, como um determinado modo de existência<br />

é intensificado e levado ao seu limite criativo. Acreditar no mundo então é imperceptivelmente<br />

ativo e passivo; é contemplar – e ser contraído.<br />

Crença, compreendida em termos mecânicos, envolve um senso de corte<br />

e ruptura ativo que nutre uma relação viva com o possível. Para William James<br />

e a tradição pragmática, crença é uma disposição para ação. A região obscura<br />

da nossa força de agir vai além do que sabemos dela. O indeterminado e desconhecido<br />

são o ambiente natural da nossa crença e prática, quer dizer: da<br />

perspectiva da crença, o que importa não é muito os limites do nosso conhecimento,<br />

mas a afirmação e ativação de novos modos de existência, apesar da<br />

ausência de certeza.<br />

Acreditar no mundo está ligado à emergência ativa do novo e é sempre<br />

“local”, ligado a uma situação definida, prática. Ou mais diretamente: alguém<br />

jamais acredita no mundo “em geral.” Num diálogo com Toni Negri, Deleuze<br />

afirma esta ideia da seguinte maneira: “Se você acreditar no mundo você precipita<br />

eventos, embora imperceptíveis, que fogem do controle; você produz<br />

novos espaços-tempos, embora sua superfície e volume sejam pequenos. Nossa<br />

habilidade de resistir ao controle, ou nossa submissão a ele, deve ser avaliada a<br />

nível de cada movimento.” 34 Acreditar no mundo é, consequentemente, participar<br />

ativamente na produção de rupturas internas e frestas através das quais<br />

o possível pode chegar a existir. O que importa aqui é como acreditar envolve<br />

uma implicação imanente no mundo e a produção de um modo específico de<br />

existência, como oposto à aplicação de um conteúdo transcendente de verdade<br />

ou crença.<br />

Se crença como poder generoso e expansivo obviamente envolve uma<br />

parte de investimento subjetivo, o que realmente importa para Deleuze e Guattari<br />

é como a crença nos coloca em contato com forças afetivas e perceptivas<br />

intensas que não simplesmente pertencem a nós. Ou então, como Maurizio<br />

Lazzarato explica, “estas nos permeiam e ao mesmo tempo produzem uma<br />

mudança e expansão de ‘consciência’ e, consequentemente, aumentam nossa<br />

‘habilidade de agir’.” 35 A ideia de animismo mecânico avança um passo na<br />

34 DELEUZE, Gilles. Negotiations. Nova York: Columbia University Press, 1995. p.<br />

176.<br />

35 LAZZARATO, Maurizio. “From Knowledge to Belief, from Critique to the<br />

Production of Subjectivity”. European Institute for Progressive Policies, 2008.<br />

304 REALISMO FANTASMAGÓRICO

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