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Volume 7 - Realismo Fantasmagórico

Realismo Fantasmagórico

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ir para casa. Apichatpong, porém, aparece em quadro e pede mais uma tomada<br />

para a cena: novo adiamento do fim. Inclusive depois de surgirem os créditos<br />

finais, uma nova cartela aparece sobre fundo preto com o texto “de tarde”; e aí<br />

outra sequência se inicia (esta sim a sequência final do filme). Começos e finais<br />

se acumulam, adiam-se e repetem-se.<br />

Algo de similar encontraremos nos três longas subsequentes de Apichatpong<br />

em sua forma bipartida, fraturada ao meio. Diferentemente de Objeto<br />

misterioso ao meio-dia, em que acompanhamos diversas viradas na narrativa,<br />

os próximos filmes serão explicitamente divididos em duas partes. Eternamente<br />

sua (Sud Sanaeha, 2002) opera tal divisão a partir da inserção dos créditos<br />

iniciais após 45 minutos do início do filme, dividindo a narrativa em um antes<br />

– quando os personagens do filme estão às voltas com problemas burocráticos<br />

na cidade – e um depois – quando, ao contrário, estarão entregues a um idílio<br />

sexual na floresta. 4 A fratura, contudo, não significa uma reestruturação completa<br />

do filme, mas um desvio em sua trama, que segue a linearidade do percurso<br />

que já vinha traçando, acompanhando seus três personagens principais:<br />

Min, um imigrante birmanês 5 , Roong, sua namorada, e Orn, uma mulher mais<br />

velha que forma um estranho e jamais consumado triângulo amoroso com eles.<br />

Em Mal dos trópicos (Sud Pralad. 2004), o dispositivo da fratura atinge um<br />

ponto mais incômodo e desconcertante. A primeira metade apresenta cenas<br />

do romance entre o camponês Tong e o soldado Keng, do momento em que se<br />

conhecem até a estranha separação dos dois, quando Tong, à noite, ao pé de<br />

um poste de luz, afasta-se de Keng e caminha até desaparecer na escuridão. A<br />

segunda metade do filme apresenta um novo título (Um caminho do espírito) e<br />

abandona o registro cotidiano mais solar da primeira parte para adentrar um<br />

universo fantástico noturno em que um soldado (interpretado pelo mesmo ator<br />

que fizera Keng) caça um “tigre” polimorfo (interpretado pelo mesmo ator de<br />

Tong) em uma floresta habitada por fantasmas, macacos falantes e vaga-lumes<br />

4 A surpresa da entrada desses créditos durante projeção de Eternamente sua em<br />

Cannes fez com que alguns críticos se levantassem de seus lugares para reclamar<br />

que o projecionista havia invertido os rolos do filme (Cf QUANDT, James.<br />

“Resistant to bliss: describing Apichaptong Weerasethakul”. In: QUANDT, James<br />

(org.). Apichatpong Weerasethakul. Viena: Synema Publikationen, 2009. p. 49).<br />

5 A temática da fronteira e de imigrantes é recorrente na obra de Apichatpong.<br />

204 REALISMO FANTASMAGÓRICO

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