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Volume 7 - Realismo Fantasmagórico

Realismo Fantasmagórico

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dentro prédio, a própria imagem da Coreia e sua história de assassinato e<br />

desmembramento da família nacional.<br />

Enraizado no passado inescapável de seu trauma edipiano nacional, Sorum<br />

é um filme sóbrio e regressivo, fora de sintonia com o zumbido agudo<br />

da rede global pós-moderna das megalópoles em expansão, como a própria<br />

cidade, Seul, representou no mesmo ano em Cuide das minhas coisas (Chong<br />

Chaeun, 2001). Ao passo que Sorum está preso no lodo da história, alternando<br />

o passado com o presente como na luz de algum sinal de neon vistoso, Chong<br />

Chaeun representa o presente continuamente iluminado dos prédios de escritório,<br />

shoppings e clubes que formam o ambiente e a vida da maioria dos<br />

coreanos, alheios ao passado. Seul é mostrada se estendendo na direção de seu<br />

novo aeroporto em Incheon, ao longo de linhas ferroviárias de alta velocidade.<br />

O aeroporto já começa a invadir essa antiga cidade portuária, incorporando-a<br />

à grande Seul. Uma personagem retorna a Incheon para encontrar seu casebre<br />

em ruínas, e seus pais, praticantes de antigas tradições espirituais, também<br />

exterminados. Todos são varridos perante as forças da modernidade genérica.<br />

Chong Chaeun é sensível às diferentes velocidades em que suas quatro personagens<br />

femininas vivem. A narrativa, progressiva e felina, agilmente as segue<br />

desde um momento inicial de comunhão (a foto do grupo na graduação) até sua<br />

dispersão acelerada em trens, através de ligações de celular e finalmente, para<br />

duas delas, em um avião para fora do país.<br />

Comparado a Cuide das minhas coisas, Sorum parece pesado, sobrecarregado,<br />

vinculado e amordaçado por um passado horrível e inescapável. Alguém<br />

pode fazer uma leitura deste filme de fantasma como uma alegoria da obsessão<br />

pela memória nacional que surpreendeu o cinema coreano nos anos 1990, isso<br />

porque, com o objetivo de desestabilizar e assustar o espectador, como faz o<br />

gênero tradicionalmente, introduziu uma presença não desejada e reprimida<br />

que retorna da morte. O passado que paira sobre Cuide das minhas coisas, por<br />

outro lado, não tem espírito de ação e não é personificado. Apenas figurativamente<br />

este pode ser chamado de um filme de fantasma. No entanto, sem as<br />

memórias que sua geografia urbana evoca, o filme perderia seu significado e<br />

sua verve dramática.<br />

A meio caminho entre estes dois exemplos – um clássico conto de fantasma<br />

e o outro uma crítica social evocando um passado perdido – está um dos<br />

filmes mais notáveis do cinema novo coreano, A Single Spark (Pak Kwang-su,<br />

1995), um título que anunciou uma nova ambição para essa cinematografia.<br />

Esse filme, brava e deliberadamente, invocou uma personagem histórica e um<br />

CIdAdes fantasmas 121

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