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Volume 7 - Realismo Fantasmagórico

Realismo Fantasmagórico

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Então, à luz da posição perversamente provocadora adotada aqui por Tsai,<br />

podemos considerar seus comentários não como um repúdio da política sexual,<br />

mas como uma crítica precisa de estratégias representacionais particulares<br />

evocadas pela alcunha do “cineasta gay”. Os filmes de Tsai desafiam o espectador<br />

a olhar para além de uma política de representação fundada sobre as afirmações<br />

de uma identidade sexual essencial, sobre os poderes comprovativos<br />

do meio cinematográfico para representar diretamente uma autêntica perspectiva<br />

gay e transmitir a verdade da experiência gay. A necessidade de delinear a<br />

apresentação da sexualidade gay por Tsai em termos de um regime diferente<br />

de visibilidade é reforçada ainda pela ausência geral de personagens lésbicas e<br />

gays definidos sem ambiguidades nos trabalhos que sucedem esta trilogia - ou<br />

seja, O buraco, Que horas são aí?, Adeus, Dragon Inn, O sabor da melancia e Eu<br />

não quero dormir sozinho. As narrativas deste grupo posterior de filmes se baseiam<br />

principalmente nos pares de personagem homem-mulher, com alusões<br />

momentâneas para o desejo pelo mesmo sexo decorrentes, por exemplo, do<br />

beijo que a protagonista de Que horas são aí?, Shiang-chyi, dá em uma mulher<br />

com quem faz amizade enquanto está de férias em Paris, ou o homem anônimo<br />

que investe sexualmente sobre Hsiao Kang e expõe seus genitais no mesmo filme.<br />

10 Por esta razão, a recepção crítica de Tsai como diretor gay está em grande<br />

parte centrada em seus primeiros três filmes - especialmente em O Rio - cuja<br />

representação do desejo gay é a mais explícita e direta. 11<br />

10 Eu não quero dormir sozinho vale como uma exceção, dado o vínculo mais<br />

desenvolvido que se forma entre Hsiao Kang e Rawang, o trabalhador migrante<br />

de Bangladesh, que o alimenta para que ele recupere sua saúde após ter sido<br />

espancado por bandidos; Hsiao Kang se torna a ligação central num triângulo<br />

amoroso envolvendo Rawang e Shiang-chyi. Esse triângulo amoroso remete aos<br />

primeiros filmes de Tsai em que, como Yeh e Davis apontam, “mulheres fazem a<br />

mediação de impulsos sexuais consumados entre os protagonistas masculinos”.<br />

YEH, Emilie Yueh-yu; DAVIS, Darrell William. Taiwan Film Directors: A Treasure<br />

Island. Nova York: Columbia University Press, 2005. p. 221.<br />

11 Uma exceção a essa ênfase crítica é a análise de Weihong Bao de O sabor da<br />

melancia em “Biomechanics of Love”, que localiza a estranheza em modos de<br />

performance que separam as ligações entre a interioridade e a expressão externa,<br />

desejo e prazer. BAO, Weihong. “Biomechanics of love: reinventing the avantgarde<br />

in Tsai Ming-liang’s wayward ‘pornographic musical’”. Journal of Chinese<br />

Cinemas, n. 1, 2007. Para fornecer outro exemplo, ao discutir O rio, Fran Martin<br />

observa que o motivo de portas em obras cinematográficas e teatrais de Tsai,<br />

associadas com o “conhecimento ocluído da homossexualidade”, sugere leituras<br />

queer de filmes como O buraco em que não figuram relações homossexuais.<br />

o cinema ASSOMBRADO 155

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