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Volume 7 - Realismo Fantasmagórico

Realismo Fantasmagórico

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que não deixaram este mundo porque foram maltratados, assim, retornam para<br />

cá ou permanecem aqui. Como uma figura metafórica da violência colonial,<br />

eles podem expressar o sentimento de raiva e o desejo de vingança quase esquecido<br />

representando a experiência dos colonizados. 6<br />

Bliss Cua Lim se refere ao desfoque da evidente fronteira entre os períodos<br />

pré e pós-colonial, personificado pelas figuras fantasmagóricas, como<br />

“tempo espectral”. Para ela, o personagem fantasmagórico é um elemento temporal.<br />

Ele representa uma ruptura, uma confusão na ordem linear de desenvolvimento<br />

do tempo, associado à modernidade imposta pelo colonialismo<br />

Euro-americano (e japonês) ao mundo. Para o fantasma, não se trata somente<br />

do passado voltar ao presente, mas do passado e do presente coexistirem ao<br />

mesmo tempo. 7 Desta maneira, o trabalho de Lim ecoa fora do pensamento cinematográfico,<br />

relacionando-se com reflexões que também usaram a espiritualidade<br />

para reconsiderar o tempo moderno e seu subconjunto, o tempo colonial.<br />

Baseado no insight de Benjamin que afirma que a modernidade é caracterizada<br />

pelo choque do novo e por uma ruptura radical com o passado, Françoise<br />

Proust afirmou que a história aparece na modernidade como espectros que a<br />

assombram. 8 O livro The Spectre of Comparisons de Benedict Anderson usa a<br />

metáfora do fantasma para afirmar que a modernidade colonial é sempre assombrada<br />

pela cultura do colonizado. 9<br />

Certamente, há um intertexto cinematográfico próprio das produções<br />

taiwanesas e um contexto histórico que ajudam a posicionar os filmes de<br />

6 BERRY, Chris; SO-YOUNG, Kim. “‘Suri Suri Masuri’: The Magic of the Korean<br />

Horror Film: A Conversation”. In: Postcolonial Studies. Nova York, v. 3, no. 1.<br />

p. 53-60, 2000; YUE, Audrey. “Preposterous Hong Kong Horror: Rouge’s (be)<br />

hindsight and A (sodomitical) Chinese Ghost Story”. In: GELDER, Ken (Org.) The<br />

Horror Reader. Nova York: Routledge, 2000, p. 364-373; ZOU, John. “A Chinese<br />

Ghost Story: Ghostly Counsel and Innocent Man”. In: BERRY, Chris. Chinese<br />

Films in Focus: 25 New Takes. Londres: British Film Institute, 2003, p. 39-46.<br />

7 LIM, Bliss Cua. “Spectral Times: The Ghost Film as Historical Allegory”.<br />

Positions: East Asia Cultural Critique. Durgam: Duke University Press, 2001, v. 9,<br />

no. 2, p. 287-329.<br />

8 PROUST, Francoise. L’Histoire a Contretemps. Paris: Les Éditions du Cerf. 1994.<br />

9 ANDERSON, Benedict. The Spectre of Comparisons. Londres: Verso, 1998. Ver<br />

também CHEAH, Pheng. Spectral Modernity: Passages of Freedom from Kant to<br />

Postcolonial Literatures of Liberation. Nova York: Columbia University Press,<br />

2003.<br />

236 REALISMO FANTASMAGÓRICO

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