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Volume 7 - Realismo Fantasmagórico

Realismo Fantasmagórico

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transformações urbanas. Como exemplo dessa presença espiritual nas cidades<br />

cinematográficas do leste asiático, Andrew cita Casa vazia de Kim Ki-duk, previamente<br />

analisado por Elsaesser no capítulo 1, e Mal dos trópicos de Apitchatpong<br />

Weerasethakul, previamente analisado por Erly Vieira Jr. no capítulo 3.<br />

Abrindo a segunda parte do livro, dedicada ao que chamei de “realismo<br />

fantasmagórico” no cinema do leste asiático, temos o artigo de um dos artistas<br />

mais importantes da atualidade, o tailandês Apichatpong Weerasethakul, ele<br />

mesmo um dos maiores nomes dessa tendência cinematográfica contemporânea.<br />

Em “Fantasmas no Escuro”, o cineasta evoca suas memórias de infância<br />

e juventude em Khon Kaen, provindas de acontecimentos reais e também do<br />

próprio cinema. Ao fazê-lo, evoca igualmente a natureza essencialmente fantasmagórica<br />

de qualquer experiência cinematográfica, que acorda os mortos<br />

para fazê-los andar novamente. A sugestão de Apichatpong soa como uma impressão<br />

afetiva da definição recente sugerida por Laura Mulvey em Death 24x a<br />

Second: Stillness and the Moving Image 26 , no qual a autora sugere ser o cinema<br />

“a morte 24 quadros por segundo”, já que, na essência, o que testemunhamos<br />

no visionamento já aconteceu em outro momento, em outro tempo. Para Apichatpong,<br />

os cinemas são as cavernas pré-históricas da nossa era, incitando<br />

nosso instinto natural por adentrar essas salas escuras, nas quais fantasmas<br />

observam fantasmas.<br />

Alexandre Wahrhaftig, no capítulo 7, e May Adadol Ingawanij, no capítulo<br />

9, abordam o cinema de realismo fantasmagórico do diretor tailandês. Wahrhaftig<br />

lança um olhar arqueológico sobre a obra de Apichatpong, desde seu<br />

primeiro longa-metragem Objeto misterioso ao meio-dia (Dogfahr Nai Meu Marn,<br />

2000) até Tio Boonmee..., para sugerir que sua obra promove um entendimento<br />

do tempo que transcende uma dimensão horizontal de passado, presente e<br />

futuro. No lugar, o cineasta buscaria investigar a dimensão vertical da imagem,<br />

capaz de conter diversas temporalidades, também contidas nas suas estruturas<br />

fílmicas dominadas por fraturas que complicam constantemente o tempo<br />

narrativo linear. Wahrhaftig investiga ainda de que modo Apichatpong promove<br />

um cruzamento prolífico entre a espiritualidade budista e o conhecimento<br />

científico, sugerindo uma contaminação de mundos que atravessa toda a obra<br />

do cineasta.<br />

26 MULVEY, Laura. Death 24x a Second: Stillness and the Moving Image. Londres:<br />

Reaktion Books, 2006.<br />

26 REALISMO FANTASMAGÓRICO

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