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Volume 7 - Realismo Fantasmagórico

Realismo Fantasmagórico

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incomuns, engendrando um modo de observação no qual “os próprios olhos<br />

funcionam como órgãos do tato” 25 .<br />

Sob a influência da abordagem filosófica de Gilles Deleuze do cinema,<br />

que será discutida mais adiante, essas novas abordagens da espectatorialidade<br />

propuseram em grande medida substituir o espectador ideal e transcendental<br />

das abordagens psicanalíticas e semióticas por um espectador corporificado,<br />

aliado ao reconhecimento simultâneo dos prazeres sensórios intrínsecos ao visionamento<br />

fílmico. Em 2000, Vivian Sobchack, baseando-se na fenomenologia<br />

de Maurice Merleau-Ponty, atribuiu essa reviravolta teórica a uma insatisfação<br />

com a maneira que a identificação do “espectador” com o cinema tem sido<br />

constituída quase que exclusivamente como um processo especular e psíquico<br />

abstraído do corpo e mediado pela linguagem 26 .<br />

Paralelo a isso, novas teorias baseadas na acepção fundacional de Bazin<br />

sobre o realismo continuaram a prosperar. Morte e sexo na tela, eventos cuja<br />

representação Bazin considerava uma “obscenidade ontológica” 27 , bem como<br />

esforço físico e crueldade animal, ofereceram novas bases para teorizações sobre<br />

a fisicalidade no cinema. Ivone Margulies, por exemplo, elaborou sobre o<br />

que chamou de “cinema corpóreo”, ou seja, filmes que reproduzem a “urgência<br />

original” de um evento através da “sua associação próxima com a carnalidade<br />

do corpo e com a deterioração (...) realidades como rituais de possessão, sacrifício<br />

animal, tortura ou incapacidade física” 28 . Sobchack também analisou<br />

sob uma perspectiva espectatorial esse excesso físico, que do seu ponto de vista<br />

interrompe o investimento do espectador na diegese. Isto ela chama de “a<br />

carga do real”, um conceito que ela ilustra com a famosa cena da morte de um<br />

coelho em A regra do jogo (La Règle du jeu, 1939) de Renoir. Sobchack compara<br />

a qualidade física desta cena com a da morte de uma personagem de ficção no<br />

25 MARKS, Laura U. The Skin of the Film: Intercultural Cinema, Embodiment and<br />

The Senses. Durham: Duke University Press, 2000. p. 163.<br />

26 SOBCHACK, Vivian. “What My Fingers Knew: the Cinesthetic Subject, or Vision<br />

in the Flesh”. In: Senses of Cinema. 2000. Disponível em: http://sensesofcinema.<br />

com/2000/conference-special-effects-special-affects/fingers/. Acesso em: 20 out.<br />

2015.<br />

27 BAZIN, André. “Death Every Afternoon”. In: MARGULIES, Ivone (Org.). Rites of<br />

Realism: Essays on Corporeal Cinema. Durham: Duke University Press, 2003. p. 30.<br />

28 MARGULIES, Ivone. Nothing Happens: Chantal Akerman’s Hyperrealist Everyday.<br />

Durham: Duke University Press, 1996. p. 1.<br />

REALISMO DOS SENTIDOS 69

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