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Volume 7 - Realismo Fantasmagórico

Realismo Fantasmagórico

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O campo de força espiritual em torno deste local, sentido pelo boêmio<br />

Breton, o faz tremer com antecipação à medida que o presente encontra o passado<br />

revolucionário de Paris. Cineastas desde Feuillade a Olivier Assayas pediram<br />

a seus atores que atuassem em locais parisienses carregados de energia<br />

magnética. Rememore Irma Vep (1996): temos não apenas Maggie Cheung nos<br />

telhados da cidade, mas também Jean-Pierre Léaud, espectro da nouvelle vague,<br />

que desaparece no final e deixa para trás apenas o celuloide cuja superfície foi<br />

totalmente arranhada.<br />

Assayas pessoalmente fez a passagem de uma modernidade europeia<br />

cansada para a juventude cinemática da pós-modernidade asiática. 8 Os filmes<br />

de ação hipercinéticos de Hong Kong, alguns deles com a participação de Maggie<br />

Cheung, rapidamente engendraram um gênero-sombra. Permita-nos tratar<br />

o filme de fantasma asiático como esta sombra ou o lado oculto dos filmes da<br />

pós-modernidade urbana. Se Maggie Cheung escala os telhados de Paris em<br />

Irma Vep, é somente porque ela emergiu dos bueiros e profundezas anônimas<br />

de Hong Kong. À primeira vista alguém poderia querer opor os gêneros um<br />

contra o outro. Ao contrário do brilho “disco” e do vidro espelhado de tantos<br />

filmes pós-modernos, estórias de fantasma mais frequentemente emergem do<br />

passado rural e, como um amante abandonado, levam terror a qualquer pessoa<br />

que se aventura em seu espaço. Este padrão domina os exemplos asiáticos mais<br />

notórios, como se sua configuração rural compensasse a anomia da existência<br />

estatística que se tornou o futuro para a maioria dos imigrantes das megacidades.<br />

O chamado (1998), o indefectível grande sucesso e parâmetro do gênero,<br />

começa em Tóquio, centro da informação, a partir da qual repórteres viajam<br />

para investigar o fenômeno paranormal ocorrendo na península de Izu: um<br />

fantasma borbulha de um poço coberto pela arquitetura turística espalhafatosa<br />

e aterroriza convidados desavisados que aparecem neste espaço sagrado,<br />

conectado com o magma do passado. Isto segue o modelo estabelecido pelo<br />

exemplo ocidental mais sublime, Nosferatu (Murnau, 1922), no qual a morte<br />

viaja da remota Transilvânia para entrar despercebidamente no porto de Bremen<br />

e contaminar a cidade com a praga. Em O chamado, o câncer espalha-se<br />

mais insidiosamente ao longo de uma rede autoativada que irá inevitavelmente<br />

8 Em 1983 Assayas visitou o festival de cinema de Hong Kong e começou a<br />

festejar o cinema asiático, relatando isso para a Cahiers du Cinéma (edição<br />

especial, setembro de 1984). Como cineasta, retornou diversas vezes à Ásia, e<br />

frequentemente com Maggie Cheung, com quem casou em 1991.<br />

CIdAdes fantasmas 117

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