Fides 18 N2 - Revista do Centro Presbiteriano Andrew Jumper
Revista Fides Reformata 18 N2 (2013)
Revista Fides Reformata 18 N2 (2013)
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
FIDES REFORMATA XVIIi, Nº 2 (2013): 9-31<br />
A Criação não é produto <strong>do</strong> acaso ou de uma enorme coincidência de mistura<br />
de gases, antes foi produzida pelas mãos de Deus. Deus pôde contemplar a<br />
sua Criação e se deleitar nas obras de suas mãos. 68 O salmista também contempla<br />
extasia<strong>do</strong> a Criação: “Quan<strong>do</strong> contemplo os teus céus, obra (hf,[]m;) (ma`aseh)<br />
<strong>do</strong>s teus de<strong>do</strong>s, e a lua e as estrelas que estabeleceste (...). Deste-lhe <strong>do</strong>mínio<br />
sobre as obras (hf,[]m;) (ma`aseh) da tua mão e sob seus pés tu<strong>do</strong> lhe puseste”<br />
(Sl 8.3,6). Em outro lugar: “Em tempos remotos, lançaste os fundamentos da<br />
terra; e os céus são obra (hf,[]m;) (ma`aseh) das tuas mãos” (Sl 102.25).<br />
O profeta reconhece que somos produto da vontade de Deus: “Mas agora,<br />
ó Senhor, tu és nosso Pai, nós somos o barro, e tu, o nosso oleiro; e to<strong>do</strong>s nós,<br />
obra (hf,[]m;) (ma`aseh) das tuas mãos” (Is 64.8).<br />
Surpreendentemente, desde a Criação o homem foi coloca<strong>do</strong> numa posição<br />
acima das outras criaturas, caben<strong>do</strong>-lhe o <strong>do</strong>mínio sobre os outros seres<br />
cria<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> abençoa<strong>do</strong> por Deus com a capacidade de procriar (Gn 1.22). 69<br />
Charnock (1628-1680) 70 observa que o fato da Criação de Deus ter em<br />
si a capacidade de se propagar conforme a ordem divina – “Sede fecun<strong>do</strong>s,<br />
multiplicai-vos e enchei as águas <strong>do</strong>s mares; e, na terra, se multipliquem as<br />
aves” (Gn 1.22) – revela o poder <strong>do</strong> Cria<strong>do</strong>r. Deus por sua Palavra cria o mun<strong>do</strong><br />
e, segun<strong>do</strong> o exercício deste mesmo poder, capacita as suas criaturas a se<br />
propagarem, tornan<strong>do</strong> “o ser humano como co-cria<strong>do</strong>r cria<strong>do</strong>”. 71<br />
Como indicativo da posição elevada em que o homem foi coloca<strong>do</strong>, o<br />
Cria<strong>do</strong>r compartilha com ele – abençoan<strong>do</strong> e capacitan<strong>do</strong>-o 72 – o poder de<br />
nomear os animais – envolven<strong>do</strong> neste processo inteligência e não arbitrariedade<br />
73 –, e também de dar nome à sua mulher (Gn 2.19,20,23; 3.20).<br />
E mais: Deus delega-lhe poderes para cultivar (db;[]) (‘abad) (lavrar,<br />
servir, trabalhar o solo) e guardar (rm;v') (shamar) (proteger, vigiar, manter as<br />
68 Ver: Veith, Jr., Gene Edward. De to<strong>do</strong> o teu entendimento. São Paulo: Cultura Cristã, 2006,<br />
p. 115-117.<br />
69 “Embora aos homens seja de natureza infundi<strong>do</strong> o poder de procriar, Deus quer, entretanto, que<br />
seja reconhecida a Sua graça especial que a uns deixa sem progênie, a outros agracia com descendência,<br />
pois que dádiva Sua é o fruto <strong>do</strong> ventre” (Sl 127.3). (CALVINO, As Institutas, I.16.7).<br />
70 Charnock, S. Discourses upon the existence and attributes of God. 9ª ed. Grand Rapids:<br />
Baker, 1989, Vol. II, p. 47ss.<br />
71 Devo esta expressão ao teólogo luterano Philip J. Hefner. No entanto, deve ser observa<strong>do</strong> que<br />
o autor emprega a expressão numa acepção distinta da minha (Ver: HEFNER, Philip J. A Criação. In:<br />
BRAATEN, Carl E.; JENSON, Robert W. (Orgs.). Dogmática cristã. São Leopol<strong>do</strong>, RS: Sinodal, 1990,<br />
Vol. I, p. 327).<br />
72 Ver: Van Groningen, Revelação messiânica no Velho Testamento, p. 97.<br />
73 É muito interessante a abordagem deste exercício de Adão analisa<strong>do</strong> pelo campo da semiótica.<br />
Ver: ECO, Umberto. A busca da língua perfeita na cultura européia. 2ª ed. Bauru, SP: EDUSC, 2002,<br />
p. 25ss.<br />
25