Fides 18 N2 - Revista do Centro Presbiteriano Andrew Jumper
Revista Fides Reformata 18 N2 (2013)
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FIDES REFORMATA XVIIi, Nº 2 (2013): 75-98<br />
padres da Congregação <strong>do</strong> Oratório vantajosamente substituiriam como educa<strong>do</strong>res<br />
os jesuítas expulsos”. 27<br />
Para olhos de pesquisa<strong>do</strong>res mais argutos,<br />
há na cultura lusíada duas tendências que de certa forma se contrabalançam ou<br />
se completam: uma ligada à Metafísica <strong>do</strong> ser, à tradição aristotélico-tomista, e<br />
que encontra nos conimbricenses a sua mais alta expressão; a outra, de caráter<br />
empírico-positivo, preocupada com os problemas <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> e da ação prática.<br />
À primeira corrente pertencem os grandes comentários de Pedro da Fonseca, In<br />
libros metaphysicorum Aristotelis, publica<strong>do</strong>s em 1578; à segunda corresponde<br />
o admirável Quod nihil scitur de Francisco Sanches, de 1581. 28<br />
Com o advento de Pombal, 29 o Oratório ganhou ainda maior impulso:<br />
“D. João V prestou a esta congregação extrema proteção”. Sem a ajuda dessa<br />
congregação, o triunfo das novas ideias teria si<strong>do</strong>, se não impossível, muito<br />
demora<strong>do</strong> no século XIX e sem o alcance que teve. E graças a ele conseguiram<br />
reformar até os Estu<strong>do</strong>s da Universidade de Coimbra, 30 em 1772, quan<strong>do</strong><br />
triunfou o sistema jansênico-galicano. Os livros de formação da juventude,<br />
eclesiástica ou laica, passaram a ser antirromanos: “Eram jansenistas e protestantes<br />
na grande maioria os autores prediletos”. 31<br />
Erasmo, Malebranche, Lutero, Montaigne com o seu ceticismo devasta<strong>do</strong>r, toda<br />
uma coorte de humanistas da Reforma, estão na raiz de um questionamento das<br />
tradicionais estruturas religiosas e teológicas. Era o livre-exame em vigência.<br />
E, por seu intermédio, se desenvolveria to<strong>do</strong> o espírito liberal. É copiosa a literatura<br />
de filosofia política realçan<strong>do</strong> os pressupostos protestantes, puritanos,<br />
de extração reformista, <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> liberal. O jansenismo tem raízes na Reforma,<br />
na concepção <strong>do</strong> homem, <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, que dela deriva. 32<br />
27 CHACON, Jansenismo e galicanismo no Brasil, p. 272.<br />
28 Cf. REALE, Miguel. A filosofia em São Paulo. São Paulo: Grijalbo/Editora da Universidade<br />
de São Paulo, 1976, p. 13.<br />
29 Para entender melhor Pombal e suas reformas, ver: SOARES, Teixeira. O Marquês de Pombal.<br />
Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1983.<br />
30 “Assim, a Reforma universitária pombalina empreende em larga escala a missão de recuperação<br />
e de prolongamento da tradição científica lusa, com o embasamento <strong>do</strong> empirismo. Eis um empirismo,<br />
que não é leva<strong>do</strong> às últimas consequências, tal como em Hume, Locke mesmo é recebi<strong>do</strong> nas entrelinhas.<br />
É um empirismo que tem o seu eixo na Física, e com Newton exalta<strong>do</strong> ao máximo. E nem se separa<br />
Física de Filosofia, como se registrou na constituição <strong>do</strong> currículo da Faculdade de Filosofia nascida da<br />
Reforma <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s universitários.” Cf. MONTENEGRO, João Alfre<strong>do</strong> de S. O contexto da reforma<br />
pombalina da universidade portuguesa. <strong>Revista</strong> Brasileira de Filosofia, v. 26, n. 103, julho-setembro<br />
1976, p. 336.<br />
31 CHACON, Jansenismo e galicanismo no Brasil, p. 273.<br />
32 MONTENEGRO, O contexto da reforma pombalina da universidade portuguesa, p. 333.<br />
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