Fides 18 N2 - Revista do Centro Presbiteriano Andrew Jumper
Revista Fides Reformata 18 N2 (2013)
Revista Fides Reformata 18 N2 (2013)
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
FIDES REFORMATA XVIIi, Nº 2 (2013): 75-98<br />
A igreja a tu<strong>do</strong> presente, desde os primeiros missionários que aqui se estabeleceram,<br />
procurava encurtar a cada instante suas diferenças como o esta<strong>do</strong><br />
português. A relação visceral entre esta<strong>do</strong> e igreja foi por muitos séculos uma<br />
das marcas mais significativas <strong>do</strong> Brasil. 5<br />
Por outro la<strong>do</strong>, deixan<strong>do</strong> o esta<strong>do</strong> português momentaneamente à parte e<br />
concentran<strong>do</strong>-se na igreja, há de se observar que essa instituição estava longe<br />
de ser uma unidade. Ressalta-se essa fragmentação principalmente no fim <strong>do</strong><br />
século XVIII e ao longo de to<strong>do</strong> o século XIX.<br />
O clero, que era a base dessa igreja, por sinal ignora<strong>do</strong> por grande parte<br />
<strong>do</strong>s estudiosos, constitui-se no caso brasileiro quase que em uma instituição<br />
isolada, com divisões e subdivisões, das mais importantes para o entendimento<br />
da composição e desenvolvimento da sociedade brasileira. 6 É possível, sem<br />
correr riscos, pensar em clero no plural. Isto se justifica, pois um era o comportamento<br />
<strong>do</strong> clero composto por portugueses e outro, muito diferente, o <strong>do</strong><br />
clero composto por nacionais. Apesar da grande influência <strong>do</strong>s jesuítas sobre<br />
os nacionais, estes, a partir <strong>do</strong> século XVIII, “tornaram-se uma força política<br />
quase maciçamente insurreta”. 7<br />
A igreja, que deitava raízes cada vez mais profundas no solo da colônia<br />
brasileira, primava pela unidade das suas múltiplas sociedades, congregações,<br />
ordens e paróquias. Deveria, se necessário, pagar um alto preço, desde que<br />
não ocorressem rupturas. Mas como conseguir esta unidade diante de tantos e<br />
diferentes interesses: ora da igreja, ora <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, ora de Roma, e que às vezes<br />
eram individuais e em outros momentos coletivos?<br />
Por padroa<strong>do</strong> ou regalismo entende-se o gerenciamento <strong>do</strong> rei sobre a<br />
instituição religiosa. As origens <strong>do</strong> padroa<strong>do</strong> são remotas e diversificadas. Ao<br />
tratar <strong>do</strong> padroa<strong>do</strong> em Portugal, deve se levar em consideração os muitos favores<br />
que essa nação, isolada no extremo da Península Ibérica, prestou ao Ocidente.<br />
As grandes invasões bélicas de africanos, árabes, mulçumanos e turcos contra<br />
o Ocidente ocorreram pelos caminhos de Portugal e Espanha. As duas nações,<br />
que segun<strong>do</strong> a história nunca se deram bem, tiveram que unir forças em muitas<br />
ocasiões para que não ocorressem desastres sobre o mun<strong>do</strong> ocidental.<br />
Este determinismo geográfico que caracteriza a Península Ibérica,<br />
colocan<strong>do</strong>-a a poucos quilômetros da África, transformou esses ambientes em<br />
caminho mais curto para as aspirações de senhores de outros mun<strong>do</strong>s. Portugal<br />
5 Ver MAINWRING, Scott. Igreja Católica e política no Brasil: 1916 – 1985. São Paulo: Brasiliense,<br />
2004.<br />
6 Ver a importante obra: SILVA, Dom Duarte Leopol<strong>do</strong> e. O clero e a independência. São Paulo:<br />
Edições Paulinas, 1972.<br />
7 ROMERO, Abelar<strong>do</strong>. Heróis de batina – pequena história <strong>do</strong> clero católico no Brasil. Rio de<br />
Janeiro: Conquista, 1972, p. 15.<br />
79