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edição de 14 de novembro de 2016

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LA Times, badalada como a única<br />

que acertou, previam 3 pontos<br />

<strong>de</strong> vantagem para Trump no<br />

voto popular – mas o republicano<br />

per<strong>de</strong>u no voto popular. Um<br />

dos especialistas em estatística<br />

americanos, Nate Silver, previu<br />

que Hillary Clinton teria 71% <strong>de</strong><br />

chances <strong>de</strong> vitória.<br />

Até a Associação Americana<br />

<strong>de</strong> Pesquisa <strong>de</strong> Opinião Pública<br />

admitiu publicamente estar analisando<br />

o que po<strong>de</strong> ter levado aos<br />

equívocos. “As pesquisas claramente<br />

erraram. Embora Hillary<br />

tenha vencido no voto popular,<br />

sua margem foi muito menor do<br />

que os 3% ou 4% previstos nas<br />

pesquisas. E muitas pesquisas<br />

em estados superestimaram o<br />

nível <strong>de</strong> suporte a Hillary. Como<br />

fizemos em diversas eleições,<br />

convocamos um painel <strong>de</strong> especialistas<br />

para conduzir uma análise<br />

post-hoc das pesquisas <strong>de</strong><br />

<strong>2016</strong>”, <strong>de</strong>clarou a associação em<br />

comunicado.<br />

O processo <strong>de</strong> eleições americanas<br />

é complexo, o voto não<br />

é obrigatório e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> inúmeros<br />

fatores para além da contagem<br />

final das urnas (on<strong>de</strong>, por<br />

sinal, Hillary venceu, ainda que<br />

por pouco), como a força dos <strong>de</strong>legados<br />

<strong>de</strong> cada estado, mas é no<br />

mínimo curioso que não se tenha<br />

previsto a vitória <strong>de</strong> Trump.<br />

Guardadas as <strong>de</strong>vidas proporções,<br />

fenômeno semelhante<br />

ocorreu em algumas capitais<br />

brasileiras nas últimas eleições<br />

municipais, a exemplo da vitória<br />

no primeiro turno do candidato<br />

João Doria Jr., na Prefeitura <strong>de</strong><br />

São Paulo. Po<strong>de</strong>riam ser estes<br />

indícios <strong>de</strong> enfraquecimento<br />

dos métodos mais tradicionais<br />

<strong>de</strong> que se valem os institutos <strong>de</strong><br />

pesquisas na área política?<br />

cuidado<br />

Fábio Gomes, do Instituto Informa,<br />

afirma que o complexo<br />

processo eleitoral dos EUA nem<br />

sempre é tratado com o <strong>de</strong>vido<br />

cuidado pelos institutos <strong>de</strong> pesquisa<br />

que utilizam, em média,<br />

amostras com cerca <strong>de</strong> 3 mil<br />

entrevistas. “Para avaliação da<br />

opinião pública geral, é uma boa<br />

amostra. No entanto, para o instituto<br />

ser preciso na projeção nacional,<br />

é fundamental ser preciso<br />

também nas projeções estaduais<br />

– afinal, é a vitória em cada estado<br />

que <strong>de</strong>termina os votos dos<br />

<strong>de</strong>legados para a câmara dos representantes.<br />

Com uma amostra<br />

<strong>de</strong> 3 mil entrevistas não é possível<br />

alcançar projeções seguras<br />

Material <strong>de</strong> campanha dos então candidatos, Hillary Clinton e Donald Trump, à Casa Branca<br />

“o Problema<br />

está na<br />

Projeção feita<br />

a Partir dos<br />

resultados das<br />

Pesquisas. em<br />

toda Projeção é<br />

Preciso assumir<br />

algumas<br />

Premissas”<br />

em cada um dos 50 estados. Os<br />

erros nas projeções nos estados<br />

promovem os maiores equívocos<br />

nos resultados <strong>de</strong> pesquisas nacionais<br />

nos EUA. Seria necessária<br />

uma amostra superlativa em<br />

microtendências estaduais, assim<br />

as chances <strong>de</strong> acerto seriam<br />

maiores”, avalia.<br />

Segundo ele, no caso americano,<br />

além da complexida<strong>de</strong> das regras<br />

do jogo das eleições, a base<br />

do eleitorado é muito vulnerável.<br />

Com voto facultativo, e variados<br />

segmentos eleitorais, os métodos<br />

<strong>de</strong>vem ter inúmeros mecanismos<br />

<strong>de</strong> cálculo da amostra e controle<br />

dos processos <strong>de</strong> apuração. E<br />

sugere que os institutos americanos<br />

mu<strong>de</strong>m a projeção dos resultados<br />

dos índices <strong>de</strong> intenção<br />

geral para projeção <strong>de</strong> <strong>de</strong>legados<br />

<strong>de</strong> cada candidatura. “Remissão<br />

para os erros dos institutos somente<br />

haverá com outra eleição.<br />

Os institutos americanos ainda<br />

sofrerão pesadas críticas nas próximas<br />

semanas. E os argumentos<br />

dos erros voltarão a ser usados<br />

pelo segundo colocado nas pesquisas<br />

daqui a quatro anos. Berço<br />

das pesquisas eleitorais no<br />

mundo, com os inspiradores Paul<br />

Lazarsfeld e Robert Merton, os<br />

Estados Unidos são uma vitrine<br />

para o mundo e, por isso, o episódio<br />

tem potencial para promover<br />

algum estrago para o setor e<br />

levantar contestações no Brasil<br />

também. Mas po<strong>de</strong> haver remissão<br />

na próxima eleição”, diz Gomes.<br />

Márcia Cavallari, CEO do Ibope<br />

Inteligência, afirma que nos<br />

EUA as pesquisas mostravam a<br />

disputa apertada com diferenças<br />

entre os dois <strong>de</strong>ntro das margens<br />

<strong>de</strong> erro. “O problema está na projeção<br />

feita a partir dos resultados<br />

das pesquisas. Em toda projeção<br />

é preciso assumir algumas premissas<br />

e elas po<strong>de</strong>m não ter sido<br />

as mais a<strong>de</strong>quadas para a conjuntura<br />

da eleição americana. Lá não<br />

há obrigatorieda<strong>de</strong> do voto, por<br />

isso é preciso prever o perfil do<br />

eleitor que está disposto a votar<br />

com base em históricos passados<br />

e neste ano po<strong>de</strong> ter sido diferente”,<br />

analisa.<br />

Márcia lembra que as pesquisas<br />

não são infalíveis, pois seus<br />

resultados não representam números<br />

exatos, mas sim estimativas.<br />

Mostram tendências, mas<br />

não projetam o futuro.<br />

adamkez/iStock<br />

Já Zilda Knoploch, CEO da<br />

Enfoque Pesquisa, acredita que<br />

po<strong>de</strong> ter ocorrido uma falha <strong>de</strong><br />

representativida<strong>de</strong> do país nas<br />

pesquisas, o que contribuiu para<br />

o erro nas projeções, pois as pesquisas<br />

<strong>de</strong> intenção <strong>de</strong> voto em si<br />

não erraram, uma vez que Hillary<br />

venceu nas urnas. “Numa pesquisa<br />

existe uma margem <strong>de</strong> erro<br />

amostral, em geral <strong>de</strong> 2%, e esta<br />

colocaria o resultado como empate<br />

técnico. Trump fez intensa<br />

campanha até o dia da eleição em<br />

quatro a cinco estados consi<strong>de</strong>rados<br />

estratégicos e swing states,<br />

<strong>de</strong> on<strong>de</strong> veio a expressiva votação<br />

a seu favor. Parte da explicação<br />

vem <strong>de</strong>sta atuação no dia da<br />

eleição”.<br />

No caso das eleições americanas,<br />

Zilda afirma que a questão<br />

mais intrigante é por que uma<br />

pessoa como Trump, com uma<br />

pegada populista, <strong>de</strong> extrema<br />

direita, teve esta meteórica ascensão<br />

e vitória. “Parece haver<br />

uma ânsia <strong>de</strong> parte da população<br />

– aliás como aqui –, saturada<br />

da figura do político tradicional,<br />

seduzida por uma ‘celebrida<strong>de</strong>’,<br />

uma figura que grita, esbraveja,<br />

age fora do protocolo, faz baixarias,<br />

e consegue a i<strong>de</strong>ntificação<br />

<strong>de</strong> pessoas em geral frustradas<br />

com seus valores individualistas<br />

e ambições materiais. Trump<br />

representou a catarse que muitos<br />

gostariam <strong>de</strong> fazer e alguns<br />

só resolvem fuzilando pessoas.<br />

Outros ficam calados, mas vota-<br />

<br />

jornal propmark - <strong>14</strong> <strong>de</strong> <strong>novembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2016</strong> 17

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