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edição de 14 de novembro de 2016

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eyond the line<br />

Filipe Birck<br />

Ídolos?<br />

O que mais me incomoda é a<br />

ascensão <strong>de</strong> alguns tipos <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res<br />

Alexis Thuller PAgliArini<br />

Você tem um ídolo? Eu já tive fases <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> admiração por esportistas, artistas<br />

e lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> movimentos sociais. Hoje,<br />

continuo admirando alguns expoentes.<br />

Por jogar tênis, tenho gran<strong>de</strong> admiração<br />

– já fiz até selfie! – por Roger Fe<strong>de</strong>rer, para<br />

mim, um dos maiores <strong>de</strong> todos os tempos.<br />

Mas confesso que tenho gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r o surgimento <strong>de</strong> ídolos<br />

nestes novos tempos. Vejamos o fenômeno<br />

dos youtubers, por exemplo.<br />

De repente, começam a surgir, do nada,<br />

novos ídolos, capazes <strong>de</strong> conquistar milhões<br />

<strong>de</strong> seguidores com um conteúdo rasteiro<br />

e <strong>de</strong>spretensioso.<br />

São Kéferas, Felipes, JoutJouts, Japas,<br />

Christians e outros que acabam se projetando<br />

num universo formado por um público<br />

consumidor <strong>de</strong> meios circunscritos à<br />

tela <strong>de</strong> um celular ou computador.<br />

O marketing <strong>de</strong>scobriu esses novos ídolos,<br />

que já fazem parte <strong>de</strong> campanhas massivas,<br />

veiculadas pela TV. Aliás, a própria<br />

TV aberta se ren<strong>de</strong>u ao fenômeno e comprou<br />

o passe <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>les para tentar<br />

pegar carona nesse alcance entre os jovens.<br />

Esses novos ídolos já ostentam contas<br />

bancárias só comparáveis a cantores, atletas<br />

ou artistas consagrados.<br />

No mundo adulto, vemos também algo<br />

parecido. Filósofos menos herméticos fazem<br />

sucesso em posts <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s sociais e<br />

acabam se tornando referências para conversas<br />

e compartilhamentos.<br />

Alguns <strong>de</strong>sses filósofos mais pops já aparecem<br />

com frequência em eventos e na TV,<br />

com bom <strong>de</strong>staque. É o caso <strong>de</strong> Luiz Pondé,<br />

Mario Sérgio Cortella e do queridinho do<br />

momento: Leandro Karnal, ao qual se atribui<br />

um monte <strong>de</strong> citações pela web.<br />

Não sei se Aristóteles, Platão ou Sócrates<br />

foram gran<strong>de</strong>s ídolos do seu tempo. Mas os<br />

nossos web-filósofos têm sido capazes <strong>de</strong><br />

conquistar milhões <strong>de</strong> seguidores.<br />

Principalmente os pseudofilósofos teens,<br />

que <strong>de</strong>sandam a falar do comportamento<br />

humano e a dar conselhos, muitos<br />

<strong>de</strong>les sem qualquer fundamento.<br />

No campo da música, vemos também o<br />

surgimento <strong>de</strong> rappers e funkeiros que fazem<br />

fama no meio digital, muito antes <strong>de</strong><br />

aparecerem ao vivo em algum show. Eu<br />

mesmo tenho uma sobrinha (Lolla Dias)<br />

que se lança como cantora (por sinal, talentosa)<br />

e já tem centenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> fãs,<br />

arregimentados no meio da internet.<br />

São fenômenos <strong>de</strong>sses tempos, <strong>de</strong> onipresença<br />

da internet na vida <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong><br />

pessoas.<br />

Mas o que mais me incomoda é a ascensão<br />

<strong>de</strong> alguns tipos <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res, que acabam<br />

se tornando ídolos <strong>de</strong> incautos e vulneráveis.<br />

Refiro-me, por exemplo, ao sem número<br />

<strong>de</strong> pseudorreligiosos que invadiram o horário<br />

nobre da TV aberta para arrancar dinheiro<br />

em nome <strong>de</strong> um Deus, que é apenas<br />

um subterfúgio para enriquecer bispos <strong>de</strong><br />

araque, lobos em pele <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro, prontos<br />

para dar o bote em pessoas fragilizadas pelas<br />

agruras da vida.<br />

E como explicar a ascensão <strong>de</strong> um lí<strong>de</strong>r<br />

como Donald Trump no país supostamente<br />

mais <strong>de</strong>senvolvido do mundo?! Está certo<br />

que, no campo da política, temos exemplos<br />

históricos <strong>de</strong> ídolos questionáveis.<br />

Quantos e quantos compraram os conceitos<br />

abomináveis <strong>de</strong> Adolf Hitler, por<br />

exemplo? Mas temos também exemplos <strong>de</strong><br />

lí<strong>de</strong>res verda<strong>de</strong>iros, que encantaram uma<br />

geração.<br />

Eu mesmo, na minha juventu<strong>de</strong>, sabia<br />

<strong>de</strong> cor o histórico discurso “I have a dream”,<br />

do ativista pelos direitos dos negros<br />

americanos, ganhador <strong>de</strong> um Prêmio Nobel<br />

da Paz, Martin Luther King.<br />

Trazendo o tema para o nosso meio, do<br />

marketing, penso na associação <strong>de</strong> marcas<br />

a ídolos. Sei que existem plataformas prontas<br />

para facilitar o vínculo <strong>de</strong> novos ídolos<br />

a marcas. E fico na dúvida se essa facilida<strong>de</strong><br />

não po<strong>de</strong> gerar associações inverossímeis.<br />

Temos ótimos exemplos <strong>de</strong> marcas que<br />

foram construídas usando o recurso <strong>de</strong><br />

vínculo com ídolos e não vejo nada <strong>de</strong> errado<br />

nisso. Só me preocupa a banalização<br />

e um vínculo ina<strong>de</strong>quado, que po<strong>de</strong> fazer<br />

mais mal do que bem a uma marca.<br />

Alexis Thuller Pagliarini é superinten<strong>de</strong>nte<br />

da Fenapro (Fe<strong>de</strong>ração Nacional <strong>de</strong> Agências<br />

<strong>de</strong> Propaganda)<br />

alexis@fenapro.org.br<br />

jornal propmark - <strong>14</strong> <strong>de</strong> <strong>novembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2016</strong> 53

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