edição de 14 de novembro de 2016
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mundo digital<br />
LongQuattro/iStcock<br />
o negócio das startups<br />
e dos iPos - Parte i<br />
Nesta primeira parte, vamos lembrar <strong>de</strong><br />
alguns IPOs que <strong>de</strong>ram e não <strong>de</strong>ram certo<br />
Rafael Sampaio<br />
negócio digital tem características da<br />
O hiteconomy, na qual alguns vencedores<br />
ganham muito, mas a maioria oscila entre<br />
a mediocrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resultados e o fracasso.<br />
Outros setores <strong>de</strong> negócios, como o cinema<br />
e o show business, têm esse viés e os poucos<br />
sucessos são os emuladores do todo,<br />
pois o esforço é, evi<strong>de</strong>ntemente, o <strong>de</strong> mimetizar<br />
as fórmulas que dão certo. No caso<br />
do digital, há dois elementos que têm estimulado<br />
certo <strong>de</strong>scolamento da lógica habitual<br />
dos negócios e um excesso <strong>de</strong> aposta<br />
em um futuro não muito garantido, com<br />
sucessivas propostas disruptivas da or<strong>de</strong>m<br />
natural das coisas – como a oferta <strong>de</strong> serviços<br />
gratuitos ou a um valor inferior aos<br />
padrões do mercado.<br />
Esses dois elementos são os investimentos<br />
através <strong>de</strong> venture capital e dos IPOs,<br />
ambos com forte viés especulativo e uma<br />
boa dose <strong>de</strong> fator lotérico, pois se espera<br />
que o enorme sucesso <strong>de</strong> alguns casos<br />
compense as perdas em diversos outros.<br />
Isso leva a uma maior preocupação com o<br />
mercado financeiro do que com o mercado<br />
real por parte <strong>de</strong> muitas iniciativas do digital,<br />
estruturadas mais com o objetivo <strong>de</strong><br />
inovar e revolucionar do que aten<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />
forma consistente e lucrativa uma <strong>de</strong>manda<br />
dos consumidores. Em outros casos, fica<br />
evi<strong>de</strong>nte que se preten<strong>de</strong> absorver uma<br />
parte importante da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor <strong>de</strong> um<br />
setor, mas sem oferecer um “serviço” correspon<strong>de</strong>nte,<br />
ou seja, há o claro objetivo <strong>de</strong><br />
fazer o provedor do bem ou serviço trabalhar<br />
por um valor menor que vinha fazendo<br />
tradicionalmente ou <strong>de</strong> levar o próprio<br />
consumidor a oferecer alguma coisa por<br />
preço zero.<br />
Em coluna anterior, comentei que o digital<br />
está, em diversos casos, gerando uma<br />
ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “<strong>de</strong>s-valor”, prejudicando setores<br />
tradicionais sem necessariamente criar novas<br />
riquezas. Na próxima coluna abordarei<br />
o fenômeno dos start-upshiper valorizados.<br />
Nesta primeira parte, vamos lembrar<br />
<strong>de</strong> alguns IPOs que <strong>de</strong>ram e não <strong>de</strong>ram certo.<br />
O primeiro gran<strong>de</strong> sucesso do digital foi<br />
o AOL, em 1992, com IPO gerando US$ 11,5<br />
por ação, que chegou em 1999 ao pico <strong>de</strong><br />
US$ 90, fez a histórica fusão em 2000 com<br />
a Time Warner, negócio que não <strong>de</strong>u certo<br />
e levou à separação das duas em 2009. Mas<br />
a AOL terminou sendo vendida para a Verizon,<br />
em 2015, por US$ 50 a ação. Em 1996,<br />
a Yahoo! surpreen<strong>de</strong>u lançando sua IPO a<br />
54 cents por ação, que subiram para impressionantes<br />
US$ 1,375 no fim do primeiro<br />
dia, superando o valor <strong>de</strong> mercado da histórica<br />
General Motors. Mas o sonho terminou<br />
com a venda, em <strong>2016</strong>, por US$ 39,38 a<br />
ação, para a mesma Verizon.<br />
O Facebook viveu seus primeiros três<br />
anos <strong>de</strong> aplicações <strong>de</strong> venture capital. Em<br />
2012 seu muito esperado IPO estava previsto<br />
para captar US$ 45 por ação, que terminou<br />
sendo vendida por US$ 38,20 e uma semana<br />
<strong>de</strong>pois estava a US$ 26,80. Hoje está<br />
na faixa <strong>de</strong> US$ 120, principalmente graças<br />
aos resultados dos últimos anos. Em 2013,<br />
arrecadou um total <strong>de</strong> US$ 7,9 bilhões em<br />
receitas, contra US$ 5,08 bilhões <strong>de</strong> 2012.<br />
O lucro líquido alcançou US$ 1,5 bilhão em<br />
2013, ante os US$ 53 milhões <strong>de</strong> 2012, quase<br />
nada diante dos US$ 16 bilhões levantados<br />
no IPO. É a 5ª maior empresa <strong>de</strong> mídia do<br />
mundo (dados <strong>de</strong> 2015) e junto com o Google<br />
forma o duopólio que domina o digital,<br />
à custa do massacre <strong>de</strong> <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhares<br />
<strong>de</strong> operações digitais que patinam e<br />
tantas outras que nunca <strong>de</strong>colaram.<br />
O IPO do Google foi <strong>de</strong> US$ 100 por ação<br />
em 2005 - valia US$ 600, em 2012; US$ 800,<br />
em 20<strong>14</strong>; e estava na faixa <strong>de</strong> US$ 780, em<br />
outubro <strong>de</strong> <strong>2016</strong>. Foi a maior empresa mundial<br />
<strong>de</strong> mídia em 2015, com US$ 60 bilhões<br />
<strong>de</strong> receita, e talvez faça US$ 80 bi este ano,<br />
com previsão <strong>de</strong> US$ 20 bi <strong>de</strong> lucro. Mas<br />
está sob cerrado ataque <strong>de</strong> governos ao redor<br />
do mundo e até do G20, por evasão <strong>de</strong><br />
impostos, e começa a enfrentar processos<br />
para combater sua enorme concentração<br />
<strong>de</strong> mercado. É o megassucesso do digital,<br />
mas tem pés <strong>de</strong> barro, pela evasão fiscal,<br />
<strong>de</strong>sconfiança em relação a seu real impacto<br />
e “exploração” das <strong>de</strong>mais mídias.<br />
Rafael Sampaio é consultor em propaganda<br />
rafael.sampaio@uol.com.br<br />
48 <strong>14</strong> <strong>de</strong> <strong>novembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2016</strong> - jornal propmark