Diário do Legislativo de 18/12/2004

ou de quem quer que seja. Como já foi dito, tratamos de algo fundamental, de algo que mexe com todos. O esporte vai a todos os lugares,
inclusive aonde o Estado e a polícia não vão.
Precisamos realmente dar ao esporte essa dimensão que ele tem na prática e que, infelizmente, não é reconhecida formalmente pela
sociedade. Isso está mudando, graças a Deus, e esta reunião de hoje é um exemplo do que ocorre.
O esporte traz benefícios para qualquer um. Sou um dos beneficiários do esporte, e o que sou devo a ele. O que aprendi e consegui de
relacionamentos no esporte fez não só com que eu, mas também a minha família tivéssemos uma dimensão diferente do que é a sociedade. Só
o esporte consegue agregar tantos valores morais, de saúde e tantos outros. Não os mencionarei porque isso é chover no molhado. Todos
conhecem os benefícios que o esporte traz, mas, na hora em que realmente buscamos uma substância para que isso venha em favor do nosso
povo, não temos bem definida essa consistência.
Por isso, esta conferência é importante. Não sei se todos têm ciência do estatuto que está em discussão hoje. No dia em que ele for aprovado,
tudo o mais que havia, como a Lei Pelé e outras coisas, morre, acaba.
Após aprovado, esse estatuto será a bíblia de qualquer esporte no Brasil. Então, é muito importante que esse instrumento realmente seja
elaborado de forma consistente, para que atenda aos nossos anseios principais.
O tema de que devo falar é Desporto de Participação: Saúde, Lazer e Inclusão Social. O art. 89 da proposta define o desporto de participação
como aquele praticado de modo voluntário e assistemático, sem qualquer relação contratual ou remuneração, numa perspectiva de lazer. Diria
que não é o esporte de competição, de que participam os atletas federados e que engloba jogos oficiais ou olímpicos. Na verdade, é o esporte
que fazemos no dia-a-dia, de que gostamos, mas que, infelizmente, não está ao alcance de todos.
Hoje estou aqui na condição de Presidente do Conselho Superior Interclubes, órgão da Confederação Brasileira de Clubes. Para os senhores
terem uma idéia, o Brasil deve ter cerca de 12 mil clubes espalhados, de todos os naipes e tamanhos - na verdade, teremos esse número real
no início do ano que vem -, e, na Confederação Brasileira de Clubes, são cerca de 6.200 inscritos.
Esse conselho foi criado mais ou menos nos moldes do Clube dos Treze, do futebol, e é composto pelos 24 maiores clubes do Brasil. A sua
finalidade é exatamente trabalhar em benefício do segmento. De Minas Gerais, participam o Minas Tênis Clube e o Pampulha Iate Clube, de
Belo Horizonte, e o Praia Clube, de Uberlândia.
Nós, clubes, conhecemos a importância desse esporte de participação para os nossos associados. De acordo com um levantamento realizado,
cerca de 30 milhões de pessoas estão vinculadas a algum tipo de clube em nosso País. E os que não têm condição de ser sócios de clubes?
Esses estão fora.
Quando era garoto, costumava jogar futebol na rua. Lembro-me de que havia muitos campos de futebol espalhados por todos os cantos da
nossa cidade; porém, evidentemente, como Belo Horizonte cresceu, esses espaços foram se restringindo. Por isso, hoje, grande parte da
população não tem como fazer essa atividade de participação.
Os clubes já têm sua estrutura pronta, o investimento está feito. O Deputado Gilmar teve a gentileza de citar o Minas Tênis Clube. Orgulhamonos
disso, porque o Minas é - ou somos - um modelo para todo o País; mas causa-nos frustração saber que a grande maioria dos clubes está
cada dia restringindo mais as suas atividades, porque passam por dificuldades incrivelmente grandes. O Minas, por exemplo, não tem
adversário para competir dentro do próprio Estado.
Assim, o Ministro criou essa comissão do futebol, que já trouxe algumas soluções.
Também foi criada uma comissão, da qual participamos, especificamente para os clubes sociais esportivos. Buscamos maneiras de incrementar
novamente a atividade desses clubes.
Só para vocês terem uma idéia, já houve isenção de IPTU e INSS para os clubes; hoje, não há mais nada, principalmente em Belo Horizonte, e
muitos clubes vivem uma crise terrível. No Brasil, há 12 mil clubes. Como podemos utilizar essa estrutura em benefício da população que não
tem acesso ao clube? Pois isso não pode ser apenas a via de a mão só. O clube vai abrir suas portas a troco de quê? Tem de haver uma
compensação que estimule os clubes a participar de forma mais efetiva na utilização de sua estrutura pela comunidade.
Em nosso Estado são mais de 800 municípios, e existem apenas 200 praças públicas, que também cumprem esse relevante papel, mas
apresentando um déficit enorme.
A professora citou o problema das escolas que não possuem instalações para a prática de esporte. Já conversei com o Prof. Emerson sobre essa
questão do esporte educacional. Ele me disse que, às vezes, as coisas passam para o lado político, sem muito sentido. Dizem que o desporto
escolar tem de ser lúdico, não pode ter hipercompetitividade, só que quem pratica esporte não consegue fazê-lo se não houver competição.
Lógico que há vários níveis de competição. A própria educação não é uma competição? As notas não avaliam os alunos? Para mim, não faz
muito sentido. Temos de buscar a inclusão de todos, fazer com que todas as crianças participem das práticas esportivas. Dizer que o esporte
tem de ser apenas lúdico, como já escutei em algumas conferências, não dará resultado. Perguntei o que é esporte lúdico. A professora me deu
alguma explicação, mas perguntei se era pular corda, amarelinha... É uma filosofia que acredito não agregar nada ao esporte.
Uma das experiências mais gratificantes que tive como Secretário foi com os jogos escolares. Na época, o Comitê Olímpico Brasileiro e a Rede
Globo criaram a Olimpíada Esperança, que seria promovida pela Rede Globo, mas não seguiu nesse rumo. O Ministério do Esporte assumiu, e,
durante alguns anos, foram feitos esses jogos estudantis brasileiros. Lembro-me de que praticávamos esportes na escola, no meu tempo; mas
isso acabou, e até a Educação Física, durante certo tempo, já não era obrigatória. Começamos a desenvolver esse trabalho porque os jogos
escolares começavam no município, passavam para o nível estadual, depois, iam para a esfera federal. Competiam escolas privadas e públicas.
No começo, houve uma grande discussão, pois muitos achavam que a escola privada acabaria com a escola pública, por dispor de maior
receita. No fim, todo o mundo ficou igual. A competição passava pelo município, pelo Estado, até a escola ser campeã brasileira no tipo de
modalidade do qual participava.
A grande dificuldade que eu e o pessoal que trabalhava comigo sentimos no começo foi que, ao procurarmos as educadoras, as Diretoras de
Escola, elas nos diziam para não mexer com isso, pois iria dar muito trabalho, que não tinham estrutura, lugar de treinar nem como levar os
meninos depois da aula para casa.
Essa competição começou em 2000. No primeiro ano, em Minas Gerais, participaram 15 escolas públicas e 17 particulares. Começamos um
trabalho, fizemos seminários com a Secretaria de Educação, procurei o Secretário e tentamos motivá-lo, mostrando todo o trabalho. Em 2001,