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S. Tomé-- deram um contributo à plena valorização e afirmação do novo espaço que ganhou<br />
evidencia no império português. A Madeira assume um papel fundamental. Senão vejamos.<br />
Logo a partir de 1515 a presença madeirense é notada no transplante das socas de cana na<br />
Baía e S. Vicente (Santos), mas a presença é mais notória na economia açucareira brasileira a<br />
partir de meados do século XVI. Também a cultura da vinha no Brasil está ligada à Madeira,<br />
pois em 1532 Martin Afonso de Sousa terá conduzido as primeiras cepas madeirenses que<br />
foram plantadas em S. Vicente e depois a partir de 1551 avançaram para o interior na área<br />
que é hoje S. Paulo.<br />
A Madeira foi pioneira e ponto de partida para a expansão do cultivo da cana sacarina e<br />
fabrico do açúcar no espaço atlântico. Mas não se fica por aqui, alargando-se às ilhas da<br />
América Central. Note-se que muitos, afugentados do Nordeste brasileiro pelo ocupante<br />
holandês na década de trinta do século XVII, foram parar às Caraíbas onde promoveram a<br />
indústria. Foi, aliás, no período da ocupação holandesa do Pernambuco que se evidenciou de<br />
igual forma o protagonismo dos madeirenses através da defesa face à cobiça holandesa.<br />
Muitos madeirenses corresponderam à chamada para correr com o invasor, sendo o<br />
movimento chefiado por um outro madeirense, João Fernandes Vieira, conhecido como<br />
libertador de Pernambuco. São aqueles madeirenses que se haviam batido com bravura nas<br />
pelejas de defesa das praças marroquinas, de Angola ou na expansão e conquista do Índico,<br />
que agora na primeira linha da salvaguarda deste rincão do mundo colonial.<br />
O mesmo princípio orientará a presença de muitas famílias madeirenses e açorianas no Sul do<br />
vasto espaço brasileiro, dando origem às colónias de povoamento na ilha de Santa Catarina e<br />
litoral próximo. A actual cidade de Portalegre foi criada por iniciativa de um madeirense que<br />
conseguiu convencer um grupo de açorianos a avançar para o sertão. O movimento de<br />
colonização das terras do sul do Brasil, como forma de defesa da soberania face à cobiça<br />
castelhana animada pela guerra de fronteiras. Mais uma vez os insulares cumprem a missão<br />
de defesa de soberania nos mais recônditos espaços do império.<br />
Por tudo isto podemos afirmar com segurança que as ilhas não foram apenas contribuintes<br />
financeiras do processo que levou a cultura e soberania imperial portuguesa aos quatro cantos<br />
do mundo, mas também participantes activos do processo. Por isso muitos foram tragados<br />
pela fúria das ondas ou sucumbiram vítimas das doenças tropicais e muitos outros caíram no<br />
campo de batalha, para que tal como nos assinala o poeta, “fosse nosso o mar”.<br />
É evidente o contributo madeirense para a construção da sociedade brasileira. A riqueza<br />
propiciada pelo açúcar não escapa ao engenho e arte dos nossos antepassados. Mas esta<br />
dádiva espraia-se noutras acções de defesa do espaço nos séculos XVII e XVIII. <strong>As</strong> colónias<br />
de povoamento do sul, impropriamente designadas de açorianas são criadas com o esforço de<br />
aventureiros madeirenses e açorianos. <strong>As</strong> condições sócio-económicas de ambas as ilhas<br />
aliadas às questões políticas definiram a necessidade deste surto migratório incentivado pela<br />
coroa que conduziu ao extremo sul do vasto espaço brasileiro a presença açórico-madeirense.<br />
O testemunho disso é ainda visível em algumas tradições culturais que persistem.<br />
Se é certo que os ilhéus estiveram ausentes do “achamento” das terras da Vera Cruz a<br />
presença torna-se notada no percurso histórico que se seguiu e que levou ao descobrimento do<br />
Brasil. E a construção como espaço açucareiro ou dos bandeirantes em busca dos metais e<br />
pedras preciosas foi também fruto do sangue e suor de muitos insulares. <strong>As</strong> ilhas não ficaram<br />
alheias ao descobrimento e processo de construção do Brasil e por isso não podem ser<br />
esquecidas na actual comemoração.